Fábio Souza Corrêa Lima.
Carlos Augusto Santana Pereira
Michael
Batista Lima
Vanessa Alves Pinheiro
Reflexões sobre os fragmentos 7 e 8 do Poema de Parmênides, “Da
Natureza”.
1. Introdução
O grupo, segundo o qual responsável
por compreender, desenvolver e interpretar os fragmentos 7 e 8 do Poema de
Parmênides, estabelece neste trabalho – resultado duma consulta bibliográfica –
uma cuidadosa interpretação desta parte. Outrossim, no desenvolvimento deste
trabalho se encontrará – com base no conhecimento adquirido pelo grupo no
seminário – o aspecto pelo qual Parmênides funda a teoria do ser (ontologia).
Diferentemente da visão mais geral, a ontologia não nascera com uma única idéia
(a idéia de ser), mas, com a influência de suas categorias, é que podemos
conceber a idéia de ser significando uma realidade vasta, universal e,
essencial. Estas categorias se encontram
nos fragmentos, os quais, são o objeto deste trabalho. Além do mais, trataremos
da noção de sema (σεμα),
ou sinal.
As
idéias de ser e não-ser proferidas pela deusa, antes de tudo, são abstratas.
São conceitos considerados fundamentais à Filosofia Ocidental, justamente
porque é com estes que se inauguram os princípios lógicos de identidade e o de
não-contradição. Podemos dizer que o Poema de Parmênides caracteriza-se como o
primeiro discurso ontológico da história da filosofia, cujo entendimento ou
intuição é importante, porque ajuda a perceber a origem do discurso metafísico,
que também é um ramo da ontologia.
Pois bem, nossa referência – no
âmbito da introdução – é a obra Da Natureza, Parmênides, de Santos
(2000). Esmiuçando a introdução – suponho poder falar assim – falaremos
brevemente sobre a importância do poema, a história das cópias deste texto e,
sobre o próprio texto do poema sob a ótica do autor. Igualmente, citaremos uma
pergunta que, sob nosso ponto de vista, ajuda para uma conquista de imaginação
filosófica à concepção dos dois conceitos de ser e não-ser que se alojam na
noção de caminho ou via. Esta pergunta é extraída da fonte de Santos (2000).
Em resumo, acerca de nossas reuniões
de grupo cujo objeto fora o sentido dos fragmentos 7 e 8, chegamos a uma outra
questão que até agora está insuperável, pelo menos para nós do grupo. Tal
questão se baseia no próprio preceito dado pela deusa. Pois, já que devemos
evitar que nossas percepções adentrem na via do não-ser, efetivamente, então, é
só o ser que interessa, ou o caminho da verdade. Talvez, com intencionalidade
de previsão, perguntamos o que seria o ser; e, se seria possível ao homem
representar no pensamento e expressar, um conceito mais extenso que o de ser.
Note que, não se trata duma questão nova, inaugural... mas sim, trata-se de uma
questão da tradicão. Pois, o que teria de novo aí, é que chegamos a esta
questão através de uma experiência própria, por meio de nossos pensamentos
próprios, trocando idéias, portanto.
- O Poema de Parmênides
No processo de fixação e renovação
do saber, no âmbito do Ocidente Grego, o Poema de Parmênides desempenhou uma
função essencial. Pois, dele: colhe-se a concentração em saber; deriva-se a
teorização de discurso (que os sofistas explorarão); e, é dele que se recebe a
ordem de procurar o saber através do debate dialético pela lógica (SANTOS,
2000). Eternamente, o Poema de Parmênides continuará sendo reconhecido como a
primeira obra em que se definem os princípios reguladores da atividade de
pensamento (Ibidem). Em resumo e com esta consulta, visamos orientar a atenção
de todos à repercussão deste com o seu nascimento na Grécia, ou na sua
condicionalidade histórica (pressupondo como condição à sua origem a crítica de
Parmênides a Heráclito), e, depois, também, no transcorrer da história da
filosofia.
- História das cópias do Poema
Todos os filósofos gregos manifestam
Parmênides. O reconhecimento desta manifestação se atesta nas seguintes obras: Sofista
de Platão e na Física de Aristóteles. A fixação do texto do Poema se
deve a Teofrasto, que sucedeu Aristóteles a frente do Liceu; depois, a uma obra
de Sexto Empírico e, a uma referência de Clemente de Alexandria (a quem devemos
o fragmento 4). Posteriormente, os neoplatônicos Proclo e Simplício copiaram
partes consideráveis do poema. Logo, foi graças aos neoplatônicos que a
extensão da influência do poema na tradição grega chegou a poder ser hoje
conhecida.
Na Idade Média, a questão sobre a
preservação do manuscrito (a obra) foi resolvida, por um lado, pelo acesso e
recurso ao pergaminho e ao trabalho dos copistas conventuais; e, por outro
lado, com a invenção da imprensa. Então, a fixação do texto se estabeleceu.
Com efeito, um outro problema
surgiu. A comparação de versões do mesmo texto resultou em versões diferentes.
Assim sendo, a solução para este problema só se deu com o estabelecimento duma
citação crítica (uma norma de cientificidade que todas as edições
interpretações sobre o tema devem conter, ou a obrigação de referência crítica
das mesmas até hoje apresentadas). Hoje em dia, todos os exemplares que o
público conhece, foram feitos a partir duma edição crítica.
A primeira edição crítica é da
autoria de Diels, intitulando-se Parmênides’ Lehrgedicht, griechisch und
deutsch (Berlin, 1897). Depois, o trabalho de Diels passou à generalidade
através da publicação da obra que estabelece as condições de acesso ao textos
dos pensadores antes de Sócrates: Die Fragmente der Vorsokratiker,
Berlin, 1903 (conhecido pela sigla DK). A partir de então, o número de edições,
traduções e comentários vem aumentando muito (SANTOS, 2000).
- O texto do Poema
O Proêmio é o fragmento 1. Ele
descreve a viagem do jovem ao encontro com a deusa, de quem lhe vem os
ensinamentos. A “Via da Verdade” (fragmentos 2-8), trata dos argumentos da
deusa sobre o ser. A “Via da Opinião” (fragmento 8) estabelece a
condicionalidade de opiniões dos mortais (Ibidem).
O problema, segundo o qual para nós
ajuda para uma conquista de imaginação filosófica de qualquer entendimento
sobre o texto do poema, está na seguinte pergunta feita por Santos (2000): “Por
que razão se teria a deusa dado ao trabalho de falar da aparência, depois de
ter provado que nela nada de bom havia?” (p.64). Poderíamos conceber,
suponho, que a deusa dá-se a este trabalho de falar da aparência justamente
porque tudo que é dado a sensibilidade humana (realidades externas) percorre o
todo. Pode-se juntar a esta idéia, o discurso de que o mundo da ilusão não
seria uma ilusão de mundo, e, que caberia à razão interpretar, explicar e
compreender a manifestação deste mundo até que alcançasse a essência dele
(COTRIM, 1997). Então, nosso grupo interpretou que a deusa fala da aparência
objetivando, por um lado, reforçar a idéia de ser – que é a que interessa – e,
por outro, exortar o jovem a esforçar-se para ver a essência de todas as
coisas.
Nas experiências de reuniões em
grupo sempre tivemos conosco – assim como qualquer ser racional – o cuidado na
hora de dar solução aos problemas. Entretanto, com um pouco de independência de
espírito e no transcorrer duma certa reunião, chegamos a um problema que, até
agora não achamos a solução. Malgrado, e, com referência a este suposto
problema, sabemos que Parmênides, para assegurar as características do ser como
continuidade, indivisibilidade, ou
eternidade, dissera que o ser é a esfera. E, também, dizia ela ser o
volume circular e perfeito ganhando o sentido de ser sem começo e sem fim,
igualmente, o sentido de ser plena (CHAUÍ, 2002), etc... à nossa questão
problemática estas idéias revelaram-se insuficientes. A pergunta: o que é o
ser?, aponta à definição duma idéia, e, definir algo supõe reduzir alguma
coisa a elementos de caráter mais gerais (MORENTE, 1930). Para nossa concepção,
a noção de esfera de Parmênides não pode conter a de ser, pois o ser deve ser
tudo e, por outro lado, ser uma realidade quase inexistente, quase nada, haja
vista, a dificuldade dum ser humano representá-la no pensamento.
Sobre o texto do poema, a questão
mais profunda foi esta da definição. Reiteramos que a necessidade de
conhecimento da totalidade do poema - cujo ponto de partida é a abstração do
ser em relação ao não-ser – é a condição mesma à garantia duma congruente
interpretação do Poema de Parmênides. Segundo Santos (2000), ainda não surgiu
esta suposta consciência de extensão do texto e, por isso, ele conclui que,
todas as interpretações são conjeturas. Ainda, o número de interpretações,
edições, comentários e traduções, que é diverso, mostra logicamente, que o
texto causa alguns efeitos nos estudiosos: interesse, insatisfação que nenhuma
edição resolveu até hoje e, resulta por revelar riqueza e diversidade que há em
si.
Em resumo, a nossa finalidade, com
as interpretações que trouxemos, é de proporcionar a todos procedimentos a fim
de revelar o sentido oculto do poema, bem como, o cuidado com os juízos que
fazemos de cada leitura, sobretudo, se caso for o objetivo do leitor de
semeá-los, divulga-los. Com estas interpretações que apresentaremos à seguir,
pretendemos contribuir, também, à compreensão do poema e, outrossim, à
evidência – sobretudo com esta breve introdução – da função por este
desempenhada na Filosofia e na Cultura Ocidental (SANTOS, 2000).
5.
A Fala da Deusa
No Poema observamos que há uma caracterização da realidade, em um sentido
mais profundo, como algo imutável, que elimina o movimento e a mudança, pois
estas transformações cabem ao não-ser, pois não deixou de ser, não veio a ser o
que será, por tal motivo, somente o
“ser” possui a característica de ser permanente e imutável.
A Deusa no decorrer do texto menciona sobre o caminho que deve ser
seguido e que pode ser interpretado de diversas formas: como dois caminhos, um
que nos leva a realidade vacilante e outro que nos leva a realidade verdadeira;
ou como três caminhos os dois citados anteriormente mais a via da opinião; ou
como um caminho único.
Parmênides inaugura uma das distinções mais fundamentais da filosofia: a
diferença entre realidade e aparência. Assim ocorre a caracterização do
movimento, que se apresenta como aparente, como algo superficial, porém se
formos além da experiência sensível, do imediatismo, observaremos que a
realidade é única, imóvel, eterna, imutável.
Parmênides fala sobre o caminho que é demonstrando vários sinais do ser:
Só falta falar agora do
caminho
que é. Sobre este são muitos
os sinais
de que o ser é ingênito e
indestrutível,
pois é compacto inabalável e
sem fim;
não foi nem será, pois é
agora um todo homogêneo,
uno, continuo.
Ao mencionar sobre a impossibilidade de geração e destruição do ser, a
Deusa nos apresenta algumas novidades que só conseguimos considerar fisicamente
como este ser: compacto, inabalável, sem fim, estas
características nos ajudam a compreender quais são os sinais do ser,.
Através dos questionamentos sobre as razões que justificariam qualquer
origem do ser ou causa de alteração do ser, não há nenhuma, pois caso houvesse
seria o não-ser.
Os sinais que a Deusa menciona nos permitem saber que direção deve ser
seguida, visto que um sinal aponta, direciona, e este no caso do texto mostra,
define um caminho, que vem a ser a via da Verdade, do que existe, do real.
Estes múltiplos sinais apontam, mostram, indicam e tornam possíveis o “ser” ser
mencionado.
Mas o que nos chama a atenção na argumentação da Deusa é onde de fato
Parmênides tenta chegar ou nos conduzir. Ao afirmar “é o mesmo o ser e o
pensar”, o autor coloca no mesmo plano a racionalidade do real e a razão
humana, permitindo assim que o homem possa pensar o ser, todavia para tal este
deve se afastar do caminho da opinião e seguir o caminho da Verdade.
- Anaximandro e Heráclito no contexto da filosofia de
Parmênides
Parmênides, assim como Heráclito, herdam a missão de responder algumas
lacunas deixadas pela filosofia de Anaximandro. Este coloca o mundo como um
lugar de vir-a-ser, onde acontecem
simultaneamente crime e expiação. Num primeiro momento, Parmênides identifica
em nosso mundo qualidades positivas e negativas, como luminoso em oposição ao
escuro ou ativo em oposição ao passivo, chamando também essas qualidades de ser e de não-ser. Desta forma, Parmênides contradiz Anaximandro, apontando
que o mundo tem algo de ser e algo de
não-ser. O vir-a-ser participa de ambos os processos, no ser e no não-ser. “Ao vir-a-ser é necessário tanto o ser quanto o não-ser; se
eles agem conjuntamente, então resulta um vir-a-ser” (NIETZSCHE, 2000, p.129).
Contudo, percebe que o que é verdadeiro precisa estar em um presente
eterno, pois do contrário, Ele teria vindo de um outro ser ou de um não ser, o
que é impossível, já que Parmêmides O aponta como indivisível, imortal, como
Aquele não nasce ou morre.
- Estuda o ser é estudar a Verdade
O que é
verdadeiro precisa estar no presente eterno, dele não pode ser dito “ele era”.
O ser não pode vir-a-ser: pois de que ele teria vindo? Do não ser? Mas o
não-ser não é e não pode produzir nada. Do ser? Isto não seria senão
produzir-se a si mesmo produzir a si mesmo.
Friederich
Nietzsche,
A
filosofia na época trágica dos gregos
Quem é essa entidade que fala com o jovem, para Parmênides? Pois essas
características de que não morre, não nasce, é uno, não permite vazio, está
contido em tudo, é indivisível e está contido em um eterno presente, em
Aristóteles, são identificadas como as características de Deus. Mas não pode
ser Deus em Parmênides, pois o jovem interlocutor já fala com uma deusa. Além
disso, já que ela fala, portanto, o momento da conversa um dia será passado –e
já foi futuro–, mas no poema, Parmênides ressalta que Ele está em eterno
presente. Está deusa é a verdade. E a diferença entre Parmênides e Aristóteles
é que no primeiro aponta o ser como a
Natureza e o segundo, aponta o ser como Deus.
Identificando apenas o ser como
o caminho da verdade, portanto, da
luz e o não-ser como o caminho vacilante,
da escuridão, não firme, percebemos que a verdade
oferece algumas certezas para homem. A busca pela verdade neste caminho, parece
apenas a busca por um parte sólida onde possa ficar de pé, em um mar de
dúvidas.
Estudar o ser, já que ele é contínuo e está em tudo, é estudar o homem.
Com essa idéia, percebemos que o prelúdio do surgimento da Ontologia, da
Metafísica, onde o homem ganha importância frente a natureza.
Bibliografia
CHAUÍ, Marilena. Introdução à
História da Filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. 2ª ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 2002.
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da
Filosofia. 13ª ed. Saraiva: 1997.
MORENTE, Manuel García. Fundamentos
de Filosofia. Tradução de Guilhermo de la Cruz Coronado. 8ª ed. São Paulo:
Mestre You, 1930.
NIETZSCHE, F. A filosofia na época
trágica dos gregos. In: Pré-socráticos. São Paulo:
Nova Cultural, 2000. (Coleção Os Pensadores).
PARMÊNIDES. Da Natureza.
Trad. Fernando Santoro (versão beta). Rio de Janeiro: Lab. OUSIA, 2006.
SANTOS, José Trindade. Da
Natureza, Parmênides. Brasília: Thesaurus, 2000.
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