Mito
e pensamento entre os gregos, de Jean-Pierre Vernant
O texto
destaca a divisão do trabalho na sociedade grega, aparece também a relação entre
o trabalho abstrato e o trabalho concreto. A fórmula de divisão do trabalho só
deve ser aplicada ao mundo antigo com uma certa reserva, na medida em que
implica uma representação da profissão em relação à “produção” em geral. O
grago não vê a profissão nesta perspectiva. A profissão apresenta-se-lhe sob um
aspecto dúplice. Supõe, naquela que exerce, uma particular, uma necessidade. A
divisão das tarefas provem da contradição entre estes dois aspectos da
profissão: A divisão das tarefas não é pois, sentida como uma instituição cujo
o objetivo seria dar ao trabalho em geral, o máximo de eficácia produtiva. Ela
é uma necessidade inscrita na natureza do homem que faz tanto melhor um coisa
enquanto faz só esta coisa. Nenhum dos textos que celebram as divisões das
tarefas considera-a um meio de organizar a produção para obter mais com a mesma
quantidade de trabalho: seu método consiste em permitir aos diversos talentos
individuais de se exercerem nas atividades que lhes são próprias e de criar
assim produtos tão perfeitos quanto o possível. Resumindo, a divisão de
trabalho grega, em nada parece com a vigente atualmente, que diz respeito ao
capitalismo, que visa puramente um divisão por uma melhor produção.
Xenofonte
não chega a compreender a divisão do trabalho como um processo de distribuição
das tarefas no interior de um processo produtivo. Para ele, estas capacidades
técnicas que a divisão das tarefas deve levar à perfeição, apresentam-se como
qualidades naturais. O texto destaca que o homem não é ainda suficientemente
distinguido da natureza para que sua ação possa destacar-se dela. O artesão
grego é responsável apenas por trazer a tona a obra de arte, tendo portanto a
obra já inserida na pedra.
O texto descreve ainda que ao
mesmo tempo que a técnica, outrora presa a dogmas religiosos, se liberta do
mágico e do religioso, determina-se a idéia da função dos artesãos na cidade.
Advento de uma concepção racional da técnica, laicização dos ofícios,
delimitação mais rigorosa da função artesanal: as condições parecem realizadas
para formação de um verdadeiro pensamento técnico. Espinosa via no movimento
dos sofistas o primeiro esforço do pensamento técnico para se delinear e se
afirmar: pela redação de uma série de manuais, e em seguida, pela elaboração de
uma espécie de filosofia técnica. Uma teoria técnica geral. O saber reveste-se
da formas de receitas que se podem codificar e ensinar. Todas as ciências,
todas as normas práticas, a moral a política, a religião serão encaradas, em
uma perspectiva “instrumentalista”, como técnicas de ação ao serviço dos
indivíduos ou das cidades.
Relação trabalho concreto e
abstrato: o concreto é que nós sabemos efetivamente, é o que nos dá prazer em
fazer, é que pertence ao nosso domínio; o abstrato, caracteriza-se pela
situação que o que o estado, uma instituição ou mesmo uma situação qualquer,
“force” o artesão (trabalhador) a exercer a função que melhor atenda ao seu
empregador ou ao mercado, e não a ele próprio. Também deve ser destacado que até o início do capitalismo, o trabalhador
teria tempo suficiente para rever essa relação de trabalho abstrato e concreto.
Depois, com a instauração do sistema capitalista, a relação passou a ser de
compra e venda do tempo (do trabalho), então o trabalho atual passa a ser
inteiramente abstrato. Destaca-se que hoje em dia, até o profissional liberal
se adequa a situação e ao serviço que esta sendo pedido, também constituindo a
abstração do trabalho. O trabalho geral seria exatamente a passagem do serviço
concreto para o abstrato e o trabalhador não tem mais escolha alguma do que
fazer no mercado de trabalho.
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