Fábio
Souza Corrêa Lima
Graduando
em História pela Universidade Federal Fluminense – UFF
Bolsista de Pesquisa da
Fundação Instituto Oswaldo Cruz / Casa Oswaldo Cruz – FIOCRUZ / COC
Orientadores
Fiocruz: Tânia Maria Dias Fernandes e Renato Gama-Rosa Costa
História e Memória de Varginha - O
mito do Comando Vermelho
O mito conta
uma história sagrada; ele relata um acontecimento ocorrido no tempo primordial,
o tempo fabuloso do “princípio”. Em outros termos, o mito narra como, graças as
façanhas dos Entes Sobrenaturais, uma realidade passou a existir, seja uma
realidade total, o Cosmo, ou apenas um fragmento, uma ilha, uma espécie
vegetal, um comportamento humano, uma instituição. É sempre, portanto, a
narrativa de uma “criação”: ele relata de que modo algo foi produzido e começou
a ser. O mito fala apenas do que realmente ocorreu, do que se manifestou
plenamente. (ELIADE, M., 1972:
11)
INTRODUÇÃO –
CONSIDERAÇÕES GERAIS E OBJETIVOS DO ESTUDO
O
presente artigo, baseado no trabalho de monografia, intitulada O poder Vermelho da casa Amarela,
entregue no segundo semestre de 2005, resume dois anos de estudo acerca da
temática de violência urbana e controle social, realizados no período de bolsa na Fundação Instituto
Oswaldo Cruz. Tal pesquisa esteve inserida no projeto Manguinhos – História do lugar e das pessoas, onde os doutores
Tania Maria Dias Fernandes e Renato Gama-Rosa Costa, coordenam o levantamento e
registro da memória dos moradores das treze comunidades que compõem Manguinhos.
Nosso subprojeto concentra-se no
esforço de contar a história da comunidade Parque Carlos Chagas (ou Varginha),
abordando seu relacionamento com os moradores da localidade, o crescimento do
tráfico de drogas no Rio de Janeiro e na comunidade nos anos 1980 e 1990 e a
ausência do Estado em proporcionar as políticas públicas de direito às
populações mais carentes. Para o subprojeto, desenvolvemos inicialmente um
estudo aprofundado sobre as origens, tanto de Parque Carlos Chagas, em
Manguinhos, quanto da facção criminosa mais conhecida do país, o Comando Vermelho.
Para contar a história da facção,
e seu envolvimento com a comunidade vizinha à Fiocruz, buscamos na bibliografia
de especialistas em violência urbana e controle social, como os sociólogos
Michel Misse e Edmundo Coelho, e as historiadoras Vera Malaguti e Cátia Faria,
o substrato necessário para conhecer as origens e o desenvolvimento do Comando Vermelho. Buscamos também em
nossas entrevistas, levantar as memórias dos moradores da região sobre a
violência em Manguinhos. Este interesse se deu no decorrer da pesquisa de Tania
e Renato, quando nos deparamos com as histórias da existência de uma casa onde
seriam realizadas reuniões dos grandes chefes da facção criminosa, no final dos
anos 1980 e início dos anos 1990. A tal casa
Amarela, segundo alguns entrevistados, seria o local onde eles fundaram um
comando, uma organização criminosa meio que... como se funda uma associação de
moradores: com estatuto, com ata, com livro e tudo mais[1]. Mas tarde, porém, ao
aprofundarmos nossos estudos com a busca de fontes mais tradicionais, como bibliográficas,
teses e periódicos, pudemos aferir que a pequena construção teria servido como
um posto avançado de decisões que influenciaram não apenas o Complexo de Manguinhos, mas todo o Estado
do Rio de Janeiro. O referido período de reuniões, é marcado pela mudança de
rumos da facção criminosa, que, acuada pela grande repressão a crimes de roubo
a bancos e seqüestros, decidiram pelo então fácil e lucrativo comércio ilegal
de drogas. Enquanto a ditadura civil-militar, premida pela imprensa e pelas
elites sociais, recrudescia a repressão contra os crimes individuais, os novos
traficantes pouco gastavam com subornos, compra de armas e planejamento para
alcançar lucros exorbitantes. A casa
Amarela, até onde pudemos aferir, funcionou como um aparelho onde eram
decididos os seqüestros, os assaltos a bancos, e, mais tarde, as invasões a
outras comunidades, visando novos pontos de venda de drogas. Sua importância
para o estudo da violência no Rio de Janeiro, mostra-se, portanto, no fato as casa Amarela ser o local, pelo menos em
Manguinhos, onde o Comando Vermelho
se transformou no que é hoje. Exatamente o período em que o país deixou de ser
rota do tráfico de drogas e passou a figurar como mercado consumidor, como veremos
adiante.
O
título de nosso trabalho, aproveitando a perspectiva que adotamos sobre a
definição de poder/Poder nas relações sociais, ressalta que O poder Vermelho, tem antes de tudo, o seu
V maiúsculo por ser o Poder que a
facção criminosa se pretende, mas, porém, o p
minúsculo, por demonstrar o que ele realmente ainda é, com relação às funções e
características intrínsecas ao um Estado
Moderno. Da mesma forma, casa Amarela,
nos mostra a importância que os moradores de Varginha apregoam a cor Amarelo, como quando ao revisitarem suas
memórias sobre a comunidade, começam dizendo: ...aquela casa Amarela, a bendita casa Amarela...[2], ...a
própria situação de violência da implantação do... chamado Comando Vermelho...[3] adjetivando sempre com duas cores,
todas as suas memórias sobre a violência em Manguinhos, a partir daquela
pequena casa no meio da favela Varginha.
No centro deste trabalho
está, portanto, o mito do Comando
Vermelho na casa Amarela, onde
destacamos a construção das memórias de atores sociais, moradores de
comunidades carentes ou não, que contam histórias de verdadeiros Entes Sobrenaturais (ELIADE, M., 1972:
11) que deram origem a um circuito de violência no Rio de Janeiro, baseado no
tráfico de drogas. Desta forma, julgamos mais conveniente estudar as origens, baseando-nos na idéia
de Catherine Backès-Clemente, ao afirmar que O mito revela o “antes” da história, mas antes “havia” o mito!... (BACKÈS-CLEMENT,
C., 188: 311). Por
outro lado, etimologicamente, o mito narra efeitos lendários de seres fantásticos
ou sagrados, mas também, pode ser usado como solução ideal para conflitos que não podem ou não devem ser solucionadas no
plano real. Partimos então com idéia
de desvelar essas histórias sagradas, que delineiam as identidades de pessoas
de comunidades carentes de Manguinhos e também de todo o Rio de Janeiro.
Ao nos basearmos nos relatos dos moradores de Varginha
e na crença popular de origem do Comando
Vermelho, abordamos produções literárias que exaltam um banditismo-social
Hobin Hood, onde está presente a idéia de que houve um período heróico (AMORIM, C., 2004), onde os bandidos ajudavam a
comunidade e não a usavam como escudo contra a polícia.
A História Oral, durante
toda essa experiência de trabalho na Fundação, funcionou como um perfeito método
para aferirmos dentro da memória popular todo o conteúdo que buscávamos sobre a
temática de violência urbana e controle social. A proximidade que conseguimos,
ao entrevistarmos pessoas que participaram ou testemunharam determinados
acontecimentos e conjunturas, nos forneceu informações que jamais disporíamos
em uma abordagem tradicional.
Não
só por condição das entrevistas, mas também por respeito a memória ainda viva
sobre a violência no cotidiano dessas pessoas, não apenas em Varginha, mas
também em todas as comunidades carentes do Rio de Janeiro, trabalharemos com
uma identificação parcial de alguns depoentes neste trabalho, que encontra-se
disponível no Departamento de Pesquisa da Casa Oswaldo Cruz.
O poder Vermelho da casa Amarela
O mito do Comando Vermelho em Manguinhos e no Rio
de Janeiro
Durante
os anos de ditadura militar no Brasil, o recrudescimento das ações armadas de
esquerda contra o governo, gerou uma reação militar drástica. A nova Lei de
Segurança Nacional, aumentou as penas e introduziu a possibilidade da pena de
morte no julgamento de assaltantes de bancos, seqüestradores e terroristas, sem
distinguir aqueles que tinham motivação política, dos demais contraventores.
Colocaram todos na mesma penitenciária, em Ilha Grande. Lá os presos comuns
aprenderam com os políticos a se organizar como facção criminosa. Nos últimos
anos antes da anistia,
a própria situação de violência da implantação do...
do... chamado Comando Vermelho, de toda aquela situação de violência crescendo
nos presídios, né, quando se misturou preso político com preso comum... e eles
trocaram informações e começaram a estruturar o crime organizado... começaram a
organizar o crime e havia situações que transbordaram desse presídio, e a
Varginha, ela foi palco de reuniões assim, onde o alto comando do crime se
reuniu para tomar decisões que iriam nortear toda essa organização do crime[4].
A Varginha, ao lado da
Fiocruz, fica bem no meio das outras treze comunidades que juntas compõem o Complexo de Manguinhos. A ocupação da
área, conta-se que iniciou nos anos 40, sem também sabermos a procedência das
pessoas que ali construíram seus barracos. Apesar de décadas de ocupação, até
pouco tempo...
...isso aqui era um matagal, capim era muito grande,
agente tinha até medo de passar aqui pra dentro, que aqui tinha uma... umas
histórias de umas pessoas que andavam pegando umas pessoas... agente tinha
medo, isso tudo era mato[5].
Na região, isolada por dois
rios, os barracos ocuparam totalmente uma das laterais, ocuparam também as
margens do Faria-Timbó e Jacaré, e a extremidade da área. Os moradores passaram
a sonhar com a construção de uma escola de samba, uma praça e um campo de
futebol na comunidade, porém, a ocupação desordenada e a falta de dinheiro
impediram o desenvolvimento dos sonhos da comunidade. Contudo, esse impedimento
foi apenas dos sonhos. Outras coisas se desenvolveram bem em Varginha.
No centro dessa favela, uma
pequena casa Amarela voltada para o
interior da própria comunidade, servia como local de reunião de bandidos. Durante
os anos em que os presos políticos e comuns estiveram encarcerados juntos,
houve troca de informações sobre táticas de guerrilha e organização usadas
pelos militantes da esquerda. Com o aprendizado, aqueles que conseguiram
escapar, passaram a enviar dinheiro para uma espécie de fundo que financiava a
fuga de outros marginais. A organização desses presos ainda dentro do Instituto
Penal Cândido Mendes, em Ilha Grande, pode ser exemplificada de várias formas:
O Comando Vermelho funda e controla o Clube Cultural e
Recreativo do Interno (CCRI), entidade única na história do sistema penal do
país. O grêmio administra a cantina onde os presos sem recursos podem comprar
fiado, do cigarro à cachacinha e – dizem – até maconha. Dinheiro emprestado
também não é problema para os membros da organização, que preparam uma
caixinha, um fundo de aplicações que recolhe contribuições voluntárias. Aos
poucos, gente de outras galerias também começa a participar. E o “mundo livre”,
do “continente”, vem dinheiro também. (...) O Clube Cultural e Recreativo do
Interno (até parece nome de escola de samba) organiza uma farmácia que atende a
quem pode pagar por remédios. E quem não pode entra no “livro de favores”. Paga
quando puder –ou fica “devendo um favor”. (...) Mas o grande achado dos líderes
do grupo é a criação de um time de futebol dos internos, o Chora na Cruz. (...)
Por incrível que pareça, um jornal passa a circular no presídio: O Colonial,
numa referencia à antiga Colônia de Dois Rios. (AMORIM, C. 2004: 129-131).
Mesmo com a unidade dentro
das cadeias, com os anos, continuaram a existir outras várias quadrilhas com
atividades e lideranças diferentes nos presídios e nas ruas do Rio de Janeiro.
Algumas dessas quadrilhas, sob o signo dos ensinamentos obtidos com os militares
de esquerda assentaram seus negócios em Varginha. As reuniões dos bandidos,
sediadas na casa Amarela, buscavam
planejar, pelo menos, inicialmente, apenas os seqüestros e assaltos a banco. Um
pote de pó branco[6]
na sala, centralizava a roda de discussão daqueles homens que apesar da
organização absorvida, não se afastaram de velhos hábitos como o consumo de
drogas. As reuniões, eram quase sempre a chance de encontrar as pessoas
realmente importantes dali e rir um pouco da própria miséria. Eram bons homens aqueles;
enquanto a polícia enfiava o pé nas portas equilibradas em arames enferrujados,
eles ajudavam com tudo aquilo que o Estado
dizia ser o direito dos cidadãos.
Marcelo Xará cansou de comprar casa para quem não
tinha. Comprava também botijões de gás, remédios, dava dinheiro.... Marcelo não
gostava de violência não... só era violento com que vacilava com ele[7].
(...)
A intenção era entrar em todos os buracos deixados
pelo Estado, fazer tudo que o Estado não faz... (Notícias de uma guerra particular. SALES, J. M. e LUND, K, 1999)
(...)
Há histórias de que... de mulheres que casaram com
bandidos e que só foram ficar sabendo muito tempo depois, porque o homem dentro
da sua casa era bom, era legal. Ele saía para trabalhar todo dia, então era:
“Ah, eu vou fazer um trabalho de segurança...” ou “Eu trabalho à noite porque
sou vigia..” e recebia um ótimo salário e a mulher não sabia. Porque dentro da
sua casa ele não era o bandido, ele não andava armado, ele era uma pessoa
íntegra[8].
Enquanto a polícia não consegue
distinguir trabalhador de traficante, quem mora na favela é tratado como
bandido. Eles humilham os moradores, destroem suas portas, invadem suas casas,
espancam seus pais e filhos e roubam seus eletrodomésticos.
O tráfico, melhorou, do outro lado não. Porque antes
de existir o tráfico, a polícia quando entrava na favela, ela já entrava
metendo o pé na porta da sua casa, já vinha quebrando tudo... então essas armas
na comunidade através do tóxico, fez com que a polícia entrasse com cautela,
entendeu? Andam com medo, eles andam com medo, por que ta sabendo... que podem
matar um. (Notícias de uma guerra
particular. SALES, J. M. e LUND, K, 1999).
Como não achar que o
traficante protege sua comunidade? Vários bandidos já fizeram isso. Por
exemplo, teve uma vez que
o Marcinho VP estava na Varginha em uma das reuniões
mais importantes que tiveram, uma das mais famosas e ele foi o cara que mais
levantou essa coisa de bandido-social. Ele foi fazer um “tour” pela América
Latina no meio dos guerrilheiros e voltou mais forte ainda com esse discurso de
que o bandido, na verdade, é quem protege sua comunidade[9].
Variados grupos
participavam das reuniões na casa Amarela;
planejavam tudo, desde como andavam as suas relações dentro da favela, até os
seqüestros e assaltos... eu fazia as
plantas.... a velocidade do carro, quanto tempo iria demorar para fazer o
assalto, eu via isso muito bem[10]...
como dividiriam o dinheiro... tudo aprendido na cadeia de Ilha Grande... muitas
pessoas não acreditam nesta história, mas
Em 10 de março de 1981, quinze homens com armamento
sofisticado atacam o Banco Nacional de Parada de Lucas, Zona Norte do Rio. Na
fuga, outra novidade: os três carros que levam a quadrilha são seguidos por um
quarto, que não participou da ação. Nele, um bandido opera um rádio-trasmissor
da mesma freqüência que o da polícia. Não só fica sabendo onde estão as
barreiras policiais, como passa pistas falsas e provoca a maior confusão na
perseguição. Informa que os assaltantes estão num determinado local, quando na
verdade em outro muito diferente. Um despistamento típico da luta armada
revolucionária aprendido nas longas conversas no “areão” e nos corredores da
Galeria LSN[11]. Os
carros da polícia ficam como baratas tontas, até que o Centro de Coordenação de
Operações de Segurança (CCOS) impõe silêncio no rádio. O bandido fica falando
sozinho, e as ordens que ele dá não são mais seguidas. Ao abandonar o carro na
fuga, o transmissor é deixado sobre o banco do motorista. (AMORIM, C. 2004:
62-63)
Os Jornais confirmam isso,
o O Globo, publicou uma notícia na
época que dizia:
Fica claro que a sua sofisticação [dos bandidos da
quadrilha do Zé do Bigode [um dos líderes do Comando Vermelho] não se limitava ao tipo de armamento que usavam:
sua periculosidade era, em conseqüência, muito maior. Usavam técnicas da
guerrilha, codificadas, na década de 60, por Mariguela e Guevara.
Aprenderam-nas, certamente, na cadeia, onde conviveram com terroristas de
esquerda. (AMORIM, C. 2004: 93-94. O Globo, editorial, 8 de abril de 1981)
Mas não só nessas leituras
se basearam os integrantes do Comando
Vermelho, o aprendizado com os militantes, chamados de presos políticos, foi mais longe.
Outra publicação, fundamental para a formação de
grupos armados, percorreu as galerias da Ilha Grande: Guerra de Guerrilhas, do papa da luta armada na América Latina,
“Che” Guervara. (...) Guerra de Guerrilhas
foi o mais completo manual para operações irregulares que se tem notícia. Foi
Preparado tomando por base a própria experiência do Comandante Guevara em
Sierra Maestra, durante a revolução cubana, além das lutas que ele ajudou a
organizar no Congo, região central da África. O manual do “Che” era explícito
quanto a escolha do armamento para as unidades de guerrilhas: no campo ou na
selva, armas de precisão e de longo alcance, capazes de surpreender o inimigo
nas emboscadas, antes que pudesse se aproximar; nas cidades e nas zonas
periféricas, armas automáticas de disparo rápido, especialmente as
metralhadoras e pistolas. Granadas, bombas e armadilhas –segundo “Che” – eram
fundamentais. Hoje os “soldados vermelhos” usam fuzis de longo alcance no alto
das favelas, de onde podem atingir a polícia sem serem vistos. Nas áreas onde
podem ser surpreendidos, usam pistolas e metralhadoras, granadas e armadilhas.
(...) Os presos comuns do “fundão” tiveram contato também com textos clássicos
da literatura marxista. O Manifesto do
Partido Comunista, escrito por Karl Marx e Friedrich Engels, em 1948, e A concepção materialista da história, do
russo Afanassiev, fizeram parte de planos de estudos dentro do presídio. Outros
livros da literatura básica do marxismo também foram lidos: A história da
riqueza do homem, do historiador Leo Hubberman, e Conceitos elementares de filosofia, de Martha Hannecker. Os
prisioneiros políticos empregavam nesses grupos um método definido: alguém era
escolhido para ler um capítulo e fazer depois um relatório em voz alta –a
seguir, havia uma discussão coletiva. Muitas vezes os presos comuns da Galeria
LSN entravam nos grupos. Outras vezes organizavam eles mesmo a discussão.
(AMORIM, C. 2004: 93-94)
O convívio com os presos políticos trouxe também a eles a
experiência de guerrilha necessária para saber como se esconder nas favelas,
saber como deveriam se organizar para que ficassem mais fortes.
A preocupação das organizações de esquerda em formar
uma rede de “aparelhos” também foi incorporada ao crime. Casas são compradas ou
alugadas em vários pontos, próximos à operação de venda de drogas (...) Em geral, esses “aparelhos”, ou “paióis”, têm a
fachada absolutamente discreta de residências pacatas ou pequenos negócios.
Ficam nas áreas vizinhas as grandes favelas (...) Locais de rápido acesso para
transferir a droga ou simplesmente passar uma noite em segurança. (AMORIM, C.
2004: 90).
Durante a ditadura, como
resultado da sensibilidade do governo militar às manchetes daqueles que a
apoiavam, a repressão aos seqüestros e assaltos à banco, seguiu aumentando. A
imprensa utilizando-se de suas prerrogativas, refletia a irritação da elite
brasileira contra a inércia do Estado
no combate aos bandidos e aos subversivos. O investimento em policiamento e
novas técnicas não tardou a acontecer, políticas de prevenção contra as ações
de seqüestro e assaltos começaram a ser tomadas pelo Estado. Agora, dificilmente um banqueiro, ou mesmo alguém rico,
andava pelas ruas ou tinha seus estabelecimentos desarmados de segurança.
Aqueles que assaltavam bancos, logo perceberam que o planejamento minucioso, o
roubo de carros e a participação de muitos comparsas no empreendimento gerava
sempre menos lucro do que a imprensa noticiava que os banqueiros haviam
perdido. Era necessário conseguir mais dinheiro para se manter, para comprar
armas, financiar as fugas de colegas ainda presos, ajudar as famílias dos
encarcerados ou dos que morreram tentando tocar o negócio para frente, enfim,
era necessário se manter no poder.
A situação de aperto
policial e financeiro, mudou com um convite vindo de fora do Brasil: Que tal
deixar de ser rota de tráfico de drogas para Europa e passar a ser o próprio
mercado consumidor? O convite proposto pelo cartel de Cali e Medelin,
juntamente com a exigência de que o Comando
Vermelho tomasse a cidade de assalto, distribuindo drogas a preço de custo
para criar mercado no Rio de Janeiro. Desde então o tal pote com pó branco, no
meio da casa Amarela agora,
verdadeiramente, ocupara o centro da discussão daqueles homens. A partir daí,
baseados na experiência de guerrilha que conseguiram com os presos políticos, eles fundaram um comando, uma organização criminosa meio
que... como se funda uma associação de moradores: com estatuto, com ata, com
livro e tudo mais.[12] Eles sabiam que a organização
que aprenderam gerava a força necessária para o domínio de todo Estado
Fluminense, e por isso mesmo, sabiam que para melhor governar, era necessário
resolver com quem ficaria cada área da cidade. Não é atoa que dizem que o Comando Vermelho surgiu de ex-presos que
se destacaram por sua inteligência.
Aquele Gordo, que ficou com a Zona Sul, aquele cara
dava a volta no rato, ele era muito inteligente. Eu, particularmente, era
apaixonada por... de ver eles conversando. (...) Na época, eu me lembro que o
Dino ficou responsável por assumir Niterói. O Meio Quilo ficou na área aqui. O
Denis ficou em Acari, se eu não me lembro (sic),
e o Marquinho ficou responsável pela área do Estácio, Rio Comprido, ali. O meu
cunhado ficou responsável pela Mangueira, (...) o Gordo ficou com a zona sul
(...)[13]
Esses bandidos notaram que
dominar, através das drogas, todo o Estado
era mais difícil do que parecia, afinal, os outros quadrilheiros também
começaram a transar drogas e não queriam perder seus territórios de comando. As
guerras pelo comando da Penitenciária Cândido Mendes extrapolaram os muros e
chegaram às favelas e morros cariocas. Nenhum homem que se identifica com uma
falange ou outra, poderia mais transitar indiferente pelas favelas do Rio de
Janeiro. Mais uma vez a casa Amarela,
em seu local de fácil acesso para quem conhecia a favela, oferecia, além de um depósito de armas
e drogas, também um bom lugar de refúgio.
A partir da casa
Amarela, as teorias de como iriam dominar os melhores pontos da cidade
transformavam-se em práticas. A idéia era atrair pessoas, criar ...um mercado, atrair o mercado consumidor[14]. É claro que a partir daí, as primeiras comunidades a sofrer
com as guerras pelos pontos de venda de drogas foram as mais próximas. O
Conjunto João Goulart, a Vila Turismo, a Vila União e o Conjunto Habitacional
Provisório (CHP-2), todas surgidas da década de 1950, foram palco das primeiras
invasões coordenadas de dentro da casa
Amarela. Esta última comunidade, onde é sediada a Escola de Samba Unidos de
Manguinhos, perdeu a freqüência de pessoas que participavam de suas atividades
de lazer, pois, foi proibido pelos traficantes o trânsito de pessoas de
Varginha –e vice versa–, na área. Contudo, a intenção de expandir e dominar o
maior número de pontos de venda possível, não deteve os traficantes às
comunidades circunvizinhas. Havia uma visão empresarial de buscar mercados com
potencial de consumo, que com os anos atingiram as classes mais abastadas, nos
lugares de ensino como as universidades públicas.
Em 1993, já havia quatro bocas de fumo em um só campus
da Universidade Federal Fluminense. O campus do Valonguinho não tinha
seguranças armados e o Instituto de Química, os espaços em frente ao Associação
de Servidores da UFF e em frente ao Diretório Central dos Estudantes, já
estavam tomados. Contudo O Globo
informou que o “QG do Comando Vermelho”
ficava atrás da casa de força, próximo ao prédio de Física. -Eles descobriram que o campus é um mercado
rentável e seguro, porque as Polícias Civil e Militar não sobem aqui. E agora
estão disputando esse território[15].
Assim, através daquela divisão, o Comando Vermelho não se deteve em buscar por mercados consumidores,
simplesmente próximos a Varginha. A intenção era vender, Por isso Rocinha, Santa Marta, Mangueira,
favelas de acesso de tradição, lugares de acesso de tradição, porque são
lugares que têm samba, que têm movimento, que as pessoas conhecem... ...a Mangueira é próxima da UERJ...[16]. Um ponto ótimo,
não? Cheio de pessoas que tem dinheiro para gastar no consumo de drogas. Foi
por isso que
o Gustavo é que estava de cumplicidade com eles aqui e
traindo a Mangueira. Na verdade, o Gustavo estava traindo... traiu feio a
Mangueira. Morreram 21 pessoas no... no carnaval de 1994. Foi o pior dia da
minha vida. Eles se reuniram aqui, organizaram a invasão da Mangueira... Eles
perguntavam: “Quantas entradas tem a Mangueira, I.? “Eu falava: “Olha, várias.
Tem uma ‘boca’ aqui, uma ‘boca’ ali, uma ‘boca’ acolá”, e tal... Eles cercaram
todas as entradas da Mangueira. Eu chorei muito nesse dia. Porque as pessoas
vão te perguntando, você vai respondendo, né? Aí, depois, a pessoa te diz:
“Olha, não vai à Mangueira hoje.” E eles escolheram para invadir a Mangueira na
hora do desfile. Muita covardia! (...) ...21 pessoas em menos de 10 minutos... [17]
A venda de droga se mostrou
mesmo uma boa saída. Pouco se gastava com a polícia no final da década de 70, e
na década de 1980, pois os gastos com subornos e compra de armas, não eram tão
necessários. A diminuição dos índices de assaltos a bancos e seqüestros eram
mais importantes à imprensa. De uma hora para outra, finalmente os bandidos
puderam deixar de assaltar os banqueiros, o que diminuía a pressão da elite,
através da imprensa, sobre o Estado.
Puderam também aliviar os gorduchos policiais que não agüentavam correr atrás
dos mal nutridos marginais, gozar do poder que tiravam da recente tranqüilidade
que essa mudança gerava na favela, e ainda, gastar a vontade sobre o lucro
exorbitante agora alcançado. Essa situação que oferecia relativa segurança aos
favelados e era de pouca importância aos jornais, perdurou durante muito tempo,
excetuando é claro, as guerras entre as quadrilhas pelo controle dos morros e,
consecutivamente, seus pontos de venda de drogas.
Contudo, a medida que a
marginalidade voltou a atingir as elites sociais, levando seus filhos à
demência das drogas e ameaçando a Ordem
Social com lucros cada vez maiores, a polícia novamente começou a bater à
porta das favelas. O trafico de drogas respondeu com a forma que julgaram
necessária, invasão de outros morros, mortes confrontos, arrego[18]
aos policiais, compra de armas mais potentes, uma organização hierarquizada...
Aqueles bandidos não tinham mudado só de especialidade, mas também de práticas
e postura. A cada nova onda de repressão contra os traficantes, eles respondiam
com mais violência nas favelas, demarcando seus territórios, aumentando o
conflito com os policiais e outros quadrilheiros, chamados de alemães[19].
Agora é... o bandido naquela época era um bandido que
ele não... usava como escudo ainda... não tão declaradamente, a comunidade. Era
um bandido que ele operava na rua e só tinha confronto dentro da comunidade, na
medida que a polícia entrava na comunidade, aí ele se escondia. Mas ele... hoje
em dia, o bandido usa a comunidade como escudo, antes não. Então ele tinha uma
responsabilidade meio que social[20].
Enquanto a ditadura estava
começando a dar sinais de cansaço e impopularidade, atribuía-se toda aquela
movimentação do tráfico à ressurgência das organizações guerrilheiras de
esquerda. A imprensa começou a designar o termo Comando para as ações sempre bem armadas dos traficantes, enquanto
o Vermelho, é assumido pelos próprios
traficantes, por conta das experiências com os comunistas da penitenciária de
Ilha Grande. O projeto de sobrevida do regime, que apontava os revolucionários
de 1964 como os únicos capazes de debelar tal situação em que os vermelhos novamente
ameaçavam o país, não reanimara a população, que reagia aos discursos com
antipatia.
Contudo, o processo de
abertura política, apesar de retardado, era irreversível. A anistia aos presos
políticos tirava os militantes de esquerda dos presídios e devolvia a
elegibilidade aos políticos de carreira. A economia brasileira passava a
enfrentar o recesso do breve período de milagre, ao passo que os traficantes
responderam com lucros altíssimos na transformação do país em um dos maiores
mercados consumidores de drogas do planeta. Na primeira eleição direta para
governador do Estado do Rio de Janeiro, acontecida com o processo de abertura
do regime, apesar das tentativas infrutíferas da imprensa de deter sua
candidatura, Brizola, um legítimo representante da esquerda brasileira, se
elege com o voto maciço dos favelados. Por mais que a imprensa respondesse ao
acinte dos favelados com uma
verdadeira perseguição ao novo governo, identificando-o como conveniente a ação
dos traficantes, Brizola retribuía aos seus eleitores com uma política
humanitária que proibia a entrada da polícia nas favelas sem mandado e objetivo
específico, e prometia reformas que trouxessem um mínimo de conforto aos
favelados.
A ação do governo em
Manguinhos, ficaria então representada pela intervenção em Varginha, de onde o Estado parecia saber que irradiava toda
aquela violência. Mesmo antes de eleito, Brizola começou um censo que
identificava a quantidade de favelados e todas as mazelas que deveriam ser
dirimidas no Rio de Janeiro. Desde então
a polícia assediou fortemente e o (...) Estado
entendeu que tinha que fazer alguma coisa, mexer no físico, pra desarticular
essa situação da Varginha. E aí... quando se mexeu nesse físico e se tirou duas
faixas de... de... de barracos ao longo dos rios, das margens dos rios Jacaré e
Faria-Timbó, deu uma mexida realmente. E ela se tornou uma uma... ela... ela...
se tornou dormitório. Porque aí as ruas ficaram largas, de fácil acesso. Então
agora um carro entra na margem do Faria-Timbó, circula onde era a Ilha das
Cobras e sai pela margem do Jacaré. A rua Carlos Chagas ficou é... é... ela já
era larga, já era definida, ela ficou assim fácil de transitar e o número de
becos, eles ficaram muito curtos. Porque os becos vão da [rua] Carlos Chagas
para a pista do Faria Timbó. Eles ficaram curtinhos, da Carlos Chagas você vê a
pista. Então eliminou muito esse... esse... essa facilidade de estar circulando[21].
(...)
Podia-se escapar na Varginha sem nem sair dela. A não
ser que houvesse uma operação que cercasse os três acessos. (...) Podia-se sair
num beco, entrar no outro... circular né?! Quem tá perseguindo tá vindo atrás,
não vai ver se entrou no outro... tinham vários bequinhos que cortavam essa
margem aqui toda e, facilitavam a fuga[22].
(...)
À medida em que as ruas ficam largas, não têm barracos
pra se esconder... uma pergunta que [se] faz: se as pessoas que... elas
estimulavam a ação do tráfico. Não, é o lugar! Então quando o governo vem e
tira as casas das margens do rio, alarga as ruas, diminui o espaço físico da
Varginha, não tem mais como o tráfico se esconder![23]
No prazo de 10 anos, em
duas intervenções urbanísticas, a primeira com o Brizola e a segunda, através
do município, na gestão de César Maia, três ruas foram asfaltadas: a primeira
corta a comunidade ao meio e leva diretamente até a porta da casa Amarela, as outras duas correm as
margens dos rios, unindo-se numa praça concretada. Um escorrega, um balanço e
uma mesinha, complementam a intervenção que pouco ofereceu de paisagística, mas
que porém, foi de uma eficiência repressiva contra o Comando Vermelho que nenhuma arma de fogo jamais teve. Os becos que
ligavam um lado a outro da favela, mais tarde foram fechados e depois ocupados
por outras casas. A Varginha deixaria de ser esconderijo para traficantes para
se transformar em uma intervenção-modelo para o Governo Estadual de Brizola e a
prefeitura de César Maia, com o Favela-Bairro.
O Poder Público resolveu
assistir todo o Complexo de Manguinhos,
construindo em Varginha, uma creche, uma Casa Comunitária, um Centro Comunitário de Defesa da Cidadania
(CCDC) e um CIEP (Juscelino Kubitscheck). Mais tarde, veio a construção de um
Centro Municipal de Atendimento Social Integrado (CEMASI), juntamente com uma
edificação destinada a Associação de moradores, finalmente garantiu um status de comunidade à Varginha. Apesar
das obras se mostrarem eficientes para atender as carências de todo Complexo de Manguinhos até o início da
década de 1990, outras comunidades surgiram fazendo com que todo trabalho
ficasse pormenorizado diante de tanta gente favelada.
Porém, nenhuma outra obra
de infra-estrutura e saneamento básico foi realizada, e mesmo em Varginha
as obras de saneamento não foram concluídas, a
paviment... a ruas, elas são meio que por conta do morador, se tá esburacada o
morador vai lá e conserta... a instalação de água, esgoto, luz, é tudo muito
precário. Porque a preocupação do governo do estado foi acabar com o tráfico na
Varginha[24]
e não de
reformar aquela área, criando opções de emprego e lazer para todos. Mesmo assim
a comunidade foi redirecionada à cidadania, pois com o CCDC, vieram acesso a
advogados e a justiça. Os traficantes não mais decidiram sobre suas vidas.
Infelizmente, o emprego e as opções de lazer não foram estimuladas e o
comércio, esse praticamente não existia ali. Mesmo com todos esses aparelhos
sociais, Varginha tornou-se o que os próprios moradores chamavam de “comunidade
dormitório”, onde as pessoas saem pela manhã para trabalhar, deixam seus filhos
na creche e voltam a noite apenas para dormir. Não há empregos em Varginha
porque não há comércio. A distância de outras escolas leva o jovem apenas até à
oitava série, já que no CIEP de Varginha não há ensino médio. As relações
sociais entre os moradores são poucas, pois não há uma opção de lazer que
auxilie em uma congregação nos fins de semana. Apenas as igrejas cristãs
separam os “de Deus” dos “do mundo”. O tráfico de drogas e a violência acabaram
em Varginha.
Com mais de setenta
porcento dos pontos de venda de drogas no Rio de Janeiro e com a polícia tendo
fácil acesso a Varginha, era óbvio que a casa
Amarela não poderia ser mais utilizada pelos bandidos e que o deslocamento
para qualquer outra favela seria igualmente fácil aos traficantes. Mangueira,
toda a zona sul, zona norte, baixada, Niterói... ou mesmo qualquer outra das 13
comunidades do Complexo de Manguinhos...
qualquer lugar poderia abrigar também outras casas que oferecessem segurança
para os narcotraficantes e para suas armas, drogas e planos. À medida que o
mercado consumidor dos produtos do Comando
Vermelho aumentava, já nos anos 1980, outras casas eram ocupadas em outras
comunidades e utilizadas da mesma forma que a casa Amarela.
Março de 81 (...) reservava notícias desagradáveis
para a polícia. Farta correspondência de presos da Ilha Grande é encontrada num
barraco do Morro do Adeus, em Bonsucesso, subúrbio do Rio. Na casa de Maria
José Ferreira da Silva, documentos apreendidos mostram que a organização usa um
código para se comunicar: o alfabeto congo, um conjunto de sinais e ideogramas
que garante um correio seguro. Um mês inteiro foi necessário para decifrar o
código do Comando Vermelho. (AMORIM, C., 2004: 163)
Casas como aquela Amarela, multiplicaram-se pelo Rio de
janeiro e estão em funcionamento hoje, em qualquer lugar onde o Estado ainda não consegue chegar com as
suas “intervenções urbanísticas”. Principalmente onde não consegue, ou não quer
escolas e hospitais. Onde a polícia, após o Governo Brizola, voltou a invadir
casas e humilhar pessoas, gerando descrença no papel do Estado, em proteger os cidadãos, ficando uma pergunta: os favelados
são cidadãos? O que se sabe que se o Estado
não manda nas favelas, o tráfico o faz ao seu modo.
A casa Amarela, na comunidade de Varginha, permaneceu como um
paralelo entre a história de inércia do Estado
e a recente ocupação dos traficantes em lugares onde o poder público não
consegue, ou não quer, estar.
Ainda hoje, os moradores de
comunidades carentes do Rio de Janeiro, esperançosos de que obras públicas
possam trazer algum alívio para suas vidas, acreditam piamente nos novos
modelos de intervenção que julgam transformar as favelas em bairros, como
sempre quiseram. Porém, por ignorância, não sabem que os novos programas de
melhoria das condições de vida dos favelados, insistem num erro já cometido;
esquecem que esses cidadãos tem direitos que vão além de uma relativa
segurança, e que também perpassam a educação de qualidade, um bom emprego, uma
moradia higiênica e lazer das crianças. Esquecem que tudo que os favelados
fazem é assistir TV, e querem as mesmas coisas que todo mundo quer ter, e para
isso falta dinheiro a quem ganha apenas um salário mínimo. O Estado sempre ignorou os favelados,
tratando-os sistematicamente como marginais, para que a vida dos cidadãos
corresse calma e pacífica.
MANGUINHOS
Manguinhos
é uma região da Zona Norte, Capital do Estado do Rio de Janeiro. Próxima a Baía
de Guanabara e a Fiocruz, as treze comunidades que ficam entorno da Fundação,
são cortadas pelos Rios Faria-Timbó, Jacaré e o Canal do Cunha. Essas vias recebem
os esgotos in natura de Manguinhos e
de dezenas de outros bairros por onde passam anteriormente, antes de desaguar
na Baía de Guanabara. Por conta disso, os rios que passam por Manguinhos são
considerados a segunda maior fonte poluidora da Baía de Guanabara[25].
Segundo
os historiadores Tania Fernandes e Renato Gama-Rosa, até os anos finais do
século XIX, a região era ocupada exclusivamente por fazendas que produziam
gêneros alimentícios
para o abastecimento da Cidade. Em 1899 foi instalado em uma das fazendas, na
propriedade de Rosa Alexandrina de Freitas, o Instituto Soroterápico[26], que enfrentou durante os
primeiros anos, dificuldades de deslocamento de seus funcionários, dado o
distanciamento do centro da cidade, onde se localizava a mão de obra necessária
para o funcionamento da instituição.
A divisão do Grande Rio
de Janeiro em grandes zonas, por influência do urbanista francês Alfred Agache
nos anos 1920, entendia que o zoneamento como instrumento de planejamento
urbano, para além da preocupação com a indústria, também deveria contemplar
áreas como a Zona Central e Comercial, a Zona de Residência, a Zona Suburbana e
a Zona de Espaços Livres e Zonas de Reservas Arborizadas.
A região de Mangue
(naturalmente, de onde se origina a expressão Manguinhos) destinada à Zona
Industrial deveria sofrer então uma série de intervenções, como aterramentos,
construção e abertura de pontes e ruas, pois, embora fosse regularmente servida
de rede elétrica, e até viação urbana, ainda carecia de redes de água, esgoto e
farta mão-de-obra local suficientes para receber as indústrias. Esta última dificuldade,
segundo o que também foi abordado por Valladares, no livro A invenção da favela. Do mito
de origem a favela.com., foi superada com a reforma urbana de Pereira Passos,
que apelidada de bota-abaixo,
extirpou do centro da cidade os cortiços e demais moradias consideradas
anti-higiênicas. Assim como nos dias atuais, as possibilidades de emprego são
maiores para aqueles que residem próximos ao centro e zona sul da cidade. Dessa
forma, grande parte da população despejada dos cortiços do centro do Rio de
Janeiro, procurou construir suas casas o mais perto possível dos seus empregos.
O Instituto, assim como outras empresas e indústrias que viriam a ocupar Manguinhos,
se beneficiaram deste aumento da oferta de mão-de-obra, que favoreceu a
implantação das primeiras comunidades denominadas parques proletários (Parque
Oswaldo Cruz (1903) e o Parque Carlos Chagas (1941)).
A
intervenção em Manguinhos foi iniciada no ano de 1922, e enquanto o aterramento
era realizado, nas décadas seguintes, a área continuou em evidência nas
propostas de urbanização e ocupação da região. A Empresa de Melhoramentos da
Baixada Fluminense responsável por urbanizar a região, transformando seus
pântanos e áreas alagadas em terrenos secos, salubres e irrigáveis, além de
permitir o povoamento sistemático de toda aquela região, aterrou os mangues,
corrigiu trechos do leito da Leopoldina, retificou e desobstruiu rios Jacaré e
Faria-Timbó e abriu canais, visando a ocupação dos subúrbios.
Figura I

Em
síntese, o processo de ocupação pode ser dividido em cinco etapas durante todo
o século XX: 1901, Parque Oswaldo Cruz ou Morro do Amorim.; 1940, Parque Carlos
Chagas ou Varginha; 1951-1955, Parque João Goulart, Vila Turismo, Conjunto
Habitacional Proletário II – CHP2 e Vila União; 1983-1988, Comunidade Agrícola
de Higienópolis e Vila São Pedro; 1990-2005, Conjunto Habitacional Nélson
Mandela, Conjunto Samora Machel, Mandela de Pedra, Conjunto Samora II ou Embratel
e Comunidade Vitória de Manguinhos ou Conab (Companhia Nacional de
Abastecimento).
PARQUE CARLOS CHAGAS OU
VARGINHA
A história da comunidade
Parque Carlos Chagas, segunda comunidade mais antiga de Manguinhos, está
intimamente ligada a série de intervenções que sofreu toda a região para sua transformação
em Zona Industrial. A comparação entre a Figura I e a Figura II, nos mostra o
quanto a área foi modificada, principalmente, os rios Jacaré e Faria-Timbó,
minimizando a região de mangue e proporcionando melhor acessibilidade para os
serviços de água, esgoto e transporte no perímetro. A iniciativa pública
intervenção na região criou ao lado do Instituto Soroterápico Federal (hoje,
Fundação Instituto Oswaldo Cruz) uma região mesopotâmica, que assumiu
características próprias em sua origem e relacionamento com as demais
comunidades de Manguinhos.
Entre os rios Jacaré e
Faria que atualmente se unem na extremidade da região, seguindo em direção ao
Canal do Cunha, essa comunidade tinha ainda a sua frente uma grande propulsora
de ocupação, a Estrada de Ferro Leopoldina[27], aberta em 1886 e a Rua Leopoldo
Bulhões, em 1941.
Figura II

Ainda em 1941, saindo da
Rua Leopoldo Bulhões, é aberta uma pequena rua que corta ao meio a área
delimitada pelos rios recompostos. Esta via, em homenagem ao renomado cientista
brasileiro do Instituto Oswaldo Cruz, recebe o nome Rua Carlos Chagas. Tal foi
a importância da abertura dessa pequena rua, que juntamente com a Rua Leopoldo
Bulhões e a linha ferroviária, foram definidos o nome da comunidade (Parque
Carlos Chagas) e os anos em que a região foi efetivamente ocupada (década de
1940).
A iniciativa do poder
público de arruamento do local, sem, porém, a preocupação social com a área,
propiciou uma ocupação desordenada da região. Surgiram à beira dos rios
palafitas que por um lado se aproximavam das margens da Fiocruz, e que pelo
outro, quase uniram o Carlos Chagas ao terreno que nos anos noventa, foi
destinado à construção de Conjunto Nelson Mandela[28]. Neste processo, as palafitas que já
ocupavam quase totalmente as extremidades da comunidade, avançaram também sobre
a extremidade da favela, em direção a um pequenino espaço de terra perdido na
junção dos dois rios. Os barracos acabaram por unir, através de tábuas e
pregos, a exígua Ilha das Cobras ao Parque Carlos Chagas.
Com o aumento
populacional na comunidade, as condições básicas de saneamento ou de obtenção
dos serviços de luz, gás, água e telefone, tornaram-se ainda mais difíceis. E a
união dos moradores de Carlos Chagas provou-se então com a criação, em 1967, do
time de futebol Rio-Petrópolis, que conseguiu congregar as pessoas da
comunidade em torno de interesses comuns. A partir daí, no mesmo ano do time,
eclode também a Associação de moradores, com o nome de Associação
Pró-melhoramentos, que hoje funciona ao lado de um bem cuidado campo gramado de
medidas oficiais.
Entretanto, apesar da
união dos moradores, o problema crônico de enchentes em Carlos Chagas, pelo
qual também se fez conceder o apelido à comunidade de “Varginha[29]”, continuou a assolar a região. A
“Varginha”, além de seus rios laterais, caracteriza-se por ser uma área baixa,
se comparada a outras comunidades de Manguinhos e também a Fiocruz. Às chuvas
torrenciais do verão carioca unem-se histórias de moradores que assistiram a
junção dos dois rios em uma única maré sobre a comunidade, levando todos os
pertences das casas da comunidade.
Deu a enchente, foi uma de 4 metro d’água. ‘Cabou’
tudo o que a gente tinha, ficou o lais [estrado] da cama, porque arrebentou a
porta dos ‘fundo’ e carregou tudo, e o lais [estrado] da cama ‘engadanhou’
assim na porta (...) com aquela lama com cobra, com rato, que foi um sufoco
para a gente curar[30].
Com os anos de ocupação
desordenada, as enchentes, a alta densidade de barracos, palafitas, vielas e
becos e a ausência do Estado em
proporcionar programas de saúde, segurança e educação, Varginha se tornou, como
muitas outras comunidades carentes, uma região onde apenas seus moradores conseguiam
caminhar sem a preocupação de se perder ou de sofrer de alguma forma, com a
falta de segurança.
Figura III

O crescimento da
violência na década de 1980 em Carlos Chagas e nas quatro comunidades que ficam
do lado oposto da linha férrea (CHP-2, Parque João Goulart, Vila Turismo e Vila
União, surgidas na década de cinqüenta), concorreu para o isolamento de
Varginha mais do que qualquer outro fator natural. Segundo relatos de
moradores, uma verdadeira guerra envolvendo o tráfico de drogas separava
forçosamente o convívio das comunidades já apartadas pela linha férrea. Como
conseqüência dessa violência, a Escola de Samba Unidos de Manguinhos, que fica
em CHP-2, perdeu a freqüência dos moradores de Varginha em sua quadra, enquanto
estes passaram a sonhar com a própria escola de samba a ser construída em um
pequeno terreno livre, logo ao lado da Associação de Caminhoneiros que funciona
na comunidade. Porém, um incêndio em 1989, que destruiu grande parte de CHP-2 e
João Goulart, juntamente com a intervenção do exército em resguardar os
desabrigados em barracas-de-campanha e depois removê-los para casas de madeira
construídas na área pretendida para uma praça ou para a escola de samba de
Varginha, aproximou novamente as
comunidades.
A decisão dos moradores
de Varginha em privilegiar aquelas pessoas que passavam por uma situação
extremamente difícil gerou uma curiosa peculiaridade em Parque Carlos Chagas:
surgiu desse impasse uma comunidade dentro da comunidade de Varginha. Nos anos
que sucederam o desenvolvimento da comunidade, baseado em uma novela de sucesso
dos anos noventa, em que as pessoas de uma cidadezinha nordestina se esforçavam
para falar inglês, a área espremida entre o CIEP e a Associação de
Caminhoneiros, ocupada pelas vítimas do
incêndio de 1989 que não conseguiram recolocação em outras localidades, foi
chamada pelos próprios moradores de Green
Ville[31].
Atualmente, não existem
mais barracos de madeira em Varginha. As grandes reformas implementadas na
comunidade deixaram-na com aspectos comuns de um bairro suburbano do Rio de
Janeiro. Entretanto, apesar da rede de luz, água e telefone funcionarem bem, as
casas de Varginha continuam contando apenas com um sistema que lança in natura, o esgoto dos moradores nos
rios Jacaré e Faria-Timbó. Segundo relatos de moradores, Varginha atualmente
tem pouquíssima violência, mas também tem pouquíssimo lazer, emprego e
comércio. Os moradores, ao buscar tais coisas, devem se deslocar para outras
comunidades, retornando a Varginha apenas ao final do dia de trabalho ou
diversão. Isso levou a alguns moradores a chamar a própria comunidade de
“dormitório”:
Porque quem ficou na Varginha... é... assim, a maioria
das pessoas que mora na Varginha antes, são moradores bem antigos e a Varginha
virou assim... comunidade-dormitório. Ela é bem morta mesmo. Quem tá lá não
quer mais bagunça, já não tá mais interessado em tanto agito, a Varginha tem
poucos bares, tem poucas... é... tem muitos jovens, mas os jovens não agem na
rua, eles saem dali vão pra outras comunidades de Manguinhos... Por conta do
esvaziamento a violência na Varginha abaixou, então os jovens já não ficam na
rua, eles já ficam em outra comunidade porque ela é mais agitada. Até o campo
de futebol já foi mais esvaziado por conta disso. Então esse movimento, ele
esfriou, porque já não encontrava mais eco nos outros moradores[32].
A CASA AMARELA
Figura IV e V

E essa casa era a casa onde ficavam, onde eles
pensavam os seqüestros. (...) Era um grupo grande que se reunia, mas tinha
cinco cabeças. Esse é o primeiro momento, quando eles pensaram o seguinte: o
banco estava ficando difícil, a segurança estava aumentando, e eles precisavam
continuar mantendo grana. Aí eles começaram a discutir... Eu me lembro bem que
eles tinham sempre um pote branco com um pó branco que eu não sabia o que era,
um pote assim, dessa cor. (...) Na época, eu me lembro que o Dino ficou
responsável por assumir Niterói. O Meio Quilo ficou na área aqui. O Denis ficou
em Acari, se eu não me lembro (sic),
e o Marquinho ficou responsável pela área do Estácio, Rio Comprido, ali. O meu
cunhado ficou responsável pela Mangueira. O meu irmão era “bucha” porque meu
irmão não gostava de matar ninguém, o meu irmão era o cão fiel do meu cunhado,
meu irmão[33].
Segundo alguns membros do Núcleo de Estudos Sobre
Substâncias Psicoativas e Sociedade (NEPAS), André Saldanha e Thiago Braga, a
adesão dos assaltantes a banco e sequestradores ao tráfico de drogas, aconteceu
não antes do ano de 1979[34].Os anos que antecedem essa
mudança de ações criminosas, são marcadas por intensas perseguições da polícia
a bandidos que cometiam seqüestros, assaltos a banco e residências. A fuga
desses criminosos para locais onde o Estado
está ausente, como as comunidades carentes do Rio de Janeiro, tornou as
favelas, um labirinto de difícil acesso aos policiais, o lugar perfeito para um
esconderijo.
Conseqüentemente, os primeiros gerentes do trafico
(Escadinha, Gordo, Viriato Japonês, Rogério Lemgruber entre outros) ao instalar
seu “Quartel Geral” nas favelas, multiplicaram as bocas de fumo, ganhando em
pouquíssimo tempo muito dinheiro, visto que ainda não havia necessidade de
investir em armamento pesado[35].
Os primeiros anos da década
de oitenta, foram marcados por maiores conflitos para a expansão do tráfico de
drogas nas comunidades vizinhas, e mesmo, comunidades distantes. No mesmo período,
determinante para a organização, os bandidos decidem pelo barato e lucrativo
tráfico de drogas. Em Varginha, a continuidade de muitos desses planejamentos,
a casa Amarela perdurou por mais de
uma década, onde através de relatos podemos aferir as discussões sobre as
invasões, até a segunda intervenção urbanística, que acabou de vez com a
característica de esconderijo da favela.
(...) o Gustavo é que estava de cumplicidade com eles
aqui e traindo a Mangueira. Na verdade, o Gustavo estava traindo... traiu feio
a Mangueira. Morreram 21 pessoas no... no carnaval de 1994. Foi o pior dia da
minha vida. Eles se reuniram aqui, organizaram a invasão da Mangueira... Eles
perguntavam: “Quantas entradas tem a Mangueira, I.? “Eu falava: “Olha, várias.
Tem uma ‘boca’ aqui, uma ‘boca’ ali, uma ‘boca’ acolá”, e tal... Eles cercaram
todas as entradas da Mangueira. Eu chorei muito nesse dia. Porque as pessoas vão
te perguntando, você vai respondendo, né? Aí, depois, a pessoa te diz: “Olha,
não vai à Mangueira hoje.” E eles escolheram para invadir a Mangueira na hora
do desfile. Muita covardia! (...) ...21 pessoas em menos de 10 minutos... [36]
Figura VI


Assim como André Saldanha, o
jornalista Carlos Amorim, identifica nos anos 1980, o crescimento dos cartéis
de Cali e Medelin, ambos colombianos, às necessidades dos assaltantes de bancos
e seqüestradores, por mais facilidades de ações e maiores lucros. Segundo os
membros do NEPAS, um convite desses cartéis transformou o Rio de Janeiro, de
rota do tráfico para a Europa, em mercado consumidor paras as drogas. Contudo,
os novos traficantes brasileiros deveriam, numa jogada empresarial, ter o
controle total da venda de seus produtos[37], controlando assim, o valor
final ao consumidor.
A intenção dos
narcotraficantes de permanecer à penumbra da sociedade levou-os, como escreve
Hobsbawm em Bandidos, aos lugares de
difícil acesso para o Estado, onde
puderam fixar-se com a tranqüilidade necessária para a discussão de mudanças de
rumo em seus negócios.
O banditismo floresce quase invariavelmente em áreas
remotas e inacessíveis, tais como montanhas, planícies não cortadas por
estradas, áreas pantanosas, florestas ou estuários, com seu labirinto de
ribeirões, e é atraído por rotas comerciais ou rotas de grande importância, nas
quais a locomoção dos viajantes, nesses países pré-industriais, é lenta e
difícil.(Hobsbawm, E. 1975: 14).
Os anos 1980, com capital
suficiente para investimento, foi marcado não só a mudança de investimento criminal (MISSE, M.,
1999: 309), mas também
de relacionamento dos bandidos com as comunidades carentes do Rio de Janeiro.
Desta forma dentro do conselho do Comando Vermelho há
também mudanças, que em 1984 passaram a ser compostas por uma maioria de novos
traficantes. Estes, por sua parte, para garantir o fortalecimento da relação
orgânica com os moradores da favela, sobretudo os mais pobres, passam a
investir muito de seus lucros nas necessidades sociais das comunidades dos
morros. Assim, nas favelas ligadas ao tráfico, surgem os famosos postos
médicos, creches, saneamento, condutas de água potável, galpões para os
concertos de música funk, bem como lojas e “biroscas” que são abertas com a
“doação” do chefe local do tráfico, inclusive igrejas evangélicas[38].
A casa Amarela, neste lugar em especial, tinha no seu entorno, além
da Fiocruz, cinco outras comunidades: Vila União, Parque João Goulart, Vila
Turismo, Conjunto Habitacional Provisório 2 (CHP-2) e Parque Oswaldo Cruz
(Morro do Amorim). Essas comunidades, na ótica empresarial dos novos
traficantes, seriam os primeiros pontos a receber a nova organização. Como
citamos anteriormente, contando a história de Parque Carlos Chagas e Varginha,
as comunidades de Parque João Goulart, Vila Turismo e CHP-2, foram as primeiras
a sofrer com o intento de expansão dos pontos de venda das drogas. O lazer
criado pelos moradores de Manguinhos, dentro da Escola de Samba Unidos de
Manguinhos, perdeu sua força de união entre as comunidades, pois, qualquer um
vindo de outra região, poderia ser considerado um espião.
O Comando dessa guerra, pelo lado Vermelho,
decidia os ataques para a tomada de morros e favelas através das reuniões
feitas na casa Amarela, como foram os
casos das demais comunidades em Manguinhos e também, outras comunidades mais
distantes, como a Mangueira. A violência tornou-se endêmica na região e o
trânsito de pessoas começou a ficar restrito às comunidades que estavam sob o
comando das mesmas facções. Enquanto o glamour
da refinada cocaína colombiana invadia a vida da Geração Coca-cola[39], a maconha passa a ser
considerada coisa de pobre. O consumo
da nova droga atinge em cheio as classes mais abastadas do Rio de Janeiro.
O ano de 1989 levou Brizola
novamente ao Governo do Rio de Janeiro. A pressão das elites sociais sobre um
governo que criou linhas de ônibus dotadas do trajeto Zona Norte – praias da
Zona Sul, construiu escolas de regime integral para as classes mais baixas,
legalizou casas com o programa Cada
Família Um Lote e levou a cabo os projetos de urbanização de favelas,
começou mesmo antes de sua eleição para o primeiro governo, em 1982. Brizola
foi acusado de apoiar os bicheiros, freqüentemente envolvidos com a violência e
tráfico de drogas na cidade. Alguns jornais passaram a identificar esse suposto
apoio com a sedimentação do crime organizado; isto é, o governo Brizola foi
identificado como responsável pelo tamanho crescimento do tráfico de drogas no
Rio de Janeiro. O ato de legalizar as casas construídas por favelados, frutos
de invasões a terrenos privados, juntamente com a preservação dos chamados
direitos humanos dos mesmos favelados, fomentou ainda mais pressões sobre seu
governo. Os policiais foram proibidos de ocupar as favelas sem um mandato
específico de busca, respeitando direitos jurídicos como os de propriedade
privada –dos favelados. Segundo relatos que obtivemos no Projeto História e
Memória das Comunidades de Maguinhos, Brizola (...) entrou com mais respeito...
o Brizola. Agora, quando entrou o Marcelo
Allencar, isso não aconteceu não, isso mudou...[40]
Tenório Buarque de
Holanda, responsável pelo Grupo Executivo para
Recupeção e Obras de Emergência (GEROE) a partir de 1991, reformulou o
projeto de intervenções nas comunidades carentes do Rio de Janeiro e escolheu
Parque Carlos Chagas como primeiro lugar a receber o novo programa. O Estado
visava tornar Varginha um modelo de ação pública-social a ser seguido em outras
comunidades carentes do Rio de Janeiro.
No mesmo ano, foi aberta
e pavimentada então uma rua beirando o Rio Jacaré, conhecida como Beira-Rio. A
via que corta a comunidade, a rua Carlos Chagas, foi totalmente pavimentada,
juntamente com a pequena Rua Jacaré, que une a recém aberta rua Beira-Rio com a
Carlos-Chagas. Os Rios Jacaré e Faria-Timbó, com históricos de enchente, devido
ao assoreamento, foram alargados e dragados. Neste mesmo programa, as palafitas
que seguiam o Rio Jacaré até a Ilha das Cobras, foram completamente removidas.
O espaço entre Varginha e
a Ilha das Cobras foi, aterrado e transformado em uma pracinha com mesinhas de
concreto para os adultos e escorrega e balanços para as crianças. Juntamente
com a abertura das ruas, foi construído o CIEP Juscelino Kubtscheck e a Casa
Comunitária[41], e um quarteirão inteiro da
comunidade foi reservado para a instalação posterior de aparelhos sociais como
o Centro Comunitário de Defesa da Cidadania - CCDC, e mais tarde, em uma
segunda intervenção, o Centro Municipal de Atendimento Social Integrado - CEMASI
e uma Creche, além do campo de futebol do Rio-Petrópolis, que continuou na
localidade.
A intervenção do GEROE em
Varginha visava tornar a comunidade assistida de todos os aparelhos sociais
compostos pelo Estado. Contudo, sobre a entrada na comunidade, Tenório Buarque,
em entrevista, nos alertou que Era uma
área muito violenta, a polícia não entrava ali. Então agente tem que fazer esse
trabalho no meio de metralhadoras[42]. As
dificuldades encontradas pelos técnicos do Grupo foram além das remoções
impostas aos moradores de palafitas, que foram realocados na comunidade de
Bento Ribeiro Dantas. Tenório afirma que todo projeto era voltado a ouvir das
comunidades, as preferências e intenções dos moradores eram sempre levadas em
conta nos momentos de construção de uma nova via ou alargamento dos rios.
Afirma também que o tráfico de drogas dificultou todo o processo de remoção das
casas, além de impor ao Estado, através de pressões aos chefes do projeto, que
não fosse aberta uma outra rua na margem direita da comunidade. Essa terceira
rua daria acesso direto a todas as viaturas dentro da comunidade. Fincou-se
aqui os limites do Estado perante o mandonismo local dos traficantes que
comandavam a região da casa Amarela.
Figura VII

Quase dez anos mais
tarde, quando o domínio do Comando
Vermelho já atingia a maioria das favelas do Rio de Janeiro, Varginha é
novamente “visitada” pelo Poder público. Em uma segunda intervenção, desta vez,
Municipal, pelo Projeto Favela-Bairro no ano de 2000, foi finalmente,
construída a rua marginal ao rio Faria-Timbó, chamada de Oswaldo Cruz. As
palafitas que ainda resistiam em Varginha, foram completamente removidas e
construiu-se o Centro Municipal de Atendimento Social Integrado - CEMASI e uma
Creche. Ao final das ruas Beira-Rio e Oswaldo Cruz, foi construído um retorno
unindo-as à beira da praça que também foi reformada. Os becos, que davam
passagem às palafitas nas margens do Faria-Timbó, foram fechados pela ampliação
das casas de alvenaria.
Figura VIII

Além da instalação de
diversos aparelhos sociais, trazendo novamente aquela população para o cidadania,
durante as intervenções, outro resultado desse programa, como se o Poder
público não soubesse o que aconteceria, foi a queda vertiginosa da violência em
Varginha. As largas ruas laterais, juntamente com a rua Carlos Chagas,
realizaram exatamente o que os traficantes mais temiam, facilitaram o acesso
direto da polícia no local com suas viaturas e, por conta disso, inviabilizando
o local como esconderijo deles.
Podia-se sair num beco, entrar no outro... circular
né?! Quem tá perseguindo tá vindo atrás, não vai ver se entrou no outro...
tinham vários bequinhos que cortavam essa margem aqui toda e, facilitavam a
fuga. (...) A medida que passou uma pista ao longo da margem do Faria-Timbó,
isso acabou, que aí é uma pista asfaltada, tem gente que pára o carro lá trás[43].
O programa de reforma
urbanística do Governo Brizola levou, como dissemos na História da comunidade Parque Carlos Chagas, o CIEP e uma série de
aparelhos sociais a localidade. Mesmo não conseguindo levar a cabo todo o
projeto de intervenção, o GEROE deixou espaço suficiente, defendido durante
anos pelos moradores, para a construção de novos aparelhos na comunidade. Assim
como Hobsbawm avalia que o banditismo floresce em lugares onde o Estado tem dificuldades para o acesso de
suas forças repressivas, o historiador também ressalta que Freqüentemente basta a construção de estradas modernas, que permitam
viagens fáceis e rápidas, para reduzir bastante o nível de banditismo.(Hobsbawm,
E. 1975: 14).
Figuras IX e X

A casa Amarela, assim como toda a Varginha, tornou-se então um lugar
onde a polícia poderia entrar e sair facilmente, e as reuniões que envolveram
alguns dos líderes do Comando Vermelho
desde o início da década de 1980, corriam agora grande risco com a polícia, que
assediava a comunidade com freqüência. Muitos dos becos entre uma casa e outra,
que vemos na figura XII, foram fechados pelos próprios moradores, que visavam
aumentar suas propriedades, como podemos ver próximo da própria casa Amarela.
Figura
XII

À medida em que as ruas ficam largas, não têm barracos
pra se esconder... uma pergunta que [se] faz: se as pessoas que... elas
estimulavam a ação do tráfico. Não, é o lugar! Então quando o governo vem e
tira as casas das margens do rio, alarga as ruas, diminui o espaço físico da
Varginha, não tem mais como o tráfico se esconder![44]
A casa Amarela não é a única do Rio de janeiro. Sua utilização como
se fosse um Aparelho do tráfico de
drogas marcou a comunidade Varginha, em Manguinhos. Outras casas como esta, que
escolhemos para nosso trabalho, serviram aos novos traficantes de drogas como
local de reunião, refúgio, paiol de armas e esconderijo de drogas, principalmente
quando o negócio expandiu. Casas em
várias comunidades como a de Bonsucesso, citada no mito, foram utilizadas com a
mesma finalidade até serem encontradas pela polícia ou abandonadas por outras
mais convenientes aos bandidos. Podemos dizer que em cada favela do Rio de
janeiro, onde o Estado está ausente
de suas funções primordiais, instalam-se locais onde os “donos” dos morros
comandam livremente seus negócios. É nessas casas onde o morador de comunidades
carentes vai pedir auxílio para compra de remédios e fazer reclamações de
determinados vizinhos, que estariam de alguma forma transcendendo o conjunto de
regras estipulado. É onde se constrói um mundo marginal ao Contrato Social,
a tudo aquilo que a maioria dos cidadãos brasileiros deveriam ter assegurado,
mas não tem. Podemos dizer, contudo, que a maior particularidade da casa Amarela, foi ser utilizada enquanto
o tráfico de drogas mudava seus negócios em direção o que é hoje. Um dos
presentes nas reuniões, Carlos Gregório, conhecido como o Gordo, considerado
muito inteligente e idolatrado por algumas pessoas de Varginha, no documentário
Notícias de uma guerra particular,
lançado em 1999, fala desse período em que o confronto com a polícia foi muito
intenso, matando muitos integrantes da facção e ando origem a outros, nem
sempre com os mesmos intuitos, mas com a mesma sede de Poder:
A intenção era entrar em todos os buracos deixados
pelo Estado. (...)
As pessoas que viveram nessa época aí, elas tem a
mania de dizer, né?! “Abortou! Não chegou a ter um minuto de vida”. Essas
pessoas morreram na primeira ação. Morreram nesse pinote, na primeira ação,
quer dizer, desmantelou tudo. Desorganizou tudo. Em conseqüência disso as
pessoas começaram a sair a doidado e as coisas foram mudando... foram mudando e
ficou o mito, só ficou o nome Comando Vermelho. E hoje é esse mito que todo
mundo vê, essa coisa alarmosa que é o Comando Vermelho. (Notícias de uma guerra particular. SALES, J. M. e LUND, K, 1999)
O tráfico de drogas
obviamente não retrocedeu, cambiando seus pontos de reunião e esconderijo para
lugares mais seguros do que a Varginha reformada. Justamente pelo fato da casa Amarela se encontrar hoje em uma
comunidade onde a polícia pode entrar e sair com imensa facilidade, ela não tem
a menor serventia para o tráfico de drogas.
Não obstante, casa Amarela continuou e continua de pé,
abandonada por muitos anos. Toda a história de violência da casa, relacionada
às decisões de seqüestro, assaltos a banco, envolvimento com as drogas vindas
dos maiores cartéis do mundo, guerras, mortes, subornos, banditismo-social,
marxismo, armas, ausência do Estado...
tudo isso seriam mesmo bons motivos para uma casa jamais ser ocupada novamente
se ela não ficasse em uma favela. Um lugar em que a miséria e o descumprimento
de políticas básicas que teriam direito qualquer cidadão, não são cumpridas. O locus do mal, reprimido, mas não
dissolvido pela Ordem Social, uma casa Amarela que aliena sua memória a
história da desigualdade social e violência no Rio de Janeiro, exatamente o
lugar onde ninguém gostaria de estar. Apesar de todos esses motivos, ainda
parece contraditório existir uma casa telhada e de alvenaria, próxima ao centro
da cidade, onde a renda per capta é
baixíssima e onde todos se conhecem e se amontoam em espaços exíguoa, formando
uma grande família... Mas, talvez, o depoimento de mais um ex-morador de
Manguinhos, ao revisitar suas memórias sobre o passado, poderá nos fazer
entender o que é a casa Amarela
realmente é, não apenas para Varginha, mas também para sociedade:
Assim como tem o poder oficial que tomba
historicamente seus patrimônios, ela ficou meio que tombada, continua lá, de
pé, ninguém ocupa, nada acontece, e... nisso ela ficou meio como um simbolismo,
existe uma áurea de mistério em torno dela. É um mistério que agente tem um
certo receio de ‘tar futucando’ para descobrir as coisas[45].
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NOTÍCIAS DE UMA GUERRA
PARTICULAR. João Moreira Salles, Kátia
Lund Brasil, 1999.
O QUE É ISSO COMPANHEIRO. Bruno Barreto,
1997.
QUASE DOIS IRMÃOS. Lúcia Murat. 2005.
Música
GERAÇÃO COCA-COLA. Renato Russo. Banda Legião Urbana.
[1]
Entrevista concedida por G. e C. Fita 2, lado B. 07 de abril de 2004. História
do Lugar e das Pessoas.
[2]
Entrevista concedida por R. Fita 1, Lado B. 31 de agosto de 2004. História do
Lugar e das Pessoas.
[3]
Entrevista concedida por G. e C. Fita 02, lado A. Op. Cit.
[4]
Entrevista concedida por G. e C. Fita 02, lado A, 07 de abril de 2004. História
do Lugar e das Pessoas.
[5]
Entrevista concedida por J. S. e J. L., Fita 1, Lado A. dia 2 de junho de 2005.
História do Lugar e das Pessoas, no CEMASI de Manguinhos.
[6]
Entrevista concedida por R.. Fita 2, Lado A. 31 de agosto de 2004. História do
Lugar e das Pessoas.
[7]
Entrevista concedida por R. Fita 2, Lado A. Op. Cit.
[8]
Entrevista concedida por G. e C. Fita 02, lado A. Op. Cit.
[9]
Entrevista concedida por G. e C. Fita 02, lado A. Op. Cit.
[10]
Entrevista concedida por R. Fita 2, Lado A. Op. Cit.
[11]
Galeria LSN, setor era onde, dentro do Presídio de Ilha Grande, se localizavam
todos aqueles presos, políticos ou comuns, que por algum motivo foram
condenados pela Lei de Segurança Nacional.
[12]
Entrevista concedida por G. e C. Fita 2, lado B. Op. Cit.
[13]
Entrevista concedida por R. Fita 2, Lado A. Op. Cit.
[14]
Idem.
[15]
Jornal O Globo. Comando Vermelho tem 4
‘bocas’ na UFF. Quinta-feira, 22 de julho de 1993.
[16]
Entrevista concedida por R. Fita 2, Lado A. Op. Cit.
[17]
Idem.
[18]
“Arrego” é como é chamado vulgarmente o ato de pagar pelo favor; corrupção;
pagamento de propina.
[19]
Gíria utilizada por traficantes que designa aquele que e inimigo.
[20]
Entrevista concedida por G. e C. Fita 2, lado B. Op. Cit.
[21]
Idem.
[22]
Entrevista concedida por G. Fita 5, lado A. Dia 19 de novembro de 2004. História
do Lugar e das Pessoas.
[23]
Entrevista concedida por G. e C. Fita 2, lado B. Op. Cit.
[24]
Idem.
[25]
Comunidades de Manguinhos: história do lugar e das Pessoas. Tania Fernandes e
Renato Gama-Rosa, novembro de 2005. Apresentação no VI Encontro Regional
Sudeste de história Oral.
[26] Este
seria responsável pela fabricação de alguns
soros e vacinas. Segundo os preceitos científicos de pesquisa e de segurança de
época, o Instituto deveria ficar afastado do centro da cidade para evitar
possíveis contaminações.
[27] Segundo a Fundação Centro de
Defesa dos Direitos Humanos Bento Rubião, no Diagnóstico Rápido Participativo
da comunidade de PARQUE CARLOS CHAGAS, realizado em dezembro de 2000.
Inicialmente, a Estrada de Ferro Leopoldina, chamava-se Estrada de Ferro do
Norte.
[28]
Conjunto Nelson Mandela é uma das treze comunidades que compõe Manguinhos,
pesquisadas no História do Lugar e das Pessoas.
[29]
Varginha é sinônimo de Campina cultivada. São terrenos baixos e planos, que
margeiam os rios e ribeirões; vargem.
[30]
Entrevista concedida por N. L. e J. F., Fita 1, Lado A. História do Lugar e das
Pessoas.
[31] A comunidade de Green Ville já conta com uma
Associação de Moradores. Contudo, atualmente, seus moradores se identificam
mais com o Conjunto Nelson Mandela (comunidade ao lado de Varginha), do que a
própria comunidade Parque Carlos Chagas.
[32]
Entrevista concedida por G. e C. Fita 02, lado A. Op. Cit.
[33]
Entrevista concedida por R. Fita 2, Lado A, 31 de agosto de 2004.Op. Cit.
[34]
www.portalpopular.org.br/rnb/entrevista/rnb-02.htm. Revista Nação Brasil
Número: 143. Op. Cit.
[36]
Idem.
[37]
www.portalpopular.org.br/rnb/entrevista/rnb-02.htm. Revista Nação Brasil
Número: 143. Op. Cit.
[39]
Musica Geração Coca-cola, Renato Russo. Banda Legião Urbana, década de 1980.
[40]
Entrevista concedida por G. e C. Fita 05, lado A. Op. Cit.
[41]
Instalada em 1985, por Brizola, distribuía alimentos para a comunidade. Atendia
cerca 2400 pessoas.
[42]
Entrevista concedida por Tenório Buarque de Holanda, Fita 1, lado B em 15 de
dezembro de 2005. História do Lugar e das Pessoas,
[43]
Entrevista concedida por G. Fita 5, Lado A. Op. Cit.
[44]
Entrevista concedida por G. e C. Fita 02, lado A. Op. Cit.
[45]
Entrevista concedida por G.. Op. Cit.
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