Retomamos os
aspectos que distinguem o aristotelismo do século XVI, conimbricense. Embora os
aristotelismos dos séculos anteriores tenham também a mesma natureza -o
Estagirita-, o aristotelismo conimbricense destaca-se pelo estabelecimento dos
textos Política e Ética a Nicômaco, de Aristóteles, a fidelidade
a esses textos e a validade objetiva de seus estudos baseados neles. Retomamos assim,
os seus primórdios, também com a implantação do trivium (gramática, retórica e dialética) e quadrivium (aritmética, geometria, astronomia e música), além do
surgimento do pensamento autônomo de Fonseca. O seu desenvolvimento, gerando
doutrinas próprias, como o Tratado da
Virtuosa Benfeitoria, do Infante D. Pedro e uma filosofia da saudade, de D. Duarte, e o seu apogeu, junto ao
pensamento de Fonseca, na doutrina da ciência
condicionada ou ciência média,
onde embora ele não se posicione frontalmente contra o aristotelismo dogmático,
sua discussão a cerca da liberdade torna-se importantíssima para o entendimento
da doutrina cartesiana.
O tema central é a decadência do aristotelismo conimbricense, aborda a
divulgação e o crescimento da influência de atitudes e trabalhos realizados de
forma científica, implementado por químicos, físicos e matemáticos modernos.
Portanto, a decadência deste aristotelismo em meados do século XVI, quanto a
sua forma e conteúdo, se dá no momento em que as idéias modernas se impõe,
gerando na sua forma mais exacerbada, a perversão do aristotelismo. Esse
antiaristotelismo conimbricense acentuou-se no século XVIII, dada a postura dos
jesuítas, que em sua 16ª Congregação Geral (1730-1731), sancionaram uma certa
permeabilidade das idéias modernas ao aristotelismo, partindo, porém, do
princípio de que as explicações dos fenômenos da natureza, baseadas no modelo
matemático-experimental, concordavam perfeitamente com a filosofia aristotélica
conimbricense.
Com base nessas idéias os jesuítas, padres e professores foram
liberados para o estudo do método matemático-experimental, julgando que isso
não interferiria na busca pelo conhecimento do Divino, do Criador. Porém, a
atitude contemplativa, já não se sustentava mais diante da necessidade
experimental da ciência moderna. A razão não poderia mais avançar sem dar
atenção a experiência. E todo conhecimento moderno se dá então, estritamente,
no âmbito da experiência. Neste momento histórico surge em Portugal a figura do
estrangeirado; intelectuais que tiveram
sua formação fora do país, e que, desta forma, sofreram maior influência das idéias
modernas. Os estrangeirados criticavam
duramente o sistema público de ensino português, culpando-o pela decadência e
demais males nacionais. Visando uma reforma curricular do ensino da disciplina
filosofia, ofereciam, assim, uma oposição interna ao pensamento português,
responsável pelo grande destaque do país no mundo, no século XVI. A tentativa
de reconduzir o Estagirita novamente à primazia da filosofia portuguesa,
provando que as ‘pretensas descobertas’ já existiam no aristotelismo, malogrou
com uma campanha iniciada pelo filósofo Luís Antônio Vernei, que com a
publicação de suas obras, Verdadeiro
método de estudar (1746) e De re
lógica (1751), acusou a lógica aristotélica de obscura e de ensinar coisas
sem utilidade.
A campanha de Vernei culminou na reforma pombalina da Universidade,
caminhando no sentido de torná-la moderna. Porém, ainda com a força e a
resistência do pensamento aristotélico, desse embate que acontece na esfera política,
resulta uma atitude frouxa entre o racionalismo e o empirismo, em lugar do
aristotelismo conimbricense. Tal atitude, chamada empirismo mitigado é exemplificada no âmbito da transferência da Corte
Portuguesa para o Brasil, quando que o curso de filosofia do Rio de Janeiro,
sob o título Preleções filosóficas,
ministrado pelo oratoriano Silvestre Pinheiro Ferreira, foi acompanhado de uma
tradução das Categorias, de
Aristóteles, que segundo o autor, servia “para o uso das Preleções filosóficas”. Mesmo que o autor não tenha feito a defesa
direta do aristotelismo, a defesa sem reservas de Aristóteles em seu discurso,
demonstra a permanência do Estagirita no pensamento português.
Essa lenta mudança de pensamento evidencia que a adoção do método
matemático-experimental trata-se de um processo e não de uma ruptura. Um
processo que apresenta maior resistência em Portugal do que em países como a
Inglaterra e a França, e que no Brasil, vêm a acontecer ainda mais tarde, por
conta da necessidade de vencer os laços que uniam a ex-colônia à sua metrópole.
Nenhum comentário:
Postar um comentário