Visita ao Bairro
da Saúde
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Conceição
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O sítio visitado (morro da conceição) é constituído por um
maciço rochoso, margeado por aterros executados ao longo dos séculos XVII ao
XX. Seus limites são dados pela Baía de Guanabara e pela área central
metropolitana da cidade do Rio de Janeiro.
O lugar bairro da saúde foi inicialmente ocupado por
portugueses que buscavam naquele local mais alto, uma situação mais agradável e
salutar para residir em uma Rio de Janeiro setecentista, onde o clima tropical
e as demais doenças se expandiam largamente. A área era o centro onde chegavam
as mercadorias e pessoas diversas (porto). Os filhos desses portugueses
permaneceram no litoral, mesclando-se aos índios, negros e posteriormente, até
aos nordestinos, que no século XX, também deram a sua contribuição para uma
área de tantas diferenças. Hoje o local tem um ritmo mais lento, comparado com
a área do entorno, que se transformou e abriga o centro financeiro e comercial
do Estado do Rio de Janeiro. Enquanto a vida corre acelerada na Avenida Rio
Branco, com seus carros, ônibus e toda sorte de gente com pressa; na rua Jogo
de Bola, os carros mal conseguem passar, as pessoas sentam nas portas de suas
casas pegar uma “fresca”.
Parada Zero:
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Praça Mauá – Edifício “A noite X RB1”
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A Praça Mauá, outrora Largo da Prainha, que já foi palco da
justiça imperial (enforcamentos), abrigava o comércio, o porto e todos os
moradores da saúde e com suas relações cotidianas. Nos anos 1930, era
freqüentada por jovens, fãs das cantoras de rádio nacional no edifício “A
noite”, bem em frente a ela. Este prédio foi o primeiro “arranha céu da América
Latina e por muito tempo permaneceu com o título de maior edifício do Rio de
Janeiro. Sua arquitetura se destaca das construções ao redor (casas de no
máximo dois a quatro pavimentos).
Hoje, aquele que foi a marca de um Rio de Janeiro
industrializado, que se modernizava e esforçava para demonstrar isso não tem
mais o glamur de antes, tornou-se só mais um prédio comercial ofuscado por
tantos outros que surgiram, como o pós-moderno Rio Branco Nº 1. No “A noite”
atualmente funciona o INPI- Instituto nacional de propriedade industrial, a
Radiobrás (Voz do Brasil), os Correios entre outras empresas.
O edifício RB1 vem contrastar o antigo “A noite”. O RB1
carrega em sua arquitetura marcas e símbolos tais como o relógio (marcar o
tempo, organizar, disciplinar a produção – velocidade). O frontão romano, na
parte superior é uma lembrança do clássico, da tradição que nos traz a idéia de
solidez. Aparece também, o efeito “Manhatham”, com o revestimento gramético e
uso de chapas de vidro espelhados que da a sensação de versátil e atual. As
marcas arquiteturais do RB1 são reflexos do uso que o tempo atual imprime ao
espaço em questão. O centro do Rio de Janeiro (incluindo a Praça Mauá) é o
centro de gestão-financeira do Estado e, é por isso, que se quer mostrar
características de um Estado desenvolvido, sólido, seguro e moderno, onde um
investidor procuraria administrar seus negócios.
Parada Um
Rua Sacadura Cabral
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Podemos perceber o contraste entre as formas ao longo do tempo histórico; lado a lado temos um sobrado com residências no segundo piso e comércio no primeiro piso, com pé direito maior que três metros e fachada decorada com motivos coloniais, contrastando com um pequeno prédio de quatro pavimentos, de linhas simples e retas, não mais a preocupação com a ornamentação das fachadas. Os tempos diferentes são marcados pelas arquiteturas distintas dessas construções. As funções permaneceram (moradia/comércio) mas pouco mudou, quanto a forma.
A toponímia de algumas ruas também nos revelam variados
elementos, como por exemplo, qual era o uso social de determinado espaço (Rua
Jogo de Bola), ou como a infra-estrutura no caso da Rua do Escorrega, onde o
pavimento era de terra batida e por isso em dias de chuva, o acesso ficava
dificultado por ser uma rua ser íngreme a estar lamacenta.
A toponímia que registrava o cotidianos dos grupos sociais,
passou a narrar e a privilegiar personalidades da sociedade, como a praça Barão
de Tefé ou a Rua Visconde de Abaeté. Atualmente a toponímia dos logradouros
públicos vem se “matematizando”, visando o cartesianismo. O maior exemplo no
Brasil é Brasília, com suas quadras e blocos, as denominações são apenas letras
e números.
Parada Dois
Adro de São Francisco

Inicialmente esse local chamava-se Prainha, por realmente chegar até o mar. Este espaço foi sucessivamente modificado com aterros ao longo do tempo em função das necessidades locais. De uma simples faixa de praia passou a apresentar múltiplos recortes para suprir a necessidade de ancoradouros e atualmente é uma larga faixa plana onde temos prédios comerciais e vias expressas (perimetral e Avenida Venezuela).
Neste local podemos perceber através das características das
testadas dos lotes (emprego da forma), a lógica do pedestre, assim como nas
ruas e travessas estreitas, marcas de um tempo onde não haviam carros e a norma
era andar a pé. Com relação a estreiteza dos testados, o fato se justificava
pelo conforto de andar menos num quarteirão para poder realizar as tarefas
cotidianas.
Em contra partida temos logo a baixo na Avenida Venezuela,
quarteirões com poucas mas grandes construções ( lógica do automóvel).
Ainda com relação ao adro de São Francisco, podemos ainda
perceber a lógica do pedestre (em outros pontos do bairro da Saúde) quando
verificamos ruas que se estreitam na medi em que mudam de cota e a sua
finalização em escadarias (como nas Favelas-Bairro atuais). Assim essas
observações revelam um tempo histórico e seus respectivos processos para
possibilitar a vida social de um grupo.
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Parte superior do Bairro da Saúde.
Ao longo da visita pudemos perceber aspectos complementares
na forma do bairro, por exemplo contatarmos a presença de calçamento desde
pé-de-moleque, passando por paralelepípedos (ambos produzidos pela mão escrava)
até o asfalto e o concreto armado modernos (intervenções recentes PCRJ-Rio
cidade). A complementaridade nas formas também é visível nas fachadas das
obras, onde temos desde o colonial até o moderno. A prática do 
uso de imagens de santos no alto das casas, a presença de estátuas e oratórios públicos nas vias ainda resiste e nos relembra da religiosidade orifinária do grupo formador do bairro. Algumas construções mudaram a forma (ampliações e reformas) mas mantiveram o uso (residências) outras mantiveram a forma mas mudaram o uso (comércios) como uma pequena confecção na parte baixa de uma casa na Rua Jogo de Bola.

uso de imagens de santos no alto das casas, a presença de estátuas e oratórios públicos nas vias ainda resiste e nos relembra da religiosidade orifinária do grupo formador do bairro. Algumas construções mudaram a forma (ampliações e reformas) mas mantiveram o uso (residências) outras mantiveram a forma mas mudaram o uso (comércios) como uma pequena confecção na parte baixa de uma casa na Rua Jogo de Bola.
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A paisagem residencial que encontra hoje em grande parte do
Bairro da Saúde, convive também com elementos e necessidades modernas, podemos
localizar casas que ainda guardam em suas fachadas ganchos de ferro fundido
para pendurar lampião (pré-eletricidade) junto as fontes e cabos de
eletricidade, de telefonia e das antenas de TV via satélite de última geração
(Direct tv e Sky). São processos que mostram a conexão das pessoas do local com
o mundo de fora.
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Temos a Igreja Católica presente no adro de São Francisco,
na capela de São Francisco (Rua Jogo da Bola) e no antigo convento que
posteriormente foi residência do Bispo do Rio de Janeiro e atualmente o Museu
de Cartografia do Exército (tripla mudança de função, mas com a mesma forma). O
exército brasileiro presente na antiga fortaleza de Conceição, construída para
defesa da Baía de Guanabara. Quando a invasão francesa (1743 – Dugai Troin) que
também virou prisão política no período da Inconfidência mineira e hoje é a 5ª
divisão de cartografia do exército brasileiro (outro caso de tríplice mudança
na função mas não nas formas) A presença protestante é outro retrato a
atualidade, pois hoje figura em uma área que a tempos atrás era exclusivamente
católica, devido ao fervor dos ocupantes portugueses. Verificamos aqui também,
a existência de espaços públicos institucionalizados e não institucionalizados.
Parada da Pedra do sal
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O local era fronteiro ao mar (daqui se tem a perfeita noção
de como o espaço foi alterado pela ação dos homens com os aterros) onde era
feito o desembarque do sal. O local foi freqüentado pela nata do samba carioca
(João da Baiana e tia Ciata), sendo o “luga-chave” para manifestações populares
como a capoeira, o samba e o carnaval.
Parte Plana – pela sacadura Cabral, Praça Barão de
Tefé, Rua Carneiro, Praça dos Estivadores ,Rua Senador Pompeu e Conceição.
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Era patente a grande alteração
desta região, tendo em sua quase totalidade forma e uso modificadas como por
exemplo o Hotel Galery, que perdeu toda sua historicidade e tornou-se um
não-lugar. Algumas, mudaram somente o uso como vemos
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em uma fundição na Rua Sacadura Cabral ou numa academia de squash na Rua Senador Pompeu temos uma igreja e vários estacionamentos, todas
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atividades estranhas ao esquema original.
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Na Rua Camerino temos os jardins suspensos do Valongo,
intervenções urbanísticas de um passado em que se tentava valorizar a área
central como uma área nobre; isso também é marcado pela arquitetura das casas
com um padrão melhor que o restante.
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Na Praça dos Estivadores, podemos perceber como um lugar
pode ter seu uso modificado. O local de passagem do caís do porto para Central
do Brasil, onde hoje sustenta um pequeno comércio, a sede dos filhos de Gandi e
reuniões sindicais está sem dúvida sedimentado sobre os corpos de muitos negros
africanos que ali eram vendidos como escravos.
Pudemos assim perceber que o Bairro da Saúde é um “à parte”
do conjunto do centro do Rio de Janeiro. Sua especificidade de formas
arquitetônicas, seu cotidiano, sua população e história, a distinguem do resto
do centro da cidade do Rio de Janeiro, sem ao mesmo tempo, conseguir segregar.

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