Resumo: Dukheim,
considerado o pai da sociologia, estruturou o estudo das sociedades e de suas
mudanças em métodos. Para a formulação de uma ciência, criou e trabalhou com
conceitos como Fatos Sociais ou Fenômenos Sociais, Representações Coletivas e Valores.
Sociologia
em Durkheim
Fábio Souza Lima[1]
As dificuldades práticas só podem ser definitivamente resolvidas
através da prática e da experiência cotidianas. Não será um conselho de um
sociólogo, mas as próprias sociedades que encontrarão a solução.
Émile Durkheim
Durkheim foi o primeiro
professor universitário da disciplina sociologia. Assim como os homens da sua
época, ele mantinha a crença de que a humanidade avançava no sentido do seu
gradual aperfeiçoamento, governada por uma força inexorável: a lei do
progresso. Acreditava que as novas divisões de trabalho, as novas classes
sociais, decorrentes das revoluções industrial e francesa, provocariam uma
comoção nacional, provocando uma relação de cooperação e de solidariedade entre
os homens. Via na sociologia uma expressão das sociedades modernas, não
excluindo aqui, as proposições colocadas pela economia, história e psicologia.
Segundo Durkheim, a
sociologia pode ser definida como a ciência das Instituições, que trata da
gênese e do funcionamento delas. Ele acreditava que a sociologia deveria
definir seus objetos de estudo. Assim como a química, a física e a história,
tem seus objetos, o objeto da sociologia seria definido como: fatos
sociais ou fenômenos sociais. Comentamos sobre esses fatos sociais quando
abordamos a Dupla Revolução, que desencadeou a necessidade de que surgisse uma
ciência que estudasse as mudanças nas sociedades acarretadas pelas revoluções.
Contudo, existem muitos outros fatos sociais que mudaram o
comportamento de várias sociedades, e que podemos estudar utilizando o método
sociológico. Como exemplos, podemos citar no século XX, o movimento feminista,
nos anos 80, que lutava, entre outras coisas, por direitos iguais para as
mulheres. Ou citar o movimento Hippie, nos anos 70, que tinha uma proposta
totalmente diferente da postura belicista dos Estados Unidos, envoltos na
Guerra do Vietnã. Existem também o golpe militar de 1964, as passeatas gay’s
permitidas e exaltadas nos meios de comunicação de massa, o surgimento das
facções criminosas de tráfico de drogas, o impedimento do mandato do presidente
Collor, a eleição de um presidente de esquerda... Analisando tudo isso, podemos
perceber mudanças na forma de pensar e agir da população brasileira e
mundial... esses fenômenos sociais, são estudados, sem um preocupação efetiva
com datas, como faz a história, mas com maior preocupação com os efeitos que
causam nas sociedades. Enfim, tudo que ocasiona mudanças, é um fato
social. E assim, em Durkheim, deve ser estudado pela sociologia.
Uma das características
do pensamento durkheimiano, diz respeito a como esses fenômenos sociais
ocorrem. Segundo ele, as influências que geram esses fenômenos, vem de fora
para dentro do pensamento humano, ou seja, somos adestrados a pensar de certa
maneira para nos adequarmos ao pensamento do todo da sociedade. Por exemplo, a
própria escola, onde nós aprendemos a seguir o rígido horário escolar, que
segundo os anos de Revolução Industrial, foi criado para acostumar a futura
mão-de-obra operária a acordar cedo, bem na hora do início do trabalho nas
indústrias. Também aprendemos nas escolas, a disciplina necessária para o
ambiente de trabalho. Lembremos ainda das escolas e cursos profissionalizantes,
que só fazem preparar o jovem para o mercado de trabalho, sem preocupação com
uma formação crítica... Dentro da escola também somos o tempo todo
influenciados por professores e colegas de classe, pelo modo com que eles
pensam e agem. Segundo as palavras de Durkheim: “é uma ilusão pensar que
educamos nossos filhos como queremos”.
Ainda segundo o autor, são
dois os mais importantes componentes dos fatos sociais que nos influenciam,
ou seja, que vem de fora para dentro: As representações coletivas e os valores.
As representações
coletivas podem ser exemplificadas pelas lendas, mitos, concepções
religiosas, idéias de bondade, de beleza, crenças morais etc. No caso das
concepções religiosas, podemos citar que a maioria dos brasileiros são batizados
em igrejas católicas, o que cria uma grande chance dessa pessoa, mesmo depois
de adulto, continuar a ser um cristão. Contudo, ressaltamos que não escolhemos
sermos batizados, e nem os nossos pais, e nem os nossos avós... esse é um
exemplo de representação coletiva que nos influencia e muito nas nossas
vidas. Todos são batizados, a coletividade da nossa sociedade, da nossa
comunidade, crê que cada criança deve ser batizada para que seja apresentada a
Deus, pois do contrário, poderá morrem pagã, sem direito ao paraíso... Essas
idéias passaram para os nossos pais, e passarão, ou já passaram para nós. Outro
exemplo é o dia da independência, comemorado com um desfile militar no centro
da Cidade do Rio de Janeiro. Tal desfile é uma representação de toda a
população, da declaração de independência ou morte de Pedro I...
De outro lado, os valores,
são idéias assumidas por nós desde criança. São esses valores que nos fazem uma
nação diferente de qualquer uma outra. São exemplos disso, a nossa culinária, a
importância que o futebol assume em nosso cotidiano e como nos divertimos de
dia e de noite. Mais um exemplo disso, é a idéia que nós, brasileiros temos
para com a beleza. Acreditamos fielmente que notamos uma parte do corpo de uma
mulher ou um homem, mais atraentes que outras ou outros. Em diversos países,
essas partes mais atraentes podem variar muito. Em determinados países
africanos, a parte do corpo mais atraente nas mulheres, para os homens, é o
pescoço. E todos lá acham isso! Pais, filhos, avós... todos adoram um longo
pescoço. Será que aqui, no Brasil, essas idéias de belezas não são exaltadas
para nós desde criança, quando então aprendemos a valorizar determinadas áreas
do corpo de nossos parceiros e parceiras? Tudo isso, que levamos para a ruas e
para nossas casas, e fazem com que agente enxergue as coisas de maneira
peculiar, classificamos de valores.
Para o trabalho como
cientista social, segundo a obra de Durkheim, nós devemos considerar o fato
social ou o fenômeno social, como uma “coisa”. Ou seja, temos que olhar
aquele fato social como uma “coisa” que não conhecemos, que não nos influencia.
Desta forma, poderemos analisar o fenômeno “friamente”, sem deixar que nossas
paixões, nossos desejos, valores e representações coletivas,
influenciem nosso trabalho. Caso contrário, se nós falharmos nesse intento, podemos
nos deixar levar por falsas evidências e produzir um trabalho não científico.
Cairemos na esparrela de restringir a nossa própria ação aos nossos
preconceitos, de rir do nosso objeto de estudo, de fracassar diante do desafio
que é a sociologia.
Bibliografia:
DURKHEIM,
É. As regras do método sociológico.
Ed. Martin Claret: São Paulo, 2002.
DURKHEIM,
É. Os princípios de 1789 e a sociologia. IN: DURKHEIM, É. A ciência social e a ação. Tradução de Inês D. Ferreira. Ed. Difel:
São Paulo, 1975.
KONDER,
L., TURA, M. (Orgs.). Sociologia para educadores. Quartel editora e Comunicação
Ltda: Rio de Janeiro, 2004.
QUINTANEIRO,
T., BARBOSA, M. L. de O. e OLIVEIRA, M. G. de. Um toque de clássicos: Marx, Durkheim e Weber. Ed. UFMG: Belo
Horizonte, 2002.
[1] Fábio
Souza Corrêa Lima - Historiador formado pela Universidade Federal
Fluminense e Graduando em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário