Introdução
Tanto o trabalho de Freud, quanto o de
Marx, me causaram uma vontade enorme de unir as duas estruturas em apenas uma,
simplificando todo o trabalho em apenas ‘Relações Sociais’. Durante o período,
tentei enxergar nossa sociedade, como funcionando da seguinte forma:
Indivíduo–Estado–Indivíduo, ou seja, Elite–Adequação Repressiva–Massa Popular.
Não necessariamente as relações sociais passariam pelo Estado, podendo elas
acontecer de indivíduo para com indivíduo, contudo, observei que todas as
relações sociais são relações de poder, e portanto sempre relações repressivas.
Através de apontamentos feitos sobre
o trabalho de José Augusto Guilhon Albuquerque, em que os aparelhos de Estado
são divididos em Ideológico, repressivo e econômico, iniciarei o presente
trabalho, uma visão pessoal, criada a partir de minha leitura das aulas de
Teoria das Ideologias, visualizando uma análise de estruturação diferente.
Utilizo-me do livro “Por que Marx?”, onde os organizadores-autores, ressaltam a
perspetiva preponderante do aspecto econômico sobre o político e o simbólico,
organizando minhas idéias de forma não só “dançarina”, mas também
caracterizando-as por não ser ‘nem melhor nem pior, mas apenas diferente’
Posteriormente, utilizando-me de alguns conceitos e informações que colhi de
autores como Foucault e Antônio Teixeira Fernandes, identificarei todas as
relações individuais ou Estado/indivíduo, como relações de poder e por
consequência, todas como relações repressivas.
Marx e Freud
Marx e Engels, cientistas políticos,
dedicaram-se a identificar e analisar a estrutura social, priorizando aspectos
econômicos[1],
a partir daí, podemos relacionar seu conceito de análise social percorrendo
três níveis: –O econômico, apreciado em relações de trabalho e comerciais, por
exemplo; –O político, onde segundo o cientista político, se dão as relações de
poder e –O simbólico, funcionando no campo da ideologia, campo cultural.
Já
outro plano de análise, formatado pela psicanálise de Freud, prevê mais um
estudo em três níveis: –As práticas, que podem ser econômicas, políticas ou
simbólicas; –Os aparelhos, que podem situar-se fisicamente em uma faculdades,
emissoras de rádio e TV ou mesmo em corporações policiais e –As formações
sociais, onde se estudam as relações sociais, priorizando qualquer nível de
estrutura social.
Polis Política
Poder.
–origem comuns em nossa civilização e em nossas
relações, sejam elas individuais ou com o Estado–.
É
mister identificar toda relação social como relação de poder: Segundo o dicionário do pensamento social do
século XX, o poder é em seu significado mais genérico, a capacidade de produzir
ou contribuir para resultados –fazer com que ocorra algo que faz diferença no
mundo. Na vida social, podemos dizer que poder é a capacidade fazer isso
através de relações sociais: é a capacidade de produzir ou contribuir
para resultados que afetem significativamente um outro ou outros. O poder
seria a capacidade e o direito de tomar decisões e mante-los na área de interesse
seu e dos outros.
“Não há, pois, formações sociais sem poder, porque este é
consubstancial a sociedade [...][2]”
Ainda
assim, é preciso diferenciar as relações de poder: segundo Foucault, o Poder,
utilizado de ‘P’ maiúsculo, refere-se as relações do Estado para com os seres
humanos, enquanto que ao poder, com ‘p’ minúsculo, resumem-se todas as relações
entre os indivíduos, como relações hierárquicas de trabalho e/ou comerciais[3].
Desta forma, penso na seguinte estrutura: todas as
relações, Indivíduo/Estado ou Indivíduo/Indivíduo, estariam circunscritas nas
relações sociais, e estas, por sua vez, contidas nas relações de poder.
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As
práticas e os aparelhos podem ser por vezes redundantes, visto que se dão em
mesma direção sempre, ou seja, massas populares/elites, contudo nem sempre com
o mesmo sentido, respeitando uma lógica de fluxo/contra-luxo, com citarei
agora.
As relações repressivas
Sendo o ‘poder’ indissociável as
relações sociais, também é importante ressaltar que ele se dá tendo um sujeito
ativo e outro passivo. A relação ativo/passivo pode ocorrer entre relações
hierárquicas (verticalmente), como num caso de patrão–empregado, ou não
hierárquicas (horizontalmente), com em casos que um elemento dissuade ou
persuade outro elemento. Verticalmente ou horizontalmente, não significa que
estas posições sejam inalteráveis, ou que o sujeito passivo aceite ser estar
nessa posição. Aceitando ou não, gozando ou não, perpassando a prática de
resistência, podemos afirmar então que onde há poder, há resistência, há fluxo
e contra-fluxo, sendo ele para qualquer parte, em um movimento contínuo e
ininterrupto.
Entro aqui, no segundo ponto que me
causou a tal “Tempestade cerebral”.
O
trabalho de José Augusto Guilhon Albuquerque, aponta dentre os aparelhos do
Estado, apenas o político como sendo repressivo. Contudo, segundo o que já
mencionei, todas as formas de utilização dos Aparelhos de Estado, mesmo que em
escalas diferenciadas, seriam repressivas. Pois todas estariam inscritas no
modelo de ‘relações sociais’, e portanto em relações de poder.
A
forma econômica, ao meu ver, em exemplos práticos, regularia o nível de consumo
ou nível de alcance do poder aquisitivo, ou mesmo regularia o ‘direito de Ir e
Vir’, segregando espacialmente os indivíduos. Aqui, a repressão se impõe
através da privação de liberdade e igualdade. Lembro-me de quantas pessoas
conheço, que moram no município do Rio de Janeiro e não conhecem o “Rio de
Janeiro” que aparece nos cartões postais. E não foram os moradores da Barra da
Tijuca que quiseram transformar seu bairro em um imenso condomínio fechado,
colocando portões no final da avenida Ayrton Senna? E o piscinão de Ramos, que
foi claramente construído para afastar da zonal sul os ‘visitantes
indesejados’?
E
também o sentido ideológico, que desta perspetiva, novamente é repressiva de
forma a cercear a liberdade, influenciando as massas populares e adequando-as
aos modelos do Indivíduo (elite). O corpo perfeito, a roupa da moda etc. Essa
influência ainda se dá de forma, muitas vezes, involuntária, nas instituições
de ensino, onde alguns professores (digo pelo curso de história), limitam o
aluno a abordagens específicas, ora porque essas abordagens compartilham com
seus posicionamentos ideológicos, ora por não haver tempo hábil para uma visão
circunspecta dos acontecimentos.
É
claro que não há tempo o suficiente para uma análise completa dos fatos
históricos, de todos os seus ângulos, de todos os seus aspectos. Porém, a
melhor forma que o professor tem de mensurar se a avalanche de informações que
expôs aos alunos virou algum ‘saber’, é abrindo seu programa de aula para
discussão.
Esses foram os dois pontos que me
fizeram pensar, e como busco sempre chegar a uma resolução inteligível, não
pude deixar de pensar como seriam, ou como são, todas as relações em que nós
estamos envolvidos.
Bibliografia*:
* A principal fonte são os apontamentos feitos em
sala de aula. Tendo como disciplina a Teoria das Ideologias, ministrada pelo
Professor Gisálio Cerqueira Filho.
FIGUEREDO, Eurico de Lima; FILHO, Gisálio Cerqueira
e Konder, Leandro. Por que Marx?.
Ed. Graal, Rio de Janeiro. 1983.
Fernandes, Antônio Teixeira. Os fenômenos políticos. Ed.
Afrontamento. Lisboa. 1988
IN: RUBY. Introdução a filosofia política. Ed. Linemo.
São Paulo.
[1] Engels,
em uma carta a Bloch, discorre: “Nós
Mesmos fazemos nossa história, mas isto se dá, em primeiro lugar, de acordo com
as premissas e condições muito concretas. Entre elas, as premissas e condições
econômicas são as que decidem, em última instância. No entanto, as condições
políticas e mesmo a tradição que perambula como um duende no cérebro dos homens
também desempenham seu papel, embora não decisivo” FIGUEREDO, Eurico de
Lima; FILHO, Gisálio Cerqueira e Konder,
Leandro. Por que Marx?. Ed. Graal,
Rio de Janeiro. 1983. p. 112.
[3] IN:
RUBY. Introdução a filosofia política. Ed. Linemo. São Paulo.
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