Através do dicionário sociológico de Luciano Gallin,
encontramos uma variada gama de definições para a palavra tempo, dentre elas, a
seguinte: O tempo é a dimensão na qual se desenvolvem e adquirem sentido, os
processos históricos de mudança e de evolução social.
Neste
sentido, tomamos inicialmente civilizações antigas como a chinesa, mesopotâmica
egípcia e indiana, notando aí uma característica principal das suas narrações,
que é a concepção circular do tempo, que funciona sem uma cronologia ou
datação. Essas sociedades, que encontravam explicações (transmitidas através da
tradição oral), para sua existência e seus problemas através dos mitos,
utilizados para criar noções de moralidade, ética e nobreza por exemplo.
Eventos reais, concretos, eram explicados através de alusões mágicas e
religiosas. Em sociedades como a de China e da Índia, os registros, eram de um
estilo muito preciso, utilizando-se da sucessão de fatos relativos às dinastias
imperiais.
O
tempo não agia sobre os heróis gregos no tempo dos deuses, em histórias como as
de Ulisses, em seu retorno para casa após vinte anos. Em parte alguma do poema
épico, vem relatada que Ulisses ou sua mulher Penélope, progrediram ou degeneraram.
Como nas civilizações já citadas, o mito, na sociedade grega, encontrava seu
lugar nos tempos imemoriáveis, na era heróica, no tempo dos deuses. O tempo dos
homens se misturava com o tempo mítico na tradição épica. A principal
característica entre esses tempos é a atemporalidade, muito comum na noção de
tempo cíclico. É só com Heródoto, que o passado vem sofrer algum tipo de
cronologia. Chamado pela primeira vez de pai da história por Cícero, foi
contemporâneo ao império de Atenas e das guerras de Peloponeso e médicas. O
relatos da época também eram transmitidos pela tradição oral. O método de
investigação de Heródoto, apóia-se primeiro no olho (o fato de ver em pessoa),
depois na orelha (akoê), recebendo oralmente informações de pessoas que ‘sabem’
ou que consideram que saibam. Não obstante, Tucídides, que tornou-se modelo de
historiador no século XIX, chamou Heródoto de contador de histórias, recusou-se
a fazer história utilizando-se da orelha, achava que apenas vendo o fato,
poderia contar uma história verossímil.
A perspectiva da história na idade
média, é a da ruptura com o pensamento cíclico da antiguidade, pensa-se agora a
história como marcha da humanidade, história teleológica. Existe desde então
uma consciência comum do tempo, que impõe sua marca à atividade dos
historiógrafos. A historiografia, tanto como a hagiografia, presentes na idade
média ao risco de até confundirem-se, preocupam-se com a autenticidade e
veracidade dos fatos, sempre rodeados de todas as garantias de lugar e data. Na
alta idade média, há uma grande produção hagiográfica, que trata da vida dos
santos, de relatos de milagres, de translações de relíquias ou listas
episcopais. O tempo nessa época é totalmente ligado a cronologia da Igreja
Católica, os fatos, mesmo que laicos são comparados e datados de acordo com a
perspectiva do calendário religioso. Os feitos de Deus ocupam e de seus servos
ocupam o primeiro lugar na cena histórica –período carolíngio-.
No século XII, surge uma nova
concepção de tempo por conta das transformações históricas associadas aos
desenvolvimento geral das trocas e o florescimento de uma cultura urbana; é o
renascimento às luzes. Período profícuo ao surgimento de variadas filosofias da
história, o tempo, relacionado com as concepções newtonianas, ganha o caráter
de absoluto. Para Kant, tempo e espaço definem como forma apriorísticas da
percepção sensorial. Já Bergson diz que o tempo real tem como essência a pura
duração, decorrente da continuidade da vida interior do indivíduo, a duração e
subjetiva e imanente a consciência. E o marxismo relaciona o tempo e espaço
dizendo que são formas de existência da matéria em movimento. O desenvolvimento
da física quântica transforma substancialmente a elaboração da categoria tempo,
que de absoluta passa a ser relativa através da teoria da relatividade,
proposta por Einstein no início do século XX. Eintein afirma que não existem
tempo ou espaços absolutos e por conta disso rompe com a idealização do tempo,
propondo uma abertura para o materialismo.
Historiadores como Robert Berkhofer
Jr. Caracterizam duas dimensões presentes no manejo do historiador com a
categoria – dimensão externa, o tempo físico, passível de mensuração, linear,
irreversível e ligado aos processos de datação; e dimensão interna, tempo subjetivo,
imensurável. Berkhofer ainda estabelece cinco questões básicas que acha que o
historiador deveria atentar ao operar com a categoria tempo: 1- a delimitação
da sequência estudada; 2- a ordem da sequência em relação ao tempo; 3- a razão
de ordem de ocorrência; 4- a localização da sequência no tempo e 5- ritmo da
transformação durante a sequência examinada.
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