HOBSBAWN, Eric J., A era das revoluções. Europa 1789-1848. São Paulo, Editora Paz e
terra traduzido por Maria Tereza Lopes Teixeira e Marcos Penchel, 1977.
Segundo
Capítulo
A REVOLUÇÃO
INDUSTRIAL
I
A
revolução industrial, termo cunhado na década de 1820, representou a retirada
do poder de produção das mãos do homens em favor das máquinas. Essas máquinas,
mais precisas, mais baratas e rápidas, eram capazes de multiplicar mercadorias,
serviços e a força de trabalho dos homens.
A
década de 1780 é considerada a década de ‘partida’ para a revolução industrial,
pois foi quando os índices estatísticos de produção deram seus primeiros
grandes saltos. Como essa década de ‘partida’ prolongou-se até 1800, a
revolução industrial foi considerada como uma revolução econômica, enquanto a
revolução francesa, contemporânea, foi considerada política.
O
acontecimento em território britânico não se caracteriza pelo avanço técnico ou
científico, pois esses encontravam-se mais desenvolvidos na França. No entanto,
foi na Inglaterra que as condições para a revolução apareceram:
- O
processo de cercamento dos campos, começado séculos antes, garantiu que quase
toda terra estivesse nas mãos de proprietários com espírito capitalista. Essas
terras que cultivadas por arrendatários que empregavam camponeses recentemente
expropriados, geravam alimento para suprir o recém criado mercado interno.
Geravam também excedentes para a importação de capital através da sua venda nos
demais países;
-
Mão-de-obra barata, gerada também pelo processo de cercamento dos campos;
- Uma
política apontada para o lucro, construção de uma grande frota mercante e
melhoria das estradas, visando melhorar a comunicação e escoamento de produção.
O primeiro mandamento da época era comprar no mercado mais barato em vender no
mais caro;
- Um
mercado mundial monopolizado por uma única nação produtora; coisa que a
Inglaterra conseguiu desbancado todos os outros países rivais (principalmente a
França) com guerras, graças a sua grande frota marítima. Essa frota marítima
que tanto servia ao comércio, rapidamente podia ser transformada em uma marinha
de guerra e
- Uma
produção crescente com um preço final cada vez menor, gerando uma grande
demanda de consumo, e, portanto, criando mercados consumidores.
II
-O surgimento do algodoeiro como subproduto da
revolução industrial-
O
autor trata a escravidão como companheiro crescente do mercado algodoeiro, pois
é com o comércio de escravos que as colônias conseguem manter a crescente
demanda das indústrias inglesas. Inicialmente as colônias do atlântico e
posteriormente as colônias sulistas dos EUA, também através da mão de obra
escrava, passam a fornecer o grosso da produção de algodão bruto.
O
monopólio do mercado ultramarino garante o baixo preço do algodão e o mercado
exportador, garantindo o alto consumo para a crescente indústria inglesa.
A
América Latina é um importante mercado, pois durante as guerras napoleônicas,
Portugal e Espanha perderam contato com suas colônias, deixando-as expostas aos
produtos industrializados e a influência
inglesa. A Grã-Bretanha também ajudou no processo de independência desses
países latinos afim de garantir seus mercados consumidores para a indústria
inglesa.
Hobsbawn
também relata o sistema doméstico em que trabalhadores, ex-artesãos independentes
ou antigos camponeses, passaram a trabalhar em suas casas, processando suas
matéria primas e entregando-as no final, para os mercadores. Com o
desenvolvimento desse processo, a roca, utilizada por esses trabalhadores, foi
substituída por teares, os mercadores viraram patrões, assim, surgiram e se
multiplicaram tanto os burgueses-capitalistas e os seus lucros, quanto a
exploração dos trabalhadores.
III
A
primeira indústria a se revolucionar foi a do algodão, pois os engenhos
algodoeiros já eram chamados de fábrica quando houve a introdução das máquinas
no processo da confecção de tecidos.
O
algodão passou a ser o termômetro da economia inglesa, pois se ele florescia, a
economia também florescia. A Inglaterra importava 11 libras-peso em 1785, mas
já em 1850, sua importação chegou a 588 milhões de libras-peso.
Na
década de 1830 e princípios de 1840, acontece a primeira crise da economia
capitalista. Em meio a essa crise, além dos trabalhadores, encontravam-se
queixosos pequenos burgueses, que também vítimas da industrialização –que
produz em maiores quantidades por menores preços- tem seu comércio diminuídos.
A
crise expandiu-se por todo território europeu, produzindo os movimentos
cartistas e dos luditas. As conseqüências sociais desta crise, são a miséria e
o descontentamento no seio da parte mais pobre da população. Além dos
movimentos já citados, as revoluções entre 1815 e 1848 (as de 1848 batizadas de
primavera dos povos) produziram massificações em movimentos de ‘radicalismo’ e da ‘democracia’ ou da república.
Da
experiência dessa crise, entende-se que o processo econômico que findava o
lucro, explicitava três falhas:
- O
característico ciclo comercial, composto de um rápido crescimento e seguido
prontamente por uma depressão econômica (os boom e as depressões passam a ser
reconhecidos como fenômenos);
- a
tendência a diminuição da taxa de lucro e
- a
escassez de oportunidades de investimento lucrativo.
O
salário pela mão-de-obra pagava apenas o suficiente para subsistência, o que
permitia aos patrões o maior acúmulo de capitais. Os trabalhadores, além de
enfrentar a concorrência do ‘exército de reserva’, ainda tinham seus salários
achatados pelo alto desempenho e baixo custo de um maquinário cada vez mais
melhorado.
IV
“...até hoje, o mais balizado índice isolado para se
avaliar o potencial industrial de qualquer país é a quantidade de sua produção
de ferro e aço.” (p.59)
“... a fase seguinte do desenvolvimento industrial –a
construção de uma indústria básica de bens de capital.” (p.59)
O
texto de Hobsbawn destaca o caráter aventureiro dos primeiros investidores da
indústria básica de bens de capital. Enquanto os burgueses possuidores de
fábricas tinham seu mercado consumidor garantido nas cidades, já que todos
consumiam suas roupas e alimentos. Os investidores de bens de capital tinham
que aplicar pesado no desenvolvimento da tecnologia de extração e processamento
de ferro e aço, sem garantias de que haveria posteriormente o escoamento
necessário do seu produto para gerar lucro. Invenções surgidas na época, como a
pudelagem e a laminação, atenuaram a desvantagem desses investidores,
facilitando todo processo de obtenção de ferro e aço.
O
carvão não sofreu com essa desvantagem no setor de mineração, pois era a
principal fonte de energia industrial do século XIX e um importante combustível
doméstico. Embora a extração de carvão não tenha caminhado à uma
industrialização maciça em escala moderna, foi o suficiente “...para estimular a invenção básica que
iria transformar as industrias de bens de capital: a ferrovia.” (p.60)
Foi a
expansão ferroviária que de maneira clara mostrou aos contemporâneos o poder e
a velocidade da nova era. O transporte de carvão necessitava das estradas de
ferro, pois ele era muito consumido pelas indústria à vapor. Desse modo
Hobsbawn diz que a ferrovia é a filha
das minas de carvão do norte da Inglaterra. “...
durante anos todos condutores de locomotivas foram recrutados nesse campo de
carvão.” (p.61)
Com o
grande acúmulo de capital no século XIX, os burgueses (sem a mentalidade dos
antigos aristocratas e feudais, que datariam esse capital em festas e
construções suntuosas e inúteis) buscavam novas oportunidades de investimentos.
Até que a opção de investimento no estrangeiro pareceu óbvia, mas o empréstimo
de dinheiro mostrou-se um péssimo negócio, pois no exemplo da Grécia, os juros
que esses especuladores esperavam receber, só vieram quase meio século depois.
O investimento em ferrovias pareceu mais seguro aos ingleses, pois apesar de
dispendioso e de gerar lucros menores que a especulação financeira, geravam um
patrimônio palpável, graças aos ávidos governantes dos geograficamente grandes
países latino-americanos e africanos que sonhavam em colocar seus países em uma
posição melhor no cenário internacional.
V
O
desenvolvimento da economia industrial implicou na grande transferência de
mão-de-obra do meio rural para o meio não agrícola, ou seja, urbano. Ainda
assim, um rápido crescimento populacional, seguido de um grande aumento na
produção de alimentos. “Caso contrário,
como nos EUA, a Grã-Bretanha, teria que depender da imigração em massa. Na
verdade, apoiou-se em parte na imigração irlandesa.” (p. 66)
O autor
trabalha o conceito de ‘moinho satânico’. O chamado ‘Movimento das Cercas’
consistiu no fim do cultivo comunal existente na Idade Média. A Inglaterra se
transformou no país de grandes, porém poucos (levando em conta a quantidade de
pessoas) proprietários de terra. Os camponeses, expropriados de sua fonte de
subsistência, encontraram-se em uma incipiente sociedade que os obrigava a
comprar seus alimentos em mercados, e não como eles faziam anteriormente,
produzindo eles próprios. Sem terra e tendo apenas seu corpo para venda,
emigravam em multidões para as cidades já abarrotadas de gente. Esses camponeses,
talvez pela influência católica de que a Terra seria apenas um lugar de
pagamento de pecados, não tinham a concepção de acumulação de capitais.
Resultado disso é que quando recebiam salários maiores, diminuíam seu tempo de
trabalho, retirando o salário que correspondia apenas ao suficiente para a
subsistência. Os patrões desenvolveram então a técnica de pagamento de salários
que correspondessem apenas a subsistência, baixando-os até que os ex-camponeses
fossem o brigados a trabalhar durante quase todo o dia. Embora houvesse
movimentos de resistência, a principal arma de coerção, a forca, obrigava os
ex-camponeses ao trabalho quase escravo. Para o trabalhador sem qualificação,
diminuir o salário, aumentar a jornada e pô-lo sob a vigilância de subempregadores
pouco mais qualificados, reverteria a tal ‘preguiça’ do operariado.
Poucas
eram as habilidades pré-industriais aproveitadas na indústrias modernas.
Contudo, segundo o autor, a vagarosa semi-industrialização garantiu
trabalhadores que pudessem ser aproveitados na fábrica têxtil e no manuseio dos
metais.
O
último conceito trabalhado, é dos ‘self-made-men’.
Os homens que controlavam o capital do século XVIII, relutavam em investi-lo em
novas indústrias. Os ‘self-made-men’
abriam sua fábricas sob pequenas economias ou empréstimos, e caracterizavam-se
por serem homens maduros, parcos e ávidos, fazendo com que seus trabalhadores
fossem proporcionalmente mais explorados.
Os
homens ricos do século XVIII investiam mais “notadamente
nos transportes (canais, facilidades portuárias, estradas e mais tarde também
nas ferrovias) e nas minas, das quais os proprietários de terras tiravam
royalties mesmo quando eles próprios não gerenciavam.”(p.68)
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