Do
mundo do “mais-ou-menos” ao universo da precisão e da linguagem padronizada, de
Koyré
Porque o
maquinismo só veio aparecer no século XVII e não a vinte séculos atrás? A
ciência grega não conseguiu aplicar ao real, as noções rígidas, exatas e
precisas das matemáticas e, em primeiro lugar a geometria. Aceitaram que era
impossível aplicar a matemática ao cotidiano humano. Mas quanto aos céus, o
conceito mudava e admitia-se que ele se movia na mais estrita e rígida
geometria.
Se imaginarmos
que a noção do movimento está inseparavelmente ligada a noção de tempo. Que foi
em uma e por uma nova concepção do movimento que se realizou a revolução
intelectual que gerou a ciência moderna na qual a exatidão do céu foi aplicada
à terra, compreendemos muito bem que ciência grega, mesmo a ciência de
Arquimedes, não tenha conseguido fundar uma dinâmica. É o espetáculo desse
progresso, desse acúmulo de invenções, de descobertas (e portanto de um certo
saber) que nos explica – e parcialmente justifica – a atitude de Bacon e de
seus sucessores que opõem a fecundidade da inteligência prática a esterilidade
da especulação teórica. São esses progressos que, como sabemos, servem de
fundamento ao otimismo teórico da Descartes. Os homens do renascimento da idade
média, não sabiam calcular ou executar cálculos, de fato, as máquinas do século
XVII fazem apenas o trabalho bruto, grosso, enquanto ao homem cabe o trabalho
delicado e com mais esmero.
Dois mil
anos antes, Pitágoras havia proclamado que o número é a própria essência das
coisas: Mas ninguém acreditou. Pelo menos, até Galileu, ninguém levou a sério.
Nunca ninguém tentou determinar esses números, esses pesos ninguém jamais
procurou ultrapassar o uso prático do número do peso, da medida na imprecisão da
vida cotidiana. Ora, é tanto pela precisão da sua máquinas, resultado da
aplicação da ciência a indústria, quanto pelo uso de fontes de energia e
materiais que a natureza não nos confia prontos, que se caracteriza a indústria
da idade paleotécnica, idade do vapor e do ferro, idade tecnológica no decorrer
do qual se realiza a penetração da técnica pela teoria.
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