Sobre o que
é Sociologia
Fábio Souza Lima[i]
Resumo: Em um resumo de rápido acesso, trazemos uma explicação contundente de como a ciência sociologia se apresenta como capaz de entender o surgimento de novas classes e sujeição de outras a um papel secundário na sociedade durante o século XVIII e XIX. Como, através das necessidades impostas no período, ela foi capaz de explicar as drásticas alterações no pensamento político-econômico da humanidade e suas implicações nas estruturas sociais modernas e contemporâneas.
A Sociologia é o resultado de uma tentativa de compreensão de
situações sociais radicalmente novas, criadas pela então nascente sociedade
capitalista. A trajetória desta ciência tem sido uma constante tentativa de
dialogar com a civilização capitalista, em suas diferentes fases.
A eclosão dessa ciência
se deu pela demanda de estudar todas essas mudanças no seio da chamada dupla
revolução, a industrial (século XVIII) e a francesa (final do século XVIII,
início do XIX). Entre os primeiros sociólogos, estão Saint-Simon, Auguste Comte
e Émile Durkheim. Saint-Simon foi o primeiro intelectual a escrever trabalhos
com características sociológicas, contudo, atribui-se a Comte, a alcunha do
nome Sociologia a esses trabalhos.
Além desses autores, vieram mais tarde as obras de Karl Marx e Friedrich
Engels, e também de Max Weber, que continuaram a se dedicar na busca por
explicações para os fenômenos sociais que causam mudanças na cultura, no modo
de vida, de pensamento, na moral, enfim, nas estruturas das sociedades.
O processo de Cercamento dos Campos que obrigou
milhares de pessoas a sair do meio rural para as cidades inglesas, gerou o
surgimento de uma nova classe social que deveria trabalhar nas fábricas com
baixíssimos salários e com jornadas de trabalho diárias de até 18 horas. As
cidades, claro, também não estavam preparadas para suportar um crescimento
demográfico tão grande, o que acarretou em falta de comida, falta de redes de
esgoto e água nas casas, acúmulo de lixo nas ruas. Tudo isso, junto às precárias
regras de higiene, difundidas na época, causaram a intensificação de epidemias,
gerando uma taxa de mortalidade assustadora. A lei da oferta e da procura passou a regular o emprego e o preço dos
alimentos. Ora, se faltava comida, imaginem o preço do pão e da farinha nos
mercados... Além disso, a grande quantidade de pessoas que chegavam as cidades,
não conseguiam ser empregadas, pois não havia fabricas o suficiente. Logo, os
burgueses passaram a pagar salários cada vez mais baixos à todos que precisavam
sustentar suas famílias. Mulheres e crianças também começavam trabalhar a
partir dos 9 anos de idade. Famílias que não conseguiam sustentar seus filhos
abandonavam-nos ou cometiam o infanticídio... Vemos aqui, portanto, uma mudança
na estrutura da sociedade, que antes tinha apenas o camponês como definição de classe social menos abastada. Esse camponês foi alijado de sua terra e de
seus instrumentos de trabalho através de violência física, restando-lhe apenas
a sua força de trabalho para ser vendia nas cidades. Esse camponês
transformou-se então no proletário.
Do outro lado, uma crescente classe social, a burguesia, passou a controlar os meios de produção e o capital de
investimento, explorando os proletários
ao máximo para aumentar seus lucros.
Antes da Revolução
Francesa, no topo da pirâmide social ficavam o alto-clero e a nobreza,
que controlavam a sociedade. Na base dessa pirâmide, estavam os plebeus
(camponeses e pobres das cidades) e os burgueses.
Sim, os burgueses ficavam na base da
pirâmide social antes da revolução, pois eram discriminados pelos nobres por realizar trabalhos manuais,
enquanto que os nobres realizavam
apenas trabalhos intelectuais. Ao final da revolução, os burgueses conseguiram reverter sua situação, deixando a base da
pirâmide para ocupar o topo, de onde começaram a comandar a sociedade através
da força do capital, da força repressiva e das ideologias. Os pobres, aqueles
que não detinham os meios de produção, embora participassem efetivamente da
revolução, incitados pelos burgueses,
logo após chegarem ao comando do Estado,
tiveram seus sindicatos fechados, e foram relegados a permanecer na base da
estrutura social. Mesmo assim, a revolução mudou os costumes e a moral daqueles
que acompanharam seus acontecimentos, e, é aí, que a sociologia entra. Tentando
explicar os efeitos na sociedade de tantas mudanças decorrentes desses
fenômenos sociais.
As explicações
sociológicas sempre contiveram intenções práticas, um forte desejo de
interferir no rumo desta civilização. Se o pensamento científico sempre guarda
uma correspondência com uma vida social, na Sociologia
essa influência é particularmente marcante.
Mas como a Sociologia conseguiu investigar, se
admitindo como ciência, esses fenômenos que constantemente ainda eram
explicados pela Igreja Católica com resoluções baseadas em seus dogmas? Era
necessário “quebrar o objeto de estudo” e estudá-lo a fundo, utilizando-se de
experimentos cada vez mais complexos e não mais de deduções metafísicas, como
faziam os religiosos. O emprego sistemático da razão, do livre exame da
realidade – traço que caracteriza os pensamentos do século XVII, os chamados
racionalistas –, representou um grande avanço para liberar o conhecimento do
controle teológico, da tradição, da “revelação” e, conseqüentemente, para a
formulação de uma nova atitude intelectual diante dos fenômenos da natureza e
da cultura.
Assim eclode uma ciência
voltada para a investigação da Ordem Social, dos fenômenos sociais, da
sociedade. E assume como tarefa intelectual, não só investigar, mas repensar o
problema da Ordem Social, enfatizando a importância de instituições como a
autoridade, a família, a hierarquia social, destacando a sua importância
teórica para o estudo da sociedade.
Segundo Durkheim, que
estudou a nova divisão das classes sociais, decorrente da revolução industrial,
a divisão do trabalho deveria gerar uma relação de cooperação e solidariedade
entre os homens. A obra de Marx, por outro lado, aborda a relação entre as
classes sociais proletária e burguesa, admitindo que essa relação, no
tocante a conflitos que geram mudanças, é a única força motriz da história. O
terceiro grande sociólogo conhecido, Max Weber, alemão que via em sua pátria o
defeito de uma industrialização tardia, exaltou o desenvolvimento capitalista
da Inglaterra e dos Estados Unidos. Weber consagrou sua obra a cientificidade
da Sociologia, afirmando que o
cientista não tinha o direito de possuir, a partir de sua profissão,
preferências políticas e ideológicas, ele deveria ser neutro.
Atualmente,
os objetos de pesquisa da sociologia vão muito além da Dupla Revolução,
envolvendo o Estado, as religiões, os povos “não-civilizados”, a família, a
sexualidade, o mercado, a moral, a divisão do trabalho, os modos de agir, as
estruturas das sociedades e seus modos de transformação, a justiça, a bruxaria,
a violência...
Bibliografia:
DURKHEIM,
É. As regras do método sociológico.
Ed. Martin Claret: São Paulo, 2002.
DURKHEIM,
É. Os princípios de 1789 e a sociologia. IN: DURKHEIM, É. A ciência social e a ação. Tradução de Inês D. Ferreira. Ed. Difel:
São Paulo, 1975.
KONDER,
L., TURA, M. (Orgs.). Sociologia para educadores. Quartel editora e Comunicação
Ltda: Rio de Janeiro, 2004.
MARTINS.
C. B. O que é sociologia? Ed.
Brasiliense: São Paulo, 1982.
QUINTANEIRO, T., BARBOSA, M. L. de O. e OLIVEIRA, M.
G. de. Um toque de clássicos: Marx,
Durkheim e Weber. Ed. U
[i] Fábio
Souza Corrêa Lima - Historiador formado pela Universidade Federal
Fluminense e Graduando em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro.
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