BOURDIEU, Pierre. O campo Científico. IN: ORTIZ, Renato. Sociologia. Editora Ática, São
Paulo, 1983, pp. 122-155.
A ideia de uma ciência
neutra é uma ficção, e uma ficção interessada, que permite fazer passar por
científico uma forma neutralizada e eufêmica, particularmente eficaz
simbolicamente porque particularmente irreconhecível, da representação
dominante do mundo social (Boudieu, P. 1983)
Pierre Bourdieu em o Campo Científico a
construção do conhecimento pelo seu viés mais espinhoso: as relações humanas.
Assuntos que aos olhos de leigos e jovens acadêmicos inocentes pareciam bem
definidos desde o nascimento da filosofia ocidental, época em que os argumentos
de autoridade de poetas e sacerdotes ainda prevaleciam em embates contra os
pensamentos construídos sobre os alicerces incipientes da razão, são trazidos à
tona em um discurso direto àqueles que se aventuram na ciência. Ao contrário
dos termos epistemologia, imparcialidade, construção e embasamento,
as expressões, prestígio, interesses, disputa e poder, são as
verdadeiras palavras mágicas que encaminham a discussão de Bourdieu sobre o que
está por trás das cortinas que velam o mundo acadêmico.
Logo no início, o autor descontrói a perspectiva
simplória da possível existência de julgadores imparciais da produção
intelectual, o que encaminha o leitor a entender o que é capital científico, como
se dá o seu desenvolvimento e em que bases os interesses de investimentos
científicos em algumas áreas aparecem mais acentuadamente do que em outras. A
corrida ao mercado do reconhecimento, apresenta, segundo Bourdieu, um conjunto
de leis “que nada tem a ver com a moral” (BOURDIEU, P. 1983), posição com a qual apresentamos leve divergência.
Isto porque a construção de um capital
científico, tal qual a política, por
exemplo, apresentam uma moral diferenciada, fruto da das suas dinâmicas
próprias. É justamente, em nossa crença, que da comparação direta entre as duas
perspectivas, surge uma sensação (empiricamente comprovável) de dissonância
entre o campo científico e os valores e ideias que compõe o senso comum da
sociedade. Aliás, esse nosso posicionamento em contrário ao conhecido sociólogo
Pierre Bourdieu (posição que não nos cabe discorrer por mais tempo aqui) é
avaliado como o caminho mais longo e tortuoso de reconhecimento, visto que em
seu germe, segundo o próprio Bourdieu, está claramente colocada uma estratégia de subversão à Ordem científica estabelecida. Seu
movimento alternativo, da ordem da conservação em reprodução, fundamenta o
pensamento de uma espécie de clube, onde para penetrar é necessário concordar e
promover a concordância.
Por fim, o autor explora o caráter dos falsos
intelectuais, ao fazer um uso socraticamente irônico do termo Doxósofos, para designar os que se
alienam deliberadamente ou não, ao mercado de bens científicos. “Doxó”, do
grego Doxa, significa opinião, conceito largamente usado para
aquilo que se fala sem acuidade científica-filosófica. E “Sofos”, que por sua
vez significa sábio, completa o
sentido de um meio acadêmico que precisa preocupar-se mais com o caos da
revolução permanente, e menos, com o ordenamento dos conhecimentos
pré-estabelecidos.
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