ARTE E FENÔMENO SEGUNDO MERLEAU-PONTY
Também em Merleau-Ponty a sensação é importante para a
arte, contudo, a discussão de busca por universais presente em Platão, como
descrevemos, não está presente. Como autor que privilegia a pintura, Ponty descreve
a arte na modernidade percebendo que ela deixa de ser imitação. A arte não é
mais considerada cópia ou reprodução de objetos, mas passa a ser admitida como
forma de expressão, tanto da linguagem, para o escritor, quanto da visão, para
o pintor. Não há a idéia de transcendência, mas a volta à natureza. Em uma
posição bem diferente da que encontramos em Platão, a arte, como aponta Ponty,
nos coloca na posição de pertencimento ao mundo. Desta forma, os acontecimentos
do tempo de cada artífice toma grande importância na interpretação de sua obra.
Merleau-Ponty, por exemplo, é um pensador político que viveu preocupado com os
acontecimentos de seu tempo (1908-1961), que diz respeito ao período das
guerras mundiais.
Em A dúvida de
Cézanne, Ponty expressa a fenomenologia do sujeito como uma filosofia da
consciência. O resultado desse trabalho é uma análise da vida dos artistas e
autores que propicia uma viagem por suas experiências antes de uma viagem pela
sua obra. As diferentes fases até o impressionismo, como nos primeiros anos de
pintura, quando suas telas expressam a timidez e o caráter desconfiado do
autor. Tentar entender a arte de Cézanne é conhecer suas experiências, como por
exemplo a morte de sua mãe e irmã. Assim como colocou Ponty: a sua mãe, a única
mulher que amou.
A visão é o sentido que mais excita o artista, logo as
sensações são valorizadas. A importância de como a luz atinge o pintor é
impressa nas telas. A subjetividade é tratada por Ponty, pois dentro da obra
dos artistas e autores estão suas visões, suas percepções particulares da
própria arte. Por outro lado, a objetividade garante que as obras não sejam
devaneios impossíveis de serem identificados por aqueles procuram a arte. A
relação da arte com a realidade em Cézanne também não escolhe entre a sensação
e o pensamento, ou inteligência. Desta forma, a arte se encontra entre a
subjetividade e a objetividade, a razão e a sensação, definindo-se apenas como
expressão. A fenomenologia é uma filosofia do sujeito porque é uma filosofia da
consciência; tráz Cézanne dentro de um período de mudança da arte identificada
nos traços e nas cores usadas não só por ele, mas também por outros pintores do
período. Como comentamos, as suas experiências, as novidades da modernidade
estão expressas em sua obra.
Ponty trabalha com a idéia de construção do olhar
sobre as coisas. Quando ele diz: é
preciso fazer uma ótica própria, quer dizer deixar a arte sair do artista
sem o controle que poderia tirar dele a espontaneidade. É deixar a obra se
expressar por meio do artista ou pintor. A arte não é pensada, o pintor não
decide o que vai fazer, o que vai retratar, mas a pintura flui, sem controle
intelectual. Contudo a arte não pode ser um processo alheio a realidade, por
isso o artista deve estudar e deixar com que as experiências dos estudos lhe
influenciem, deve estar entre o subjetivo e o objetivo, como já abordamos. Um
influência que chegue ao ponto de transbordar, junto com todas as experiências
anteriores, para a tela. É como a obra se fizesse, pois o artista, sujeito da
sua obra, tornar-se-ia objeto dela, e o objeto, a pintura, tornar-se-ia o sujeito.
Essa relação de troca de papéis, não fixa, permearia a arte, dando um sentido
de catarse, não do interlocutor ou daquele que se maravilhará com a obra, mas
do próprio autor ou artista.
Bibliografia:
HESSEN, J. Teoria
do conhecimento. Editor Sucessor. Coimbra, 1973.
MERLEAU-PONTY. A dúvida de Cézanne. Ed. Abril
Cultural. São Paulo,Várias edições.
PLATÃO. Diálogos
Volume IX – Teeteto – Crátilo. Coleção Amazônia. Universidade Federal do
Pará, 1973.
PLATÃO. Hípias Maior. http://www.ebooksbrasil.com/microreader/
Nenhum comentário:
Postar um comentário