IV - História da Filosofia
Etimologia
"A
filosofia é a mais sublime das músicas.". Platão
O termo filosofia é de origem grega. Os historiadores da filosofia
apontam que Pitágoras de Samos (570-497 a.C.) teria sido o responsável por
relacionar essa palavra à sabedoria que cabe aos homens e a sabedoria que cabe
aos deuses. Filosofia nasce da união de duas outras palavras gregas: Philo e Sophia. Philo quer dizer
“aquele que tem um sentimento de amizade ou que tem um sentimento de amor
fraterno”. Sophia significa
‘sabedoria’. Na união das duas, temos: Amor pela sabedoria, Sentimento de
respeito ou amor fraternal pelo saber.
Notemos que não somos donos do saber. Isso acontece porque Pitágoras,
sensível as imperfeições humanas, apontou que o homem não tem capacidade
intelectual para deter em si o conhecimento do todo, isto é, não podemos saber
tudo. Porém, dentro do conhecimento inesgotável das coisas, podemos buscar o
quanto pudermos e quisermos, nós podemos amar o saber. Aos deuses caberia o
conhecimento pleno, completo e absoluto, pois seriam infinitas em suas
capacidades.
Nascimento e Origens da Filosofia;
perspectivas
“A Dúvida é o princípio da Sabedoria”. Aristóteles
Segundo Platão e Aristóteles, a filosofia nasce em nossas mentes através
do espanto e admiração (thaumatzein)
de cada homem com os saberes que estão diante de nós. Historicamente, como
procedimento na construção de novos saberes, podemos apontar três teorias sobre
a sua origem, são elas: Teoria Ocidental, Teoria Oriental e Teoria Mediana.
A Teoria Ocidental ou também conhecida como Milagre Grego, diz que todo o
conhecimento foi desenvolvido unicamente pelo povo grego, o que inclui aí as
suas colônias. Ao aceitar essa teoria, devemos ficar atentos que aceitamos a
idéia de um acontecimento ímpar, realizado por um povo que atingiu um avanço
intelectual tão alto que em nenhum momento da história foi igualado por outra
civilização.
Na Teoria Oriental, os gregos figurariam como transformadores do
pensamento oriental, vindo de nações como a Pérsia, a Caldéia, a Fenícia, a
Babilônia, a Assíria e o Egito. Seriam os gregos uma civilização que através
das guerras, acordos políticos e, principalmente, das relações comerciais,
teriam tido contato com esses povos, adotando e transformando sua cultura.
Muito mais tarde, entre os séculos XIX e XX, o desenvolvimento de estudos
arqueológicos, históricos e linguísticos mostraram os exageros das teorias
oriental e ocidental, sem, porém refutá-las. Surge neste período uma terceira
forma de explicar as origens da filosofia: a Teoria Mediana. Os estudos revelam
que os principais poetas gregos, Hesíodo e Homero, utilizaram-se de mitos de
civilizações que ocuparam aquela região antes de se formarem suas
Cidades-Estado (polis), bem como de
mitos orientais dos quais tiveram contato através de viagens, construindo assim
o panteão mitológico grego, que influiu sobre a vida da população e serviu de
princípio para o pensamento transformador da filosofia.
De qualquer forma, os gregos são responsáveis pelo modelo de razão
ocidental, que é universal, regido por regras, normas e leis, mantendo-se
atemporal, aceito em todos os tempos e lugares, abrindo as portas para o que é
hoje a filosofia. Desenvolveram a partir daí uma forma de organização dos
conhecimentos práticos do cotidiano de muitos povos, tornando-os sistemáticos e
racionais, isto é, ciências[1].
De fato, a filosofia como reflexão é a raiz de todas as disciplinas que você
estuda agora e estudará no futuro.
As novidades helênicas são variadas. A mais evidente é a de tornar os
deuses divindades parecidas fisicamente e moralmente com os homens. Na Ilíada, por
exemplo, podemos perceber que os deuses apresentam sentimentos tipicamente
humanos, como a raiva, a inveja, o amor carnal, a vaidade e a compaixão,
orgulho, ciúme, entre outros. Essas entidades são esculpidas na antiguidade
como humanos com idades diferentes e corpos torneados de acordo com a concepção
estética do espaço e tempo em que viveram os escultores. Esse movimento de
aproximar os deuses dos homens vai mais tarde facilitar o trabalho dos
filósofos, que se dedicarão a divinizar o homem, ou seja, colocarão o homem no
centro das explicações sobre os fenômenos do mundo.
Porque na Grécia (Hélade)?
“A ociosidade é
a mãe da filosofia”. Thomas Hobbes
Porque o pensamento filosófico surgiu logo na Hélade? Bom, primeiro
devemos entender que pensar é uma atividade extenuante, cansativa. É duro para
uma pessoa trabalhar fisicamente o dia inteiro e ainda se dedicar a refletir
filosoficamente. Precisamos então de que exista um grupo especial de pessoas
que possa se voltar exclusivamente, ou pelo menos por grande parte de seu
tempo, à especulação filosófica. Esse grande tempo dedicado a pensar era
chamado pelos gregos de ócio produtivo,
ou seja, o tempo que se passa refletindo com o intuito de resolver algum
problema ou elaborar um conhecimento novo.
O pensador, para continuar em seu ócio produtivo, dedicando-se as suas
obras, precisa ter uma condição financeira razoável ou precisa de alguém que
tenha posses suficientes para arcar com seus custos. Séculos mais tarde, já
dentro do império romano, esse homem será chamado de Mecenas. Na Grécia, essas
condições materiais vão surgir por volta dos séculos VII e VI A.C., sendo
decisivo para o pensamento filosófico.
Tomando uma perspectiva Mediana da origem da filosofia, ressaltamos que,
o comércio, as guerras e demais viagens marítimas colocaram em contato intenso
as culturas orientais e ocidentais. Como resultado, as ideias místicas que os
ocidentais tinham dos homens e das terras do oriente se perderam. As
explicações sobre essas regiões e os fenômenos em suas próprias terras não
conseguiam mais ser explicados pelos mitos. Junto disso, os comerciantes, que
enriqueciam com as rotas que levavam e traziam produtos e culturas de longe,
estavam ávidos por participar das decisões econômicas que naquele tempo cabiam
as famílias aristocráticas, muitas vezes identificadas com mitos de herois e
semideuses. Esses comerciantes se tornaram fortes com a invenção da moeda, o
que permitiu a eles acumular riquezas. E com o desenvolvimento da vida urbana, região
que esses comerciantes ocupavam, logo se tornou iminente o conflito com as
poderosas famílias que mantinham seu poder baseado nas terras.
Ao financiar os pensadores, os comerciantes ajudaram na substituição das
verdades absolutas dos poetas-rapsodo, que por muitas vezes atendiam os
interesses das famílias aristocráticas que viviam no meio rural, por reflexões
lógicas que poderiam ser constatadas na prática do dia-a-dia, e que colocavam todos
os gregos em pé de igualdade política.
Com a invenção da escrita alfabética os poetas que tinham a verdade
absoluta, baseada em sua oralidade, sofreram o duro golpe da disseminação do
conhecimento feito pelos escritos, que tendiam a uniformização do saber. Ficou mais
difícil aumentar um ponto ao contar um conto. O golpe derradeiro foi a invenção
da política, da qual vieram algumas noções como a de leis, cidadania e
participação coletiva. Esse período do início da transição do eixo econômico do
rural para o urbano foi vivenciando pelos filósofos pré-socráticos, sendo mais
tarde, no esplendor, vivenciado por filósofos de influência socrática. Assim,
percebemos que no primeiro momento, a filosofia, não se aliará nas explicações
do mundo, ao homem, mas sim a natureza.
EXERCÍCIOS PROPOSTOS:
1. (UFRJ 2007) “Filosofia”
é uma palavra de origem grega. Ela é constituída pela reunião de duas outras
palavras gregas: “philia” e “sophia”. O
termo grego “philia” pode ser traduzido
por “amizade”, “afeição”, “amor”. Já o termo “sophia”
costuma ser traduzido por “sabedoria”. A partir dessas considerações:
a) indique o
significado da palavra “filosofia”;
b) comente o sentido
da atividade que ela designa.
2. Marque
apenas uma resposta. Segundo o filósofo pré-socrático Pitágoras, apenas os
deuses são capazes de compreender o conhecimento ou o saber completo. Desta
forma, ao homem, como um ser incompleto, caberia:
(a)
Manter-se ignorante;
(b)
Esperar pela salvação eterna;
(c)
Esperar pelo perdão daqueles deuses que
tudo saem sobre o mundo e sua vida;
(d)
Ser amigo do saber ou conhecimento;
(e)
Ser dono do conhecimento.
3. Disserte sobre a teoria
ocidental de origem da filosofia.
4. Disserte sobre a teoria
oriental de origem da filosofia.
5. Marque uma opção. Sobre a
gênese da filosofia, existem pelo menos três teorias. Uma delas, a Teoria
Mediana, trata sobre sua origem da filosofia de uma forma inovadora.
Identifique e marque essa teoria entre as que estão a baixo:
(a)
Os filósofos gregos desenvolveram a filosofia sozinhos,
até chegar aos pensamentos que conhecemos hoje;
(b)
Os filósofos gregos tiveram contato com pensadores
orientais, assimilaram o saber e desenvolveram o pensamento filosófico;
(c)
Os filósofos gregos aprenderam seus conhecimentos com
as filosofias já desenvolvidas pelos povos orientais;
(d)
Os pensadores orientais são responsáveis por
desenvolver e entregar finalizada a filosofia as culturas ocidentais.
(e)
Os pensadores ocidentais foram responsáveis por,
sozinhos, todo o conhecimento que temos até os dias de hoje.
6. Indique o porquê da Hélade
ter sido a região onde se originou o pensamento filosófico.
7. Relacione as condições
materiais da antiga Grécia e a posição do filósofo diante disso.
GABARITO
1. Solução: A) como apontou o
próprio enunciado da questão da UFRJ, filosofia é a união de dois termos de
origem grega: Philo ou Philia e Sophia, onde o primeiro
significa “amigo” ou “amor fraterno” e o segundo “sabedoria”, “Saber”. Assim,
filosofia significa, de forma resumida, amor pelo saber.
B) A atividade do filósofo designa uma busca incessante pelo saber. Seu
significa indica disposição do indivíduo na busca pelo conhecimento.
2. Solução: D
3. Solução: Também chama da de Milagre Grego, a Teoria Ocidental,
aponta que todo o conhecimento filosófico foi desenvolvido pelo povo grego, sem
qualquer ajuda ou relação de proximidade cultural com outro povos.
4. Solução: Ao contrário da Teoria Ocidental, a Teoria Oriental afirma
que o conhecimento se desenvolveu no seio de nações como a Pérsia, a Caldéia, a
Fenícia, a Babilônia, a Assíria e o Egito. Os gregos teriam apenas adaptado as
culturas com que tiveram contato através de guerras e comércio, a realidade em
que viviam.
5. B
6. Solução: Ao apontar o porquê da Grécia ter se transformado no berço
da civilização ocidental, o aluno deve descrever o desenvolvimento das cidades,
dos comerciantes e de seus interesses em mudar o pensamento na administração das
Cidades-estado gregas. Trata-se de uma nova e rica classe que anseia por
participação política, num lugar onde a importância de uma pessoa ainda era
relacionada a mitos contavam suas histórias familiares.
7. Solução: Nesta questão o aluna deve dissertar sobre a importância
do ócio produtivo. A necessidade do pensador de estudar e ter tempo para
refletir sobre os conhecimentos adquiridos a fim de produzir novos saberes. Os
responsáveis por manter esses homens financeiramente, contando que os novos
pensadores conseguiriam dirimir a antiga Ordem social, eram os comerciantes que
enriqueceram, mas não conseguiam inserção política, pois não faziam parte das
famílias aristocráticas.
Fábio Souza Lima
[1]
Entendemos ainda hoje a ciência como um saber racional, metódico e rigoroso, de
forma com que possam ser desenvolvidos e transmitidos em um sistema de ensino.
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