O
presente trabalhado busca relatar as diversas nuanças utilizadas do conceito
“populismo”, utilizando-se de ocorrências empíricas, começando pelo atos
governamentais que respaldam a utilização do conceito. Continua, destacando,
teorias e abstrações, usos e efeitos acerca do surgimento do termo, e, nos
parágrafos finais, propõe-se a indicar uma nova saída para que continue sendo
possível a utilização deste conceito, que é tão caro a identificação da relação
Estado-Cidadão na história da América latina.
No
jogo político dos anos 20 e 30, a possibilidade de ascensão dos trabalhadores
ao poder foi levada a sério pelos governantes da América Latina. A desordem e o
atraso, assim como a miséria, o desemprego e a exclusão social, legaram o
liberalismo à réu de todos os males populares. A integração política das massas
em um Estado forte e interventor, capaz de integrar e mediar os interesses do
Capital e dos trabalhadores, se fez necessário para o melhor controle das
massas.
Segundo o texto de Maria Helena
Capelato, o conceito de “populismo” deve começar a ser estudado a partir das
características supracitadas. Contudo, além delas, podemos caracteriza-lo como
um sistema de governo que é legitimado pelas massas, mas que porém não é
democrático, ou seja, se sustenta pelo carisma (pelo menos no caso clássico). E
além disso, vê-se acontecer o “populismo” em países em desenvolvimento da
América Latina.
Ainda sobre o texto de Capelato, é
ressaltado que o Dicionário de Política, organizado por Norberto Bobbio, Nicola
Matteucci e Gianfranco Pasquino, informa impressões “imprecisas, ambíguas, e que os modelos e tipologias são confusos e
contraditórios. Além disso, o termo se presta à denominação de fenômenos
históricos muito diversos, perdendo, em decorrência disso, sua força
explicativa.[1]”
Exemplificando o que o dicionário diz, a autora ressalta semelhanças e
disparidades sobre a administração peronista e cardenista. Tentar homogenizar
esses governos, como também o de Vargas, traz sem dúvida diversos problemas de
entendimento, pois eles conservam várias peculiaridades em sua formação e
gestão.
No
caso brasileiro, que podemos facilmente assemelhar aos demais, Alcir Lenharo[2]
destaca que a política implementada pelo Estado varguista desde 1930, demonstra
uma estratégia de controle da classe operária e de sua restruturação a partir
da orientação do ‘Poder[3]’.
Isso se dá –como foi citado no parágrafo introdutório– diante de uma
constatação de que o Estado agiu como mediador e formador de classes, que mal
definidas, não apresentavam projetos universalizantes para as suas
administrações políticas.
A partir daí, podemos ressaltar que
o mínimo de unidade encontrada nas diversas experiências de “populismo” é sem
dúvida uma situação de crise, bem como, decorrente disso, uma intensa
mobilização popular no território. Outro ponto a ser destacado é o caráter
ambíguo das gestões federais, já que não se definem pela ideologia
estadunidense –liberal– e nem pela ideologia socialista. Em contraposição
podemos citar diferenças fundamentais no que dizem ser o conceito de
“populismo”, por exemplo, o modelo estadunidense de radicalismo agrário do
meio-oeste e o narodnichestvo russo, registrados no século XIX não podem ser,
de maneira alguma, identificados com o caso da latino. E ainda dentro das
experiências populistas da América latina, as disparidades são visíveis: No
Brasil, a sua base detêm-se na classe trabalhadora urbana, enquanto a base
Mexicana é a classe rural. Ainda assim, podemos citar alguns fenômenos
relacionados as várias nuanças de “populismo”, como a expansão da democracia,
avançando do seu modo controlado para uma democracia de massas e também a
expansão do Estado de Bem Estar social. Mesmo qualquer análise que pressuponha
o que chamam de casos precoces de “populismo”, acontecido antes dos anos 1930,
como é o caso de Batlle, no Uruguai, as diferenças e semelhanças devem ser
resguardadas.
Da característica de crise, posso
ilustrar o trabalho citando a “teoria da
modernização”, do sociólogo argentino Gino Germani –funcionalista–, que
afirma que o “populismo” é uma etapa necessária para a transição de uma
sociedade tradicional para uma sociedade moderna. Uma teoria generalizante me
parece, e que ao final das contas toma um exemplo por todos os outros, o que
não é ruim para uma discussão não específica. Ainda assim, existem as análises
particularistas, que ao meu ver, e como explicitarei ao fim do trabalho,
parecem mais adequadas uma verificação acadêmica. Estas análises particularistas
tratam de cada uma experiência em específico, respeitando suas diferenças e
mesmo, suas analogias.
Devo dizer antes de finalizar, que
concordo com a proposição do autor argentino Alberto Ciria, onde ele diz que o
caminho das “comparações entre as diferentes
experiências –populistas– indicam um caminho frutífero de análise.[4]”
Fala-se aqui de uma análise o mais aproximada possível da imparcialidade, com
intuitos acadêmicos de desenvolvimento, e não o de intuitos políticos
interesseiros. Nesta última, vejo como reducionista a utilização do termo
dentro de uma discussão estritamente política, em que ganha conotação
dicotômica e maniqueísta, e é utilizada como contraste de um posicionamento
político-ideológico –o liberal–, e que portanto, não possui apreciação real de
sua problemática, bem como de suas nuanças e características. “o povo não sabe votar”; “ainda não aprendeu a votar[5]”.
Assim,
me utilizando do método comparativo para expor minha idéia, quero relevar
algumas definições:
Conceito: é a formulação de idéias por
palavras, uma definição, um pensamento.
Ideologia: é um sistema de idéias,
ciência de formação de idéias.[6]
A partir daí, desejo realizar uma
comparação da utilização do conceito de “populismo” com a utilização do
conceito de “marxismo”. Parece-me que a utilização deste termo diz pouca coisa
sobre do que, ou de quem está se tratando, pois, colocam sob uma mesma égide
exemplos históricos pouco parecidos. Como exemplo: além do fato de serem
marxistas, Stalin e Trotski, engendram políticas muitíssimo diferentes dentro
de um mesmo partido. Acho que seria mais específico e inteligível ao meio
acadêmico, se ao invés de chama-los de marxistas tão somente, chamássemos suas
aspirações baseadas em Karl Marx de Stalinismo e Trotskismo, nos utilizando de
“marxismo” apenas no que tange um abordagem genérica, pois a rigor, não existe
“marxismo”, e sim “marxismos”. Assim, respeitando o caleidoscópio de impressões
idiossincráticas de todos os “ismos” existentes: Fidelismo, Maoísmo,
Guevarismo, Leninismo... podemos realmente nos utilizar deste conceito. Contudo
não devemos nos ater apenas as leituras generalizantes do “populismo”, mas
também respeitar e analisar as especificidades existentes em cada experiência.
É
o “populismo” de forma genérica, em minha concepção carente de definição, ou
mesmo, abstrato o suficiente para intimidar qualquer discussão fora do meio
acadêmico. Contudo, a utilização genérica desse conceito pode render boas
considerações, desde que não seja homogenizadora. Sendo assim, creio na
utilização deste conceito desde que não seja tratado como o “populismo”, mas
sim como os “populismos”.
[1]
CAPELATO, Maria Helena . “populismo latino americano em discussão” In: Ferrera
Jorge (Org.) O populismo e sua história.
Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2001.p. 131-132.
[2]
LENHARO, Alcir. “Pátria como família”. In: LENHARO, Alcir. Sacralização da política. Campinas, Papirus, 1986, pp. 19-51.
[3] Segundo
Foucalt, relações de Poder, com “P” maiúsculo, relação entre o indivíduo e o
Estado, sendo poder com “p” minúsculo, definidor de relação entre indivíduos.
[4] Idem. p.
142.
[5] GOMES,
Angela de Castro. “O Populismo e as Ciências Sociais no Brasil –notas sobre a
trajetória de um conceito”. In: Revista Tempo. Rio de Janeiro, Vol 1, nº 2,
1996, p. 33.
[6]
Inspiração das definições: DICIONÁRIO DO PENSAMENTO SOCIAL DO SÉCULO XX,
Editado por William Outhwaite, Jorge Zahar editor, 1983.
Nenhum comentário:
Postar um comentário