RESUMO:
Moore Jr., Berrington. As origens sociais da ditadura e da democracia. Cap. A guerra civil
americana: a última revolução capitalista. Lisboa: Editora Cosmos, 1967. pp. 116-157.
A guerra
civil americana: a última revolução capitalista.
1.
Plantação e fábrica: conflito inevitável?
“Mas a
escravatura consistiu um obstáculo para a democracia política e social[1]”
Aqui o autor ressalta que o fim da escravidão era uma questão moral e não
econômica ou política.
Os
capitalistas não se preocupavam com a procedência do material (algodão, por
exemplo), desde que pudessem trabalhá-los e revendê-los, tirando lucro disso.
Ou seja, a escravidão tem potencial para os negócios, bem como a mão de obra
assalaria na produção de lucros.
2.
Três forma de desenvolvimento capitalista americano.
O
capitalismo era parte de todas as sociedades existentes nos EUA. Mesmo nas
diferentes partes do sul, com a agricultura de algodão; o Oeste, terra de
agricultores livres (cerca de 1860) e o Nordeste, em rápido processo de
industrialização.
A
economia sulista cresceu muito com a plantação de algodão e o aumento do
consumo das fábricas têxteis inglesas. Por volta de 1849, 4/5 da produção
sulista era exportada para a Grã-Bretanha.
Contra
as idéias abolicionistas, os donos de escravos sulistas além de relatarem a
escravidão como vantajosa e lucrativa, apresentavam-na como natural às
sociedades e benéfica tanto para o escravo como para o senhor. Outras defesas
foram criadas para tentar refutar a opinião pública contra a escravatura,
principalmente as que se referiam ao direito a propriedade. O sul buscou
ressaltar os traços de sua cultura pré industrial e aristocrática, a graça, as
vistas largas, fazendo sempre comparações com o norte. Pouco antes da guerra
civil, ressaltou a noção de que produzia a principal riqueza da América (o
algodão), estando o norte, apenas se aproveitando disso na colheita de
tributos. As concepções burguesas de liberdade e a revolução francesa e a
própria revolução de independência americana, foram consideradas subversivas,
pois agrediam o direito à propriedade, principalmente a propriedade de
escravos.
Acordos
eram firmados entre representantes do Nordeste e Sul, tentando equilibrar a
entrada de territórios recém conquistados para ambos os lados. Ex.: o acordo de
Missouri, em 1820. A questão era que como esses territórios ainda não haviam
virado Estados e se decidido por um modo de vida ou por outro, criou-se uma
situação de incerteza e acirrou a competição entre os dois modelos de
sociedade, parecendo, a partir disso, ser um conflito econômico.
A
própria sociedade do Nordeste era no início resistente a idéia abolicionista.
Quando Lincoln (emancipacionista) foi leito, tentou introduzir um esquema
moderado de emancipação, com compensações para antigos proprietários, criando
grandes discussões em meio a sociedade.
O
algodão, principal produto do sul, tinha como principal porto de escoamento, o
porto de Nova Iorque, no Norte do país. Além disso, os lucros obtidos pelo sul
eram amplamente consumidos no Norte, para a compra de tudo que era necessário a
plantação de algodão e para a vida das famílias daqueles Estados. Eram artigos
manufaturados e alimentos consumidos e mandados para as famílias do sul, quando
elas, ricas, não estavam já no Norte, fugindo do calor.
O caso
do protecionismo:
Entre 1820
e o início da guerra, a eficiência de produção de algodão, em comparação com as
fábricas do norte, cresceu muito, permitindo o ingresso dos EUA no mercado de
exportação. Com isso, o capitalismo nortista passou a necessitar de um governo
que o protegesse com tarifas alfandegárias (para importação, cobrando no caso
de venda interna entre os Estados, o fim das tarifas) e legitimasse as
propriedades privadas. Além disso, cobravam apoio do governo na ocupação das
fronteiras, um sistema de transporte melhor, um sistema bancário eficaz, uma
moeda estável e melhores condições para a acumulação do capital.
O comércio
entre o Sul e o Oeste continuou normalmente durante os anos de expansão para o
Oeste. Contudo, com o desenvolvimento de ferrovias e canais, o comércio entre
Oeste e Nordeste aumentou muito, afinal este último podia oferecer manufaturas,
carnes, cereais e seus derivados, enquanto o sul não. O estreitamento de
relações entre Norte e Oeste cresceu e ajudou a difundir o modo de vida
capitalista primitivo característico do Nordeste, individualista e de via
reduzida. A propriedade familiar garantiu o sucesso da expansão desse modo de
vida. Ele era um excelente mecanismo social para a produção de trigo, milho,
porcos e outros produtos que poderiam ser comercializados. O enraizamento dessa
cultura familiar, com seu êxito comercial, foi provavelmente a responsável pela
absorção do sentimento antiescravagista existente no Nordeste dos EUA.
3.
Para uma explicação das causas da guerra.
Existem
três proposições feitas pelos historiadores acerca da Guerra civil americana: A
primeira atesta ser a guerra um conflito moral entre escravistas do sul e
antiescravistas do Norte; a Segunda, diz que todos os aspectos que levariam a
guerra eram na verdade negociáveis e o terceiro, que aprofunda mais ainda o
olhar sobre a máquina política norte americana.
O
autor atesta que as causas da guerra seriam uma convergência de fatores
políticos, econômicos e morais. O sul tinha uma sociedade agrária baseada na
escravatura das plantações, o Nordeste uma sociedade baseada no capitalismo
industrial, aumentando cada vez mais seus elos de comércio com o Oeste, que por
sua vez, tinha uma sociedade baseada na propriedade familiar e, logo,
mão-de-obra familiar. O Oeste absorvia cada vez mais o modo de vida do Nordeste
e portanto, também o antiescravismo. A grande produção de algodão liga o Sul
mais à Inglaterra que ao Nordeste. O Nordeste, por sua vez, desenvolve-se sem a
ameaça radical de qualquer das classes trabalhadoras contra a propriedade
capitalista industrial, além disso, os EUA não tinham inimigos estrangeiros
fortes, isso fazia com que não precisassem ter gastos excessivos com o forças
militares. O governo federal sabia que qualquer decisão agradaria mais a uma
sociedade do que outra e que a balança entre eles se desequilibraria. O clima
de incertezas tomou conta do país e levou o Norte e o Sul a tentar bloquear o
avanço um do outro.
4. O
impulso revolucionário e o insucesso.
Alguns
grupos do Norte, por sua vez, comparavam o Sul a um anacrônico exemplo de
sociedade do antigo regime, e, viam na Guerra Civil a oportunidade de acabar
com esse opressivo regime, reconstruindo o sul à imagem do Norte, democrático e
progressivo. Contudo, esse impulso revolucionário, teria de destruir a
aristocracia sulista e garantir o direito de voto aos negros, mexendo no que os
nortistas mais prezavam, a propriedade. Esse era o limite da revolução, mesmo
os nortistas que simpatizavam com a causa se sentiram chocados. Os nortistas
influentes não toleravam um ataque frontal como esse à propriedade, mesmo
contra o sul, mesmo em nome da democracia.
5. O
significado da guerra.
Sabe-se
que ao final da Guerra de Secessão, o capitalismo industrial avançou
desmedidamente. O Governo federal se transformou numa série de redutos em torno
da proteção à grande propriedade. A grande medida tomada no pós-guerra foi a
manutenção da União, que crescia demograficamente à Oeste e se tornara num
todo, um dos maiores mercados domésticos do mundo. A moeda foi colocada em uma
base segura através do sistema nacional de bancos e a reutilização dos
pagamentos em espécie. As estradas de ferro receberam enormes concessões e
assim como a exploração de minas, formaram enormes fortunas. As indústrias,
gozaram das Leis de Imigração, de 1864, que mantinha as portas abertas à
imigração, mantendo grande quantidade de trabalhadores.
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