III. Emancipação espiritual (1728-1759)
A geração de 1730 e seus
livros
Este capítulo
exalta a conquista da independência da América espanhola, através da utilização
do mito de Guadalupe como estandarte.
(Dois séculos de querelas
criolas sem resultados, Relação de oposição entre criolos e guachupines
(chapetones) em torno da divisão de cargos)
Os trinta anos que se seguem a dois
séculos de reivindicações criollas infrutíferas, são cobertos de revoluções
político-religiosas que transformaram a América e deram a Nova Espanha um
contorno de independência. Nesses dois séculos germina lentamente a consciência
de nacionalidade mexicana.
Em 1728, foi eleito como arcebispo o jesuíta Juan Antonio de Vizarrón y
Eguiarreta. Primeiro arcebispo criollo, abriu as portas para maior
liberdade espiritual americana e mesmo depois de sua morte, em 1747, esse
processo não foi interrompido, pois seu sucessor, castellano
Manuel Rubio
y Salinas, conseguiu, junto ao Papa, a aprovação do
patronado de Nossa Senhora de Guadalupe sobre a América setentrional. Nesta mesma época, uma
epidemia assolava o país, e mesmo com o povo fazendo prossições à várias
santas, o fim da peste foi atribuída a Guadalupe. É nesta geração, que
utilizando-se do mito de Guadalupe, os criollos conseguem, junto a autoridade
pontifícia, o reconhecimento de que são um povo favorecido pelo céu.
A
imprensa da época não era regularmente utilizada, pois além da censura do rei
de Espanha, que obrigava os redatores a utilizarem-se de códigos, tinha seu
custo muito elevado, tornando-se um artifício proibitivo para a causa nacional
mexicana. Apenas em 1753, com a publicação do livro: “O estupendo milagre da prodigiosa aparição em sua soberana e
divina imagem de Guadalupe neste bem aventurado reino da Nova Espanha”, que só pode ter sido
financiado por uma irmandade religiosa ou um mecenas privado, é que a imprensa
passou a ter significancia para os criolos. Fica claro que
a utilização do mito de Guadalupe, asssim como toda hagiografia produzida nessa
época, visava colocar em foco o próprio país e assim fomentar algumas
discussões internas e o sentimento
nacionalista mexicano, atingido em cheio os religiosos e as elites
administrativas e mineira.
México como a
nova Jerusalém...
Tendo
a partir de então a própria pátria como centro das discussões, os criollos,
embuidos de grande influência jesuítica e no domínio intelectual devido a ótima
educação pela Universidade do México e escolas jesuíticas, tomaram a frente
nessa tentativa emancipação espiritual. A negligência do papado de Benedito
XIV, quanto a esse movimento, foi tal que os mexicanos, audaciosamente,
passaram a fazer
novas exegeses da bíblia, anunciando uma luta contra um anticristo, na qual a sede romana não
conseguiria vencer e teria que mudar-se para o México, definindo então a
batalha sob a égide de Nossa Senhora de Guadalupe. A abundância de metais
preciosos, que impulsionariam o desenvolvimento do país, só poderia ser um
sinal divino para o novo povo escolhido. Um silogismo criado a partir de uma
passagem da bíblia simplifica tudo; Pedro pede para ir até Jesus; se Pedro é
Roma e Jesus é México; Roma pede para ir até México. O México enfim é vista como
a Nova Jerusalém.
Em
todas as cidades, as imagens da Santa Guadalupe de Tepeyac começam a tomar
conta das casas e igrejas. O México e seu povo viam-se livres do antigo pecado
de idolatria a paganismo.
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A riqueza
mineral, o desenvolvimento humano, a supremacia intelectual sobre o sentimento
carismático de quem se julgam o povo escolhido de Deus, fundamentavam as
principais bases do triunfo criollo e o surgimento de um movimento messiânico
expansionista no século XVIII, comandado por alguns ex-alunos da escola de
Santo Idelfonso e sustentado pelo poder econômico dos mineiros.
A
hora da expulsão dos jesuítas (1767 – 1770)
Em uma região em que os religiosos ocupam um lugar tão preponderante, tal qual poderia ser até
chamada de era de ouro dos jesuítas, atentar contra essas comunidades foi sem dúvida o erro fatal de Carlos III. A
expulsão dos jesuítas provocou uma ameaça a independência espiritual da Nova
Espanha. Os jesuítas eram em torno de 700 e como foi registrado em diversos
documentos, a reação popular foi muitas vezes drástica. Pela primeira vez os
criollos, os índios e todas as castas uniram-se, vendo desde
então como inimigos todos os “gachupines” e o próprio rei da Espanha. A lealdade ao rei de Espanha
estava sendo desde agora questionada.
O mito
de Quetzacóatl e a imagem de Guadalupe alimentavam, cada um de sua forma, a
esperança de uma volta triunfal dos jesuítas.
E enquanto a influência iluminista da época acentuava o fervor
nacionalista do mexicanos, os exilados, por muitas vezes filhos das elites
dominantes da Nova Espanha, uniram-se na Itália para a contestação da situação
em que o México se encontrava. Graças a eles, através de publicações de seus
trabalhos, a identidade geográfica, cultural
autônoma, dotada de passado prestigioso e de um rico futuro, o México foi
reconhecido.
Nesta
mesma época, a influência iluminista incorporava-se ao discurso criollo,
trazendo a tona novos valores e acentuando fervor nacionalista dos mexicanos. O
despertar do sentimento nacionalista dos países europeus, estendeu-se ao México
e unido a toda aquela religiosidade, não tardou a se transformar em uma
religião patriótica.
Os
guerreiros, Hidalgo e Morelos (1810 – 1815)
Através
de Hidalgo, ex-aluno da escola jesuítica, surgiu o movimento “Cura de Dolores”,
que embora sustentasse uma grande contradição em seus parâmetros (ideais da
revolução francesa e princípios humanistas cristãos) ganhou boa adesão dos
eclesiásticos, fazendeiros, mineiros e poucos militares sob o grito: Viva Nossa Senhora de Guadalupe, e morte aos gachupines! Durante dez anos os ânimos
dos compatriotas foram inflamados pelo espectro do combate fratricida., o
movimento não deu certo devido a baixa adesão dos criolos que compunham o
exército da Nova Espanha, no entanto, embora não tivesse um sistema, nem um
objetivo determinado, Hidalgo conseguiu o apelido de
anticristo e criou a bandeira de Guadalupe, que seria seguida por
todos os que sentissem no peito o nacionalismo mexicano.
A guerra dos sete anos, cortou os caminhos de contato da Espanha com a
América e em 1808, com a invasão francesa a Espanha, suspendeu-se as
comunicações que ainda perduravam com a américa espanhola. Neste período de
liberdade, e enquanto o exército da Nova Espanha apenas dobrou, as milícias
passaram de 9.000 para 40.000 já em 1784.
Morelos, outro
revolucionário mexicano, conseguiu agrupar em torno do ideal de independência,
ainda mais militantes. A sua revolução chamou-se “Golpe da
Eletricidade”,
que teria sido inspirada por Deus, recebendo assim um caráter de justiça a
revolução. Morelos declarou independência, em 1810 e implementou a primeira constituição mexicana, em 1813, que era eminentemente
religiosa e preocupa-se em constituir a
ortodoxia da igreja Católica no México.
Hidalgo
morreu na fogueira da Inquisição e Morelos foi fuzilado.
Um monge
inspirado e un general providencial: Mier contra Iturbide (1821 – 1823)
O culto aos heróis mortos na guerra pela independência garantiu a perpetuação do
espírito carismático criollo no quadro politicamente renovado de um México
independente. E é justamente nesse culto, onde se fundamenta a
religião patriótica mexicana.
O
sentimento nacionalista, a bandeira de Virgem de Guadalupe aliados ao banditismo social endêmico no país, trouxeram uma novidade decisiva ao cenário mexicano.
Os caudillos
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