Nos anos 50, variados
campos científicos concentraram-se sobre um único tema: o desenvolvimento da
econômica. Contudo a produção do conhecimento, surgida dessas primeiras
reuniões, mostrava-se pouco versada nas discussões sobre os atores sociais, os
beneficiados e prejudicados de cada política econômica, enfim, as pessoas que
viveram em tal época. Os trabalhos produzidos, preteriam o estudo sobre as
conjunturas político-sociais e a história de atores sociais importantes,
visando a análise simplesmente dos números. Esses tais números, para os
cientistas que começaram a trabalhar a história-econômica, poderiam, sozinhos,
fornecer as respostas necessárias para a história de determinados países ou
nações. Contudo, a resposta rápida fornecida por tal método, contrastava muito
com a percepção historiográfica de análise das conjunturas...
“Estou vendo
muitos números, mas onde estão as castanholas”. BRAUDEL, Fernand.
Celso Furtado; o keynesianismo e a
estrutura.
Celso
Furtado, foi convidado a integrar a CEPAL (Comissão Econômica Para a América
Latina) em 1949, trabalhando sob a chefia de Prebisch. Esteve a frente do grupo
CEPAL/BNDES (Comissão Mista), que foi implementada no Governo Juscelino
Kubtscheck.
Esse
economista, tem sua obra marcada pela leitura de Keyne, caracterizada como para
economias subdesenvolvidas. O economista, tinha sua obra coberta pela noção de
que o mercado interno constitui um elemento essencial de dinamização da
produção e das rendas. Desta forma, o subdesenvolvimento das economias agro-exportadoras
latinas, poderia ser caracterizado pela insuficiência de poupança, que através
de um círculo vicioso de dependência às economia centrais, estabelecia os
arreios do Brasil e dos demais países de economia periférica. Segundo o autor,
se nós não temos uma história econômica capaz de criar uma poupança interna,
suficiente para fornecer excedentes, então não temos historicamente como
investir. A única saída, seria recorrer a poupanças externas, gerando uma
dívida de uma economia secundária para com uma central.
O
Nacional desenvolvimentismo, presente em sua obra, pode ser caracterizado por
três pontos: a defesa da liderança do Estado na promoção do desenvolvimento,
através de investimentos em setores estratégicos e, sobretudo, do planejamento
econômico; pela defesa estruturalista (o planejamento estruturalista
destinava-se a coordenar os eforços de industrialização de forma a reunir
condições para superar os obstáculos estruturais que dificultam o
desenvolvimento) da submissão da política monetária e cambial à política de
desenvolvimento, base da argumentação nacionalista, em oposição aos programas
de estabilização preconizadas pelo FMI e, pelo compromisso dos programas de
cunho social, como a defesa da tributação progressiva, projetos de
desconcentração regional da renda (SUDENE) e apoio a reforma agrária.
Em
seu livro Formação econômica do Brasil,
nos capítulos referentes a Capitalização
e Nível de renda na colônia açucareira e fluxo de renda e crescimento, Furtado corrobora se posicionamento
exposto acima. Sua obra, marcadamente de um economista sem os instrumentos de
um historiador, ressalta valores e números, sem porém, discutir a ação dos
atores sociais. Durante o capítulo oitavo, o autor não se preocupa, por
exemplo, em relatar a origem dos escravos, suas relações sociais com os
senhores de engenho. Também não se preocupa em relatar a ocupação holandesa no
importante nordeste exportador de açúcar, bem como as relações entre os
invasores holandeses e os senhores de engenho portugueses que receberam de bom
grado as facilidades econômicas expostas por Nassau para fomento do comércio e inibir
qualquer exaltação dos colonos contra a ocupação de terras lusitanas por outra
nação.
A
mão-de-obra africana chegou para expansão da empresa, que já estava instalada.
É quando a rentabilidade do negócio está assegurada que entram em cena, na
escala necessária, os escravos africanos: base de um sistema de produção mais
eficiente e mais densamente capitalizado[1].
(...)
Nesse mesmo
ano, o valor do açúcar exportado pelo Brasil holandês nos portos de embarque,
teria sido pouco mais ou menos de 1,2 milhão de libras[2].
Furtado
preocupa-se em ressaltar que as relações entre os escravizados e os donos de
fazendas, não constituíram características de uma economia capitalista. Noutro ponto
observado pelo autor, Brasil sempre esteve com seu comércio voltado para o
exterior, e os senhores de uma economia agro-exportadora, preocupavam-se apenas
no avanço desta relação comercial, sem portanto, variar economicamente seu
excedente capital. Destarte, o mercado externo controlava –e controla– a
economia brasileira, pois o menor sinal de retração nestes mercados, causava –e
causa– endividamento e falência a esse ramo mono-agro-exportador.
Aqueles
grupos de colonos que, em razão da escassez de capital ou da escolha de uma
base geográfica inadequada, encontraram maiores dificuldades para consolidar-se
economicamente, tiveram de empenhar-se por todas as formas na captura dos
homens da terra. A captura e o comércio do indígena vieram construir, assim, a
primeira atividade econômica estável dos grupos de população não dedicados à
indústria açucareira[3].
Contudo,
o mais interessante, é um ponto também supracitado, onde Furtado ressalta sua
preocupação com a estrutura, deixando de lado a conjuntura, entre os capítulos
oito e nove: a falta de preocupação com a formação de um mercado interno e a
importação de capitais externos, ratificando o círculo vicioso de buscar
empréstimos para investimentos nas mesmas especialidades sensíveis e dependentes
do mercado externo.
O fato de
que essa potencialidade financeira só tenha sido utilizada excepcionalmente
indica que o crescimento da indústria foi governado pela possibilidade de
absorção dos mercados compradores[4].
(...)
O empresário
açucareiro teve, no Brasil, desde o começo, que operar em escala relativamente
grande. As condições do meio não permitiam pensar em pequenos engenhos, como
fora o caso nas ilhas do Atlântico. Cabe deduzir, portanto, que os capitais
foram importados[5].
Porém,
outros historiadores, preocupados em iniciar seu trabalho a partir de um
postulado econômico, preocuparam-se em não excluir os movimentos sociais da
história econômica, por exemplo do Brasil, como ressalta Fernand Braudel em
análise da obra de Caio Prado Júnior. Braudel ressalta que o livro História Econômica do Brasil, mantém
oito capítulos cronológicos que destacam a ocupação lusitana do território que
hoje é o Brasil e a revolução de 1930, sem porém, rechear seus títulos de
termos conhecidos como pau-brasil para a ocupação portuguesa ou café para a
elite social do século XIX e início do XX. Tais estudos de economia e
principais produtos, tanto da pauta de exportação, quanto presente na vida das
pessoas, são abordados através dos séculos desde os anos de colonização até os
dias atuais.
(...) mais
do que uma história estrutural, nos é oferecido uma história conjuntural. (...)
O autor, repito, não aprecia essas histórias imóveis, dissociadas do tempo,
cronologias superficiais e, portanto, inconscientes e irreais. Para ele a
história é movimento, agitação, hidrografia viva[6].
Destarte,
outros historiadores como Mircea Buesco, Jobson e Eulália Lobo, também partem
do mesmo postulado econômico para uma análise histórica, demonstrando claro,
conhecimento de economia para tal intento. Enquanto o Brasil de Celso Furtado,
não demonstra ter pessoas –somente coisas como os escravos–, o Rio de Janeiro
de Eulália Lobo, á na década de 1760, apresentava-se como centro cultural
político econômico, graças o desenvolvimento de sua economia diversificada. Com
o objetivo de esclarecer a função desempenhada pelo Rio de Janeiro no período
de 1760 – 1945, Eulália Lobo, em História
do Rio de janeiro, estuda entre outras coisas, o movimento comercial –com
relação ao porto–, as relações sociais e os intermediários financeiros. Eulália
Lobo, portanto, uma historiadora, ao utilizar-se do método de História Quantitativa, ao contrário de
Celso Furtado, não deixa de observar os atores sociais e suas relações com os
números que estuda. Lobo se debruça sobre a análise dos movimentos de transição
e mudança, identificando os pontos de descontinuidade das estruturas econômicas
financeiras criadas.
A
comparação entre as obras de Celso furtado e Eulália Lobo, nos leva a crer,
inicialmente, que o historiador sai na frente quando o assunto é criação e
exploração de uma série e análise de conjunturas, graças aos seus instrumentos adquiridos
na formação. Contudo, de forma contrária, o historiador teria de ter um
conhecimento sólido das ciências matemáticas para também implementar um estudo
eficiente sobre os números que se apresentam na criação de uma estrutura de
análise econômica. Destarte, Celso Furtado não contempla as conjunturas em sua
obra, não atingindo pontos importantes a um historiador.
Para estudar
os salários tivemos a preocupação de selecionar profissões de nível de renda
baixo, médio e alto. Incluímos o operário de construção ligado, inicialmente,
às corporações e irmandades e o operário fabril. Fizemos comparações com
amostras de salários de fábricas de tecidos (Corcovado) e bebidas (Brahma) com
as séries de salários da Fábrica Moinho da Luz para se ter uma visão mais
representativa do universo manufatureiro da época. Essas fontes também fornecem
as séries de advogados, médicos, gerentes e diretores de empresas, empregados
de escritório[7].
Por
outro lado, Eulália Lobo, que tem como ponto de partida a história econômica, que
apresentando suas fórmulas matemáticas apuradas e suas fontes que tomam por
partida paróquias e estabelecimentos comerciais e jornalísticos, mostra-se
preocupada em mesclar números e atores sociais para uma compreensão mais ampla
de seu objeto.
Fontes Bibliográficas
FURTADO,
Celso. Formação econômica do Brasil. Companhia Editora nacional. 19ª Edição,
São Paulo. 1984.
LAHMEYER,
Eulália Lobo. História do Rio de Janeiro.
Do capital comercial ao capital industrial e financeiro. Ed. Ibemec, 1978, II
Volumes.
Caderno
Mais. Folha de São Paulo. Braudel analisa Caio Prado Júnior.
[1] FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil.
Companhia Editora nacional. 19ª Edição, São Paulo. 1984.. p. 42.
[2] Idem. p.
45.
[3]
Idem. p. 42.
[4] Idem. p.
46.
[5] Idem. p.
47.
[6] Caderno
Mais. Folha de São Paulo. Braudel analisa Caio Prado Júnior.
[7]
LAHMEYER, Eulália Lobo. História do Rio
de Janeiro. Do capital comercial ao capital industrial e financeiro. Ed.
Ibemec, 1978, II Volumes. P. 12.
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