BERKELEY E HUME – REFUTAÇÕES TA
TEORIA DA ABSTRAÇÃO
Berkeley, em sua teoria, apesar de concordar com Locke
sobre a indisposição do restante dos animais em ter idéias abstratas, aponta
que a abstração não ocorre em todos os casos. Ele diz que é capaz de abstrair
ao considerar partes ou qualidades separadas de outras com que estão unidas no
mesmo objeto, mas possam existir sem elas. De forma contrária, nega que seja
possível abstrair e conceber separadamente qualidades que é impossível
encontrar separadas. Nega também que possa formar uma noção geral, abstraindo
de particularidades pelo modo referido. Berkeley não nega as idéias gerais, mas
nega as idéias gerais abstratas.
(...) a
generalidade não provém de ser um sinal de uma linha geral abstrata, mas de
todas as linhas particulares possíveis, também no segundo [onde a linha
particular fica geral por ser um símbolo, o nome ‘linha’, que em absoluto é
particular, como símbolo fica sendo geral] deve pensar-se que a generalidade
provém da mesma causa, isto é, das várias linhas particulares indiferentemente
denotadas[1].
Hume
nega a existência de idéias abstratas, para ele existem apenas Impressões
(idéias particulares/ simples). As idéias abstratas nada mais seriam do que
idéias particulares (impressões) que vinculamos a um determinado termo. Elas se
diferenciam apenas em grau de força e
vividez. As impressões e as Idéias (com menor força), representam
qualidades e quantidades, tais coisas não existem na teoria de Locke. As
impressões representam quantidades e qualidades em maior grau e as idéias em
menor grau. Por conta disso, depreende-se que as idéias particulares tem maior nitidez, além de força e vividez.
Como
podemos perceber, a teoria de Hume vai mais longe do que a teoria de Berkeley,
ao negar a teoria da abstração de Locke. Ele diz que algumas idéias são particulares em sua natureza, mas gerais em sua
representação. Ou seja, as idéias abstratas não existem dentro do
pensamento de Hume. Tanto Berkeley quanto em Hume, apontam para a importância
da linguagem em suas teorias. Como já descrevemos, Berkeley diz que o nome é
particular, porém, como símbolo, ele torna-se geral. Isto explicaria a
transformação de uma idéia particular em geral. Por outro lado, Hume argumenta
que as idéias gerais não passam de idéias particulares vinculadas a um certo
termo, e, este termo dá então um significado mais extenso do que teria
normalmente, fazendo com que, quando necessário, evoquem outros indivíduos
semelhantes.
Na argumentação de Hume de que não existem idéias
abstratas, ele encaminha a discussão contrariando o que Locke diz sobre não
serem representadas qualidades de quantidades. Hume assinala que a mente é
incapaz de formar qualquer noção de quantidade ou qualidade sem formar uma
noção precisa de seus graus, como, por exemplo, no comprimento de um dado
objeto que não pode ser distinguível do próprio objeto. A idéia geral de algum
objeto, não obstante todas as nossas abstrações e depurações, apareceria na
mente com um grau preciso de qualidade e quantidade, mesmo se a fazemos
representar outras linhas, dotadas de graus diferentes de ambas.
Na filosofia de Berkeley, onde ser é ser percebido, embora também seja demonstrado estar de acordo
sobre a exclusividade do nível de pensamento humano, discorda sobre a formação
de noções universais (semelhante a noção de idéias gerais) através da
abstração. Berkeley aponta que universalidade, não consiste na absoluta,
positiva natureza ou concepção de alguma coisa, mas na relação que significa entre
particulares; por isso coisas, nomes e noções, por natureza particulares,
tornam-se universais. Nenhuma idéia determinada limita a significação do objeto
estudado. Para exemplificar isso, Berkeley cita que um triângulo se defini como
uma superfície limitada por três linhas
retas. Esta definição não nos diz se este triângulo ou linhas são pretas,
brancas, grossas, finas, longas ou curtas, deixando em aberto uma série de
tipos de triângulos que tem características diferentes, mas que se encaixam
nesta definição. Percebemos que Berkeley quer sugerir que a doutrina das idéias
abstratas aparece como uma espécie de cilada da linguagem, pois, os nomes não
podem representar diretamente noções abstratas, mesmo querendo se reportar a coisas
particulares. Ninguém negará que muitos
nomes de uso corrente entre os homens dados à especulação nem sempre sugerem
idéias particulares determinadas ou até nada sugerem.
Quando Berkeley aponta que na definição de triângulo
não se diz suas características, se grande ou pequena, preta ou branca, está portanto,
portanto a inseparabilidade de propriedades existentes nas idéias gerais, o que
também ocorre mentalmente, como acabamos de citar.
Percebemos também que a teoria e Hume se assemelha a
Berkeley quando aponta que uma idéia particular se torna geral quando a
vinculamos a um termo geral. Ou seja, enquanto Berkeley aponta que uma idéia se
torna geral quando damos a ela um significado mais extenso que normal, em Hume,
da mesma forma, é explicado que por uma conjunção habitual, relaciona-se com
muitas outras idéias particulares.
Bibliografia:
BARKELEY, G. Tratado
sobre os princípios do conhecimento humano. Ed. Nova Cultural. São Paulo,
1989.
HUME, D. Tratado da natureza humana. Ed. Nova
Cultural. São Paulo, 1989.
LOCKE, J. Ensaio
acerca do entendimento humano. Ed. Nova Cultural. São Paulo, 2000.
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