TOMÁS DE AQUINO
Tomás de Aquino nasceu por
volta de 1227 na cidadezinha de Aquino, na Campagna felice, Italia. Sendo de origem nobre, aos cinco anos
foi enviado ao Mosteiro de Monte Cassino para estudar. Aos 10 anos Tomás foi
enviado para continuar seus estudos na Universidade de Nápoles. Em Nápoles,
conheceu a Ordem Dominicana, que na época era "a vanguarda doutrinadora e
combativa da Igreja". Quis nela ingressar, conseguindo em dezembro de
1243. Tomás, aluno e depois mestre brilhante dedicou sua vida e obra à Igreja.
Ao receber os últimos Sacramentos no leito de morte, em 1274, com menos de 50
anos de idade, afirmou diante da Hóstia consagrada:
"Eu espero nunca ter ensinado nenhuma verdade que não tenha aprendido
de Vós. Se, por ignorância, fiz o contrário, eu revogo tudo e submeto todos
meus escritos ao julgamento da Santa Igreja Romana" .
TOMISMO
Doutrina escolástica (ESCOLÁSTICA: Doutrinas teológico-filosóficas
dominantes na Idade Média, dos sécs. IX ao XVII, caracterizadas sobretudo pelo
problema da relação entre a fé e a razão, problema que se resolve pela
dependência do pensamento filosófico, representado pela filosofia greco-romana,
da teologia cristã) de S. Tomás de Aquino (1225-1274), teólogo italiano,
adotada oficialmente pela Igreja Católica, e que se caracteriza sobretudo pela
tentativa de conciliar o aristotelismo (ARISTOTELISMO:
O grupo das doutrinas de Aristóteles, filósofo grego (384-322 a.C.), e de seus
seguidores. São temas centrais do aristotelismo a teoria da abstração e do
silogismo, os conceitos de ato e potência, forma e matéria, e substância e
acidente, doutrinas todas que serviram à criação da lógica formal e da ética, e
que exerceram e ainda exercem enorme influência no pensamento ocidental)
com o cristianismo.
Por volta dos séculos XI e
XII, se davam tempos de intenso conflito entre cristãos e povos e culturas
diversas, tais como o Islão, o cristianismo bizantino, os Mongóis, a China e os
Judeus. Para dar conta dos efeitos desses contados, a Igreja percebeu a
necessidade de uma atualização doutrinária.
Este foi também o tempo da transição da era dos mosteiros para as
universidades enquanto centros de formulação e condução do saber. Ao fim deste período,
séculos XII-XIII, a obra de Aristóteles estava chegando à Europa e se
apresentava como uma via de sistema filosófico amplo e coerente para as
necessidades da Igreja. Durante oito
século o agostinismo ( Santo Agostinho) norteou os desígnios da Santa Igreja de
Roma, com sua afirmação que a fonte de conhecimento era o contato iluminado da
mente com o divino – esfera do mágico; já para Aristóteles o conhecimento
emanava do visível e do experimentado, do mundo do senso comum.
Tomás de Aquino conseguiu
responder o desafio doutrinário que possibilitaria a atualização da Igreja. Seu
mérito, até hoje reconhecido e elogiado pelo Vaticano, foi unir os princípios
filosóficos de Aristóteles (INTERPRETADOS!) com os preceitos da teologia
cristã, numa estrutura racional e harmoniosa, isenta de fantasias pessoais. Nem
Deus era deslocado de seu papel de Criador onipresente, nem a razão humana era
privada da capacidade de conhecer a verdade no mundo acessível a ela.
O tomismo era ao mesmo tempo
conservador e prospectivo, pois sendo pluralista – permitia a pesquisa e a
formulação, via razão, em várias áreas do saber – mas não aceitava conclusões
práticas e demostráveis (...conhecer a verdade no mundo acessível a ela... a
Igreja limitava o acesso).
Na Península Ibérica houve a
integração das universidades aos propósitos gerais dos Estados (Portugal e
Espanha com seus reis sob forte influência dos desígnios da Igreja). As
universidades (na região ibérica as universidades seguiam o saber teológico
aprovado pela Igreja) tornaram-se uma fonte indispensável de letrados para
integrar a administração que se expandia para o além mar.
O tomismo abriu um grande
campo para a especulação e a controvérsia na filosofia política, moral e
natural, embora sempre sob a orientação de princípios morais decisivos e
premissas teológicas, mantendo um delicado equilíbrio entre a razão e a fé, a
natureza e a graça.
O tomismo trás consigo a idéia
da “cabeça, tronco e membros”, onde cada parte tem sua função para que o corpo
possa existir e que essas funções devem sempre permanecer imutáveis para o bem
do todo – concepção de hierarquia, conservadora.
TOMISMO, A PALAVRA OFICIAL DA IGREJA
A penetração do tomismo no
pensamento e na atividade doutrinária da Igreja teve o seu início oficial com a
canonização de Tomás por João XXII, em 1323, e foi sempre se consolidando mais
e mais. Porém somente nos tempos modernos a Igreja tem declarado Santo Tomás de
Aquino o seu próprio Doutor oficial. Para termos uma idéia da extensão do
tomismo no ensino, o Papa Leão XIII com a Carta Encíclica Aeterni Patris de 4
de agosto de 1879 dizia: "Santo Tomás é declarado o único Mestre oficial
das escolas católicas de toda espécie; o objeto principal da declaração é a
retomada da filosofia tomista após afastamento durante parte dos séculos XVIII
e XIX. Continuando o Papa diz: “deve-se seguir Santo Tomás como mestre na
filosofia e na teologia, porque ‘afastar-se de Santo Tomás num só ponto,
especialmente nas coisas da metafísica, não ocorreria sem grave dano’ ”.
Para finalizar a opinião do vaticano por seus
cardeais: "A eficácia do tomismo
contra os erros modernos dos princípios errôneos sobre os quais se apóiam o
materialismo, o maoismo, o panteísmo, o socialismo e as diversas espécies de
modernismos. Os pontos mais importantes da filosofia de Santo Tomás não devem
ser considerados à maneira de opiniões, discutíveis sob qualquer aspecto, mas
antes bem como fundamentos sobre os quais se baseia toda a ciência do natural e
do divino...”
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TOMISMO NO BRASIL
Em 1555 D.
João III incumbiu aos Jesuítas a responsabilidade pelo Colégio da Artes (
fundado em 1548 com o objetivo do ensino público de latinidade e filosofia).
Assim, o ensino de filosofia no Brasil se deu por 160 anos (de 1599 até 1759)
sob o comando dos Jesuítas, que aplicavam o RATIO
STUDIORUM, MÉTODO PEDAGÓGICO DOS COLÉGIOS DA COMPANHIA DE JESUS, que
estabelecia para o ensino de lógica, psicologia, ética, das matérias referentes
às ciências da natureza (especialmente a física) e de metafísica, NÃO SÓ A SUA SUBORDINAÇÃO À TEOLOGIA, COMO
TAMBÉM A SUA FUNDAMENTAÇÃO NA DOUTRINA ARISTOTÉLICA. Considerado desde a
sua origem, isto é, desde a reforma da universidade portuguesa no século XVI,
até à sua supressão pelas reformas pombalinas da instrução pública, na segunda
metade do século XVIII, o aristotelismo português assume no Brasil, tanto
quanto em Portugal, uma posição estratégica para uma perfeita concepção da
filosofia, como disciplina normativa suscetível aos condicionalismos
históricos.
Neste sentido, a filosofia luso-brasileira, ou seja, O TOMISMO, É O PASSADO NO MODO DO SER
BRASILEIRO, cujos representantes históricos, a exemplo do Padre Antônio
Vieira, são aqueles que fizeram seus estudos filosóficos nas instituições
brasileira de ensino sob o RATIO
STUDIORUM, procurando fazer uso da razão de modo a transcender os limites
da própria experiência, porém dentro dos limites do aristotelismo. A
filosofia moderna brasileira – e até poderiamos dizer latino-americana - num
certo sentido, saiu de dentro do tomismo aristotélico. Não queremos dizer que a
filosofia luso-brasileira e a filosofia moderna brasileira tiveram o mesmo
princípio; pelo contrário, enquanto a filosofia moderna instituiu-se com base
no Cogito cartesiano, A FILOSOFIA LUSO-BRASILEIRA APOIOU-SE NO
PRINCÍPIO RELIGIOSO DA CONVERSÃO. Entretanto, mesmo sendo princípios
contrários quanto aos procedimentos empregados para fazer a distinção entre a
alma e o corpo, o COGITO E A CONVERSÃO NÃO SE EXCLUEM na medida em que não só
estabelecem a anterioridade da alma em vista da sabedoria, como, acima de tudo
visam à autoconsciência.
O tomismo se propagou no
Brasil graças aos Jesuítas , a exemplo dos notórios discursos do Padre Antônio
Vieira (um ícone dos Jesuítas ao lado de Anchieta) cuja oratória era impecável.
Seus sermões entravam pelo interior em aldeias indígenas e distantes povoados.
Gostaríamos aqui de chamar a atenção para o caráter do tomismo enguanto
ideologia conservadora e legitimadora do poder do Estado e da Igreja nos
séculos XVI e XVII, cujos reflexos são sentidos até hoje. Vejamos o sermão do
Padre Antônio Vieira dirigido à alguns escravos:
“Que tem que haver a liberdade de uma ave com penas e asas para voar, com
a prisão do que se não pode bulir dali por meses e anos, e talvez por toda a
vida? Aqui vereis quais são os poderes e transformações que obra o Rosário nos
que oram e meditam os mistérios dolorosos (...) se não só de dia, mas de noite
vos virdes atados a essas caldeiras com uma forte cadeia, que só vos deixe
livres as mãos para o trabalho, e não os pés para dar um passo; nem por isso
vos desconsoleis e desanimeis (...) nessa triste servidão de miserável escravo
tereis o que eu desejava sendo Rei (...) Oh quem me dera asas como de pomba
para voar e descansar! E estas são as mesmas que eu vos prometo no meio dessa
miséria (...) porque é tal a virtude dos mistérios dolorosos da Paixão de
Cristo para os que orando os meditam (...) que o ferro se lhes converte em
prata, o cobre em ouro, a prisão em liberdade, o trabalho em descanso, o
inferno em paraíso, e os mesmos homens, posto que pretos, em Anjos”.
A
finalidade da conversão, da evangelização no tomismo levou Antônio Vieira a
explorar os limites a língua portuguesa para convencer e persuadir; pois
conforme a
explicação de Santo Tomás, “O autor da Sagrada Escritura é Deus, em cujo poder
está dar significação não só às palavras, o que também o homem pode fazer, mas
ainda às próprias coisas.
É importante notar que a educação no Brasil só ganha
nacionalidade brasileira no século XIX mediante a superação do
dogmatismo/tomismo. Mas é um erro imaginar que a superação do dogmatismo
decorreu da mera supressão do aristotelismo pelas reformas pombalinas da
instrução pública. O sistema de ensino só veio a dar sinais de modernização
mais de 30 anos após a expulsão dos jesuítas, a assimilação dos princípios da
filosofia moderna ainda levou mais tempo e até hoje se faz perceber nas mais
variadas esferas da vida social. O tomismo hoje está presente na relação
cotidiana com nossos pais, mulheres e filhos; nas relações políticas e
econômicas; nos partidos políticos, na praxis política, nas empresas e na
escola. Vejamos dois exemplos de ideologias que norteiam a formação social do
Brasil:
l A IDEOLOGIA DO COLONIALISMO,
tem base catequética, evangélica e tomista, assim não é estranho ao Brasil a
prática política de base catequética e evangélica dos partidos políticos. “Vote
em fulano , ele é a salvação, ele vai fazer, ele vai ajudar...” . O cidadão não
precisa fazer nada, é só votar que um ilumidado fará o resto – mito do messias
salvador, do cristo. Não se discute política, só se vota. A política brasileira
é tida como uma idéia de missão – ideal tomista de evangelizar – quando é de
bom tom para fortalecer e ampliar a democracia uma participação ativa da
comunidade.
l A IDEOLOGIA
DA ESCRAVIDÃO, que tendo o tomismo como ferramenta, foi defendida e “suavisada”
pela palavra de Roma. Hoje temos inúmeros programas sociais, de entidades
civis, do governo e da Igreja – as pastorais – para a inclusão de jovens na
sociedade, no mercado de trabalho, ect... Mas não se discute que nível de
inclusão se tem na prática. O exemplo hoje do programa de costureiras na
rocinha: ensina meninas à costurar. Uma vez formadas vão costurar mais barato
para a comunidade, ou ganhar mais um “pouquinho” trabalhando numa confecção ou
para as “madames” da Barra; mas no geral continuarão morando na rocinha, com o
mesmo status de favelado. O antes escravo do senhor de engenho agora é escravo
da sociedade. Camadas baixas necessárias para manutenção do padrão de uma
minoria.
Tudo isso é pouco discutido na Escola, ou discutido e
forma equivocada, devido aos programas oficiais de ensino que excluem
discussões desse tipo.
Em resumo:
Tomismo: a idéia da cabeça, tronco e membros, cada
parte tem sua função para que o corpo possa existir e que essas funções devem
sempre permanecer imutáveis para o bem do todo – concepção de hierarquia –
conservadora.
BIBLIOGRAFIA:
Pe. FABRO, Cornélio. Introduzione a San Tommaso — La Metafisica Tomista e il Pensiero
Moderno. Ed. Edizioni Ares, Milão, Itália, 1997. Pags. 123, 130, 133, 134 e
135. Revista Catolicismo, janeiro 2002.
MORSE, Richarde M . O Espelho de Próspero, Cultura e Idéias nas Américas. Tradução:
Paulo Neves. Ed. Companhia das Letras. Pags. 21 – 60.
Curso de Teoria das Ideologias, Departamento de
Sociologia da UFF, Prof. Gisálio Cerqueira, 2003/2, notas de aula.
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