São os
Políticos alienígenas?
Falamos tão mal dos nossos políticos diariamente, não
é mesmo? Mas esses homens que parecem viver em um plano tão distante do nosso seriam
mesmo tão diferentes de nós? Todas as vezes que inicio uma aula de filosofia
política ou um bate-papo com os amigos pergunto o que acham da política e dos
políticos do Brasil. A resposta é sempre a mesma, e para economizar tempo, devo
dizer que ela gira em torno do termo corrupção.
Começa então um árduo trabalho de desconstruir alguns dos conceitos
cristalizados nas cabeças dos meus alunos (e até dos que não são meus alunos)
ou de fazê-los pensar qual é o papel deles nessa história toda de corrupção.
Ora, aqueles políticos por caso tiveram uma educação
diferente da nossa? Eles não nasceram no mesmo país e, via de regra, sofreram
as mesmas influências culturais que nós também vivenciamos? A nossa
Constituição não afirma que somos todos iguais perante a lei? Não temos todos
os mesmos direitos e deveres? De uma forma ou de outra, mesmo sob os benefícios
de alguns de terem nascido em famílias abastadas, eles também não enfrentaram,
as mesmas turbulências políticas e econômicas impostas por contextos nacionais
ou internacionais? Então, eles vieram de outro planeta? Afinal, o que faz
deles, pessoas diferentes de nós, senão o fato deles terem — por meio de nossa
anuência nas urnas eleitorais — poder de decisão sobre para onde irão os
valores recolhidos com tantos impostos que pagamos?
O que eu ou você faríamos se estivéssemos no lugar
deles?
Acho que já ficou claro até aqui que estamos falando
de ética. E você também já deve ter
percebido que estar como político é
uma profissão como também é estar
professor, como é também estar
jornalista, como é estar motorista de
ônibus, estar comerciante, etc.
Você deve ter notado que corrupção
não é uma exclusividade dos políticos, mas é um problema ético enfrentado em todas as categorias de trabalho que
conhecemos em nosso gigante país. Logo, a corrupção não está na política, mas
nas pessoas que ascendem aos cargos da política. E já que essas pessoas não são
alienígenas, quem seriam senão nós mesmos?
O termo corrupção vem do latim corruptus, isto é, quebrar em
pedaços. Em seu uso como verbo (corromper), a descrição faz ainda mais
sentido: tornar pútrido, estragar algo que até então funcionava perfeitamente.
Então, constatamos que quando agimos de forma ética, isto é, de acordo com os
valores morais que esperamos para nós mesmos e para os outros, agimos de forma
a manter em boas condições a nossa conduta como professores, jornalistas,
motoristas de ônibus, comerciantes, e, claro, entre outros, políticos! Será que
todos nós agimos assim? Vejamos alguns exemplos do dia-a-dia:
Fazer gato de luz é corrupção! De água também! E de
canais a cabo, idem! Olha, ver filmes pela internet sem que sejam pagos os
direitos autorais dos atores e diretores também é corrupção. E adivinhe, baixar
músicas sem pagar, também é corrupção! Usar assento ou vaga no estacionamento
preferencial de idosos e portadores de necessidades especiais constitui uma
quebra dos valores morais que se espera de um cidadão, resultado: é corrupção. Usar
software pirata, mesmo com a desculpa de que eles são muito caros, também é!
Comprar roupa pirata também... E cara, entre outras coisas, colar na prova da
escola, também é corrupção!
O quero deixar claro é que devemos ter cuidado ao
culpar o outro sem refletir sobre os nossos atos. Devemos pensar, portanto, que
se queremos mudar a qualidade de nossa política e dos nossos políticos, devemos
mudar a qualidade de nós mesmos, isto é, de nós mesmos enquanto cidadãos (termo
que aliás, em grosso modo, significa ser
político na cidade). E o caminho evidente para essa melhora é o
investimento em educação, ninguém duvida. Mas não qualquer educação, e sim uma
educação crítica que faça com que os jovens se coloquem no lugar do outro, percebendo assim que mesmo
aquela pequena corrupção que cometemos em nosso dia-a-dia pode causar efeitos
nefastos no decorrer da nossa história de vida e da história do nosso país.
Fábio Souza Lima
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