LÖWY, Michael.
O Marxismo na América Latina. Uma antologia de 1909 aos dias atuais. Ed.
Fundação Perseu Abramo.
1ª Fase da história do Marxismo na A.L.: Os marxistas tendia a
classificar a revolução latino-americana como socialista democrática e
antiimperialista.
EUROCENTRISMO: Um teoria –referência ao marxismo–, que
apenas transplanta a experiência européia para A.L.
EXEPCIONALISMO: Melhor exemplo: APRA, tentou adaptar as
teorias nascidas na europa, para depois melhora-la em um populismo sui generis.
Contudo,
predominantemente aos pesquisadores, permanece a idéia de que o continente é
uma espécie de Europa tropical, vivendo em uma era feudal, com uma burguesia
progressista. Alguns pensadores brasileiros refutam essa idéia: Caio Prado Jr.
Ségio Bagú, Marcelo Segall.
Luiz
Emílio Recabarren, tipógrafo, foi o primeiro homem a voltar-se para o
bolchevismo, fundando no Chile o Partido Operário Socialista do Chile.
Júlio
Antônio Mella (1903-1929), cubano, fundou a Liga Anticlerical de Cuba
(1922), Federação dos Estudantes Universitários (1923) e a seção cubana da Liga
Antiimperialista das Américas (1925). Além disso, participou da fundação do PC
cubano (1925), sendo eleito para membro do Comitê central. Mella era um árduo
defensor do nacionalismo e da libertação nacional, contudo criticava duramente
o nacionalismo populista da APRA de Haya de La Torre.
Mariátegui
(1894-1930), nasceu na Itália mas viveu no Peru, fundou em 1926, a revista
Amauta. Rompeu com a APRA em 1928. Em sua obra, Mariátegui pregava o rompimento
da visão stalinista de evolução por etapas, ou revolução por etapas. Dizia que
no Peru não existia uma burguesia progressista com uma sensibilidade nacional
que se declarasse liberal e democrática, para participar de tal “evolução”. A
partir dessa concepção, que Mariátegui desenvolveu sua concepção estratégica
para o Partido Socialsita (1928): A revolução deveria acontecer diretamente do
estado evolutivo que as economias da América Latina estavam, já que a burguesia
latina chegou tarde demais a cena histórica, para a revolução socialista. Sem
etapas. Sem dúvidas uma leitura independente do marxismo.
Vittorio
Codovilla (1894-1970): Também nascido na Itália, chegou na Argentina em
1912. Um líder comunista muito ligado ao Comintern de Stalin, seguindo
fielmente sua orientação. Em 1918, foi um dos fundadores do Partido Socialista
Internacinal, que depois se transformou no Partido Comunista Argentino. Em
1926, articipou na adoção de uma resolução do Comitê Central do PC argentino
que condenava o trotskismo e solidarizava-se com as lideranças do Partido
Comunista da União Soviética. Cita em seus trabalhos que a revolução deve
começar por uma etapa democrática-burguesa, admitindo assim a concepção
stalinista etapista.
Augusto
Farabundo Martí (1893-1932): Liderou a primeira e única insurreição de
massas acontecida na América Latina, liderada por uma partido comunista –o
Partido Comunista de El Salvador. Martí era completamente autônomo à III
Internacional e ao Comintern. El Salvador, sob a ditadura do General Martínez,
sofreu a chamada repressão preventiva, que prendeu diversos líderes do PC
salvadorenho. Em resposta, uma insurreição camponesa estabeleceu sovietes em
vários povoados. O que ocorreu a partir daí, é o que foi chamado de La Matanza.
20 mil crianças, mulheres e adultos foram assassinados pelo exército de El
Salvador, entre eles Martí. Apenas uma outra tetativa Comunista aconteu na
A.L., foi no Brasil, em 1935, onde o “Cavaleiro da Esperança” liderou um
levante militar. Além dessa diferença, no Brasil, Prestes contou com um mínimo
de orientação do Comintern, ou seja, de uma proposta revolucionária democrática-burguesa.
2ª Fase da história do Marxismo na A.L.: Caracterizado pelo
predomínio da teoria das etapas.
As
mortes de Mella e Mariátegui, marcam um
período de degradação do pensamento marxista autônomo na América Latina.
É um período marcado pelo grande desenvolvimento do pensamento Stalinista. Em
1936, o processo de stalinização dos partidos estava completo. O resultado
desse processo foi a adoção da doutrina da revolução por etapas e do bloco de
quatro classes (o Proletáriado, o campesinato, a pequena burguesia e a
burguesia nacional), uma doutrina elaborda por Stalin e aplicada na China e em
todos os países da A.L. Sua interpretação coloca esses países como semifeudais
e economicamente atrasados e, logo, sem amadurecimento para uma revolução
socialista. As convicções dos teóricos que trabalhavam nessa interpretação,
detinham a sincera convicção de que URSS era apátria do socialismo e que
estavam fazendoo que o povo realmente queria, abrindo espaço para o socialismo
através da introdução de uma etapa democrática-burguesa.
É
também um período marcado por alianças de partidos comunistas, socialsitas e
democrático-burgueses, em uma aliança antifascista. Em países em que não haviam
partidos democrático-burgueses, as alianças eram feitas por qualquer associação
considerada liberal ou mesmo nacionalista. Contudo, no Peru, rejeitado pela
APRA, o PC peruano uniu-se à Frende Domocrática. O PC cubano apoiou também
Fulgêncio Batista em 1939, por colaboração com os EUA contra o fascismo.
Browderismo:
O Partido Comunista dos EUA declarou o início de uma era de amizade e
colaboração entre o campo socialista e os EUA. Dizia que os acordos feitos
antifascismo estavam destinados a continuar mesmo depois do fim da guerra. Além
disso, podia-se caracteriza-lo pelos diversos movimentos ocorridos, que
celebravam acordos entre patrões e empregados. O pós-browderismo, caracterizado
pela “unidade nacional”, também contra o fascismo. No exemplo de Perón, onde o
PC argentino achando que ele era fascista, se uniu com grupos de direita
formando a União Democrática. Também na Bolívia ocorreu uma coalizão entre a
Esquerda Revolucionária e Partidos tradicionais da Oligarquia, para derrubar o
governo do Movimento Nacional Revolucionário (MNR, populista), considerado
pró-fascista. Exceção: o Brasil: onde o PC apoiou Getúlio Vargas.
Contudo
o trotskismo, na figura de Aguirre, fundou o POR na Bolívia.
Revolução
Cubana (1959):
Ainda
neste período, chamado por Michael Löwy de 2ª Etapa do pensamento marxista na
A.L. houve grande produção de obras que refutassem a ideias de economia feudal
atribuida a A.L. Caio Prado Jr. foi um desses ivestigadores, bem como Sergio
Bagú e Marcelo Segall.
Contudo,
historiadores “oficiais”, como Hemán Ramírez Neocochea do PC Chileno,
continuaram a defender a teoria tradicional contra ventos e marés, relegando a
A.L. ao posto de economia feudal.
A morte de Stalin (1953), XX
Congresso do PCUS (1956) e a dissolução do Comintern (1956), bem como a
revolução cubana, marcam o início da terceira etapa do pensamento comunista na
América Latina.
3ª Fase da história do Marxismo na A.L.: Ascensão e/ consolidação das
correntes radicais.
A revolução Cubana é encarada como
marco de mudança da história do marxismo na América latina. Após a destruição
do regime ditatorial de Fulgêncio Batista, Fidel Castro assume o poder sem Ter
qualquer orientação ideológica que não fosse o nacionalismo. Contudo, a
ideologia da revolução foi posteriormente proclamada como socialista. Contudo,
Fidel era completamente independente dos desígnios do Comintern. Ou seja, não
seguia a política etapista que caracterizava o stalinismo. O PSP não participa
da revolução, pois não era a orientação do Comintern.
Segundo o autor, esse marco, que deu
início a terceira fase de análise de influência marxista na américa latina,
retomou idéias vigorosas do “comunismo original” da década de 20 (1ªfase). Os
castristas redimiram Mariátegui (uma leitura própria do marxismo), resgataram
Mella (anti-imperialismo, nacionalismo) e a revolução de El Salvador
(participação popular–1932) do esquecimento histórico.
Nasce então o guevarismo ou
fidelismo: que influencia os movimentos latinos da seguinte forma:
– É importante ressaltar o caráter
comunista da revolução, sem utilizar-se das medidas econômicas de construção
socialista que se baseia nas armas podres do capitalismo.
– A não aliança mesmo com as
burguesias nacionais: “As burguesias
nacionais perderam completamente a capacidade de resistir ao imperialsimo –se
algum dia tivera– e agora formam sua retaguarda. Não há nehuma alternativa:
revolução socialista ou caricatura de revolução”. “Che” Guevara
– Segundo “Che”, a principal forma,
mais realista e mais segura de combater os regimes ditatoriais na A.L. é a luta
armada.
Daí em diante, podemos citar algumas
organizações surgidas na A.L. com influência castrista: MR–13 (Movimento
revolucionário 13 de novembro, liderado por Yon Sosa) na Guatemala, MIR e o ELN
no Peru, a FSLN na Nicarágua e o ELN do próprio Guevara, na Bolívia.
Após o assassinato de Guevara, o
guevarismo tornou-se uma corrente guerrilheira caracterizada particularmente
pelo desenvolvimento de movimentos urbanos com considerável impacto político.
Surgem então movimentos como: os Tupamaros no Uruguai, o PRT-ERP na Argentina
e, o ALN, liderado por Carlos Marighella e o MR–8, liderado por Carlos Lamarca.
O guevarismo não foi a única
corrente a se desenvolver nessa época. O trotskismo e o maoísmo também
conheceram um significativo desenvolvimento. O trotskismo nutria uma grande
simpatia pela revolução cubana, sendo que os guevaristas mantinham bons
relacionamentos com os trotskistas, o que não ocorria entre maoístas e
trotskistas ou guevaristas. Deve ser ressaltado que no Chile, por exemplo, o
Partido Comunista representou a face mais moderada do socialismo, exercendo
muitas vezes oposição a essas novas tendências.
O efeito mais visível nesses anos na
América Latina, foi a radicalização dos movimentos sociais. Ocorreram várias
cisões no PS argentino, em sentido para direita ou para a esquerda, processo
também acontecido no Uruguai, em menor escala, dando origem de dentro do PS
uruguaio, o movimento Tupamaro.
Enquanto se davam esses movimentos
de luta pelo socialismo, sugiram nos países do cone sul da América Latina,
novos tipos de luta baseados na relação patrão-empregado. Essas novas lutas são
resultado de um processo de industrialização feitas pelas ditaduras militares,
em que a industrialização associou-se ao capital multinacional, dando origem a
uma nova classe de trabalhadores. Surgem o PT e a CUT no Brasil, e a
mobilização agora é feita através de grandes greves como as de 1978-1979.
Os acontecimentos de 1989 e 1991, a
queda do muro de Berlim e o fim da URSS, causaram grandes impactos nos
marxistas identificados com a URSS. Contudo, foi a derrota do movimento
sandinista que causou grandes estragos nos movimentos de esquerda como um todo,
levando a entrega de armas por muitos movimentos guerrilheiros. Isto sem falar
das enormes dificuldades enfrentadas por Cuba, nestes anos de embargo econômico
imposto pelos EUA.
Contudo, apesar dos intelectuais
declararem o fim de uma época revolucionária começada com a revolução cubana e
a vitória neoliberal, resquícios de resistência como no México, com herança
zapatista e influência de um “comunismo inca”, como dizia Marátegui. Bem como
os MST, presentes em vários países como
Brasil, Paraguai, Equador, Peru, México e Guatemala. Mesmo assim, alguns
movimentos utópicos ainda continuam a existir, tais como: EZLN no México, as
FARC e o ELN na Colômbia.
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