Ideologia e Alienação
Fábio Souza C. Lima
Historiador e Filósofo, Especialista em Educação.
Professor do Instituto de Educação Carmela Dutra e do C. E. Olegário mariano
Todos conhecem a famosa fórmula de Karl Marx, que diz: “religião é o ópio do povo”, isto é, um mecanismo que vicia para fazer com que o povo aceite a miséria e o sofrimento sem se revoltar, acreditando que será recompensado na vida futura ou acreditando que tais dores são uma punição por erros cometidos numa vida anterior. Marx é um crítico ferrenho do uso histórico das religiões como ideologias formadas para a dominação do povo e, em sua obra Ideologia Alemã, esclarece as formas com as quais as ideologias são usadas para o controle social.
Passeatas, protestos, abaixo-assinados... nem pensar! Devemos ter esperança, como nas mensagens de televisão de todo fim de ano, de que tudo vai melhorar.

Podemos utilizar como exemplo de introdução de uma ideologia, a Revolução Francesa, quando o Antigo Regime (Sociedade de Estamentos – Nobreza, Clero e Plebe + Burguesia), ruiu diante de uma nova ideologia que pregava liberdade de comércio e igualdade jurídica para todos os homens, sendo incorporadas gradualmente pela população. A burguesia, através de comícios, dos meios de comunicação e das escolas que controlavam, passaram a introduzir essas idéias, bem como passaram a usar exemplos que denegriam o antigo regime, fazendo com que a população identificasse o Antigo Regime como algo ruim, de violência (simbólica e física) contra a população. Desde então, a classe burguesa chegou ao Poder e pôde fazer com que seus novos valores e idéias continuassem a vigorar, tal como ainda é nos dias de hoje.
Embora a ideologia tenha a aparência de algo racional e coerente como a ciência, como a tecnologia, como a filosofia, como a pedagogia, como uma explicação e como uma ação, isso ocorre apenas porque não diz tudo. E não diz tudo porque não pode dizer tudo. Se assim o fizesse, se quebraria por dentro. Ou seja, se nós conseguíssemos perceber a ideologia, sabendo até que ponto ela entra em nossas vidas e o que ela quer de nós, ela não mais faria efeito em nós. O que queremos dizer é que a ideologia tem por característica se esconder, aparentando ser um conjunto de idéias que sempre existiram, que não favorecem a ninguém, não ajudam a alguns a permanecer no Poder. As pessoas dominadas pelas ideologias não conseguem perceber que são dominadas e, frequentemente, não apenas servem a elas, mas também a defendem. Desta forma, as classes sociais dominadas continuam a crer que as coisas são como são, sem ter a menor possibilidade de mudança. Se, por outro lado, a dominação e a exploração de uma classe por outra classe for perceptível como violência (simbólica), isto é, como poder injusto e ilegítimo, os explorados e dominados se sentem no justo direito de recusá-la, revoltando-se contra os dominadores. Por este motivo, o papel específico da ideologia como instrumento da luta de classes é impedir que a dominação e a exploração sofridas pelos dominados sejam percebidas em sua realidade concreta. Trata-se também de um disfarce.

A ideologia é, pois, um instrumento de dominação de classe e, como tal, sua origem é a existência da divisão da sociedade em classes contrárias em luta.
A ideologia é uma ilusão, necessária a dominação de classe. Por ilusão não devemos entender ficção, fantasia, invenção gratuita e arbitrária, erro, falsidade, pois com isto suporíamos que há ideologias falsas ou erradas e outras que seriam verdadeiras e corretas. Por ilusão devemos entender: abstração e inversão. Inversão ou abstração do real para uma ilusão diferente, tal como deseja a classe dominante; tal como podemos perceber de forma bem didática em filmes como Matrix, A Ilha e o Show de Truman.
A ideologia consiste precisamente na transformação das idéias da classe dominante em idéias dominantes para a sociedade como um todo, de modo que a classe que domina no plano material (econômico, social e político) também domine no plano espiritual (das idéias).
Isto significa que:
1. Embora a sociedade esteja dividida em classes, a dominação de uma classe sobre a outra, faz com que só as idéias da primeira sejam consideradas válidas, verdadeiras e racionais;
2. Para que isto ocorra, é preciso que os membros da sociedade não se percebam divididos em classes economicamente e politicamente diferentes;
3. Para que todos os membros se identifiquem com essas características supostamente comuns a todos, é preciso que a classe dominante faça com que todas as classes acreditem que podem viver com os mesmos ideais. A difusão desses ideais, dá-se através do domínio do Estado e dos meios de comunicação de massa, que por suas vez, influencia as pessoas através das escolas, dos costumes, das religiões e dos meios de comunicação disponíveis.
Quando a ideologia é descoberta pelos dominados, como uma violência (simbólica), não mais parecendo como o único meio de vida em sociedade, temos uma crise de hegemonia da ideologia dominante. Daí então, a população começa a criticar os atuais valores e idéias, podendo aderir a uma nova ideologia, tal como foi o caso da Revolução Francesa, como citamos.
Podemos caracterizar as ideologias da seguinte forma:

2. O homem alienado, é alijado de sua capacidade de construir história, de se ver como agente que reflete sobre o passado e capaz de mudar o futuro. A ideologia então pode se impor. Para que a classe dominante possa inculcar suas idéias e valores, a ideologia não pode ser identificada como privilegiadora de uma classe, pois, desta forma, os dominados acreditarão que todos são afetados de maneira igual por ela.
3. A disseminação das idéias e valores da classe dominante, dá-se através escolas, dos costumes, das religiões, campanhas “educativas” e dos meios de comunicação disponíveis.
4. Vez por outra, acontece uma Crise de hegemonia, onde a população consegue perceber que está sendo violentada e explorada pela ideologia vigente, daí então, a história nos mostra que os dominados se rebelam contra o sistema, alterando a sua estrutura social. Dois bons exemplos disso, são a revolução Francesa, que introduziu idéias e valores até hoje vigentes em quase todos os países ocidentais e a Revolução Russa, que mudou a estrutura social daquele país, tirando a burguesia do poder e entronando a classe proletária.
Muito bom texto, Fábio! Peço permissão para usar o presente texto em minhas futuras aulas sobre a concepção marxista de ideologia. hehehe!
ResponderExcluirAbração!
Gostei bastante deste texto!
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