Ideologia
Todos
conhecem a famosa fórmula segundo a qual a
religião é o ópio do povo, isto é, um mecanismo para fazer com que o povo
aceite a miséria e o sofrimento sem se revoltar porque acredita que será
recompensado na vida futura (cristianismo) ou porque acredita que tais dores
são uma punição por erros cometidos numa vida anterior (religiões baseadas na
idéia de reencarnação). Desta mesma forma, a esperança funciona como meio de fazer com que a população continue
apática quando o assunto é melhoria das condições de vida. Passeatas, protestos, abaixo-assinados... nem pensar! Devemos ter
esperança, como nas mensagens de televisão de todo fim de ano, de que tudo vai
melhorar.
A
ideologia é produzida em três momentos fundamentais: a) ela se inicia como um conjunto
sistemático de idéias que os pensadores de uma classe em ascensão. Nesse
momento a ideologia se encarrega de produzir uma universalidade com base real
para legitimar a luta da nova classe pelo poder; b) ela prossegue tornando-se o
que Gramsci denomina de senso comum,
isto é, ela se populariza, tornando-se um conjunto de idéias e de valores
concatenados e coerentes, aceitos por todos os que são contrários à dominação
existente e que imaginam uma nova sociedade que realize essas idéias e valores;
c) mesmo após a vitória da classe que ascende ao Poder, a ideologia continua
interiorizada como senso comum e continua a nortear a nova Ordenação Social.
Podemos
utilizar como exemplo de introdução de uma ideologia, a Revolução Francesa, quando o Antigo Regime (Sociedade de Estamentos
– Nobreza, Clero e Plebe + Burguesia), ruiu diante de uma nova ideologia que
pregava liberdade de comércio e igualdade jurídica para todos os homens, sendo
amplamente aceita pela população. A burguesia, através de comícios, jornais e
escolas que controlavam, introduziram essas idéias, bem como exploraram a
imagem dos reis e do clero em situações de ridículo, fazendo com que a
população identificasse o Antigo Regime como algo ruim, de violência contra a
população. Desde então, a classe burguesa chegou ao Poder e pode fazer com que
seus novos valores e idéias continuassem a vigorar, tal como ainda é nos dias
de hoje.
Embora
a ideologia tenha a aparência de coerente como ciência, como moral, como
tecnologia, como filosofia, como religião, como pedagogia, como explicação e
como ação, isso ocorre apenas porque não
diz tudo e não pode dizer tudo.
Se dissesse tudo, se quebraria por dentro. Ou seja, se nós conseguimos ver a
ideologia por dentro, sabendo até que ponto ela entra em nossas vidas e o que
ela quer de nós, ela finalmente, não poderá mais fazer efeito em nós. O que
queremos dizer que a ideologia tem por característica se esconder, aparentando
ser um conjunto de idéias que não favorece a ninguém, não ajuda ninguém a
permanecer no Poder, desta forma, as classes dominadas continuam a crer que as coisas são como são, sem ter a menor
possibilidade de mudança. Se a dominação e a exploração de uma classe for
perceptível como violência, isto é, como poder injusto e ilegítimo, os
explorados e dominados se sentem no justo direito de recusá-la , revoltando-se.
Por este motivo, o papel específico da ideologia como instrumento da luta de
classes é impedir que a dominação e a exploração sejam percebidos em sua
realidade concreta.
Assim,
para que a população continue crédula de que não controla sua vida e que tudo
depende de um Ente superior, cujas vontades são insondáveis, elas devem
permanecer alienadas. Devem acreditar que não constroem ou participam da
história, devem acreditar que são apenas agentes passivos na vida que levam. A
esperança de que as coisas vão algum dia mudar, bem como creditar a um Ente
místico todas as conquistas terrenas, exemplificam bem essa situação.
A ideologia é, pois, um
instrumento de dominação de classe e, como tal, sua origem é a existência da
divisão da sociedade em classes contrárias em luta.
A
ideologia é uma ilusão, necessária a dominação de classe. Por ilusão não
devemos entender ficção, fantasia, invenção gratuita e arbitrária, erro,
falsidade, pois com isto suporíamos
que há ideologias falsas ou erradas e outras que seriam verdadeiras e corretas.
Por ilusão devemos entender: abstração e inversão. Inversão ou abstração do
real para uma ilusão diferente, tal como deseja a classe dominante; tal como
estudamos assistindo o filme Matrix.
A
ideologia consiste precisamente na transformação das idéias da classe dominante
em idéias dominantes para a sociedade como um todo, de modo que a classe que
domina no plano material (econômico, social e político) também domina no plano
espiritual (das idéias).
Isto
significa que:
1.
Embora a sociedade esteja dividida em
classes, a dominação de uma classe sobre a outra, faz com que só as idéias da
primeira sejam consideradas válidas, verdadeiras e racionais;
2.
Para que isto ocorra, é preciso que os
membros da sociedade não se percebam divididos em classes;
3.
Para que todos os membros se identifiquem com
essas características supostamente comuns a todos, é preciso que a classe
dominante faça com que todas as classes acreditem que podem viver com os mesmos
ideais. A difusão desses ideais, dá-se através do domínio do Estado, que por
suas vez, influencia as pessoas através das escolas, dos costumes, das religiões e dos meios de
comunicação disponíveis.
Quando
a ideologia é descoberta pelos dominados, como violenta, não mais parecendo
como o único meio de vida em sociedade, temos uma crise de hegemonia da ideologia dominante. Daí então, a população
começa a criticar os atuais valores e idéias, podendo aderir a uma nova
ideologia, tal como foi o caso da Revolução Francesa, como citamos.
Professor Fábio Souza C.
Lima
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