CIÊNCIA COMO TEORIA
DO REAL
Fábio Souza Lima - Educador
CIÊNCIA E ARTE
Tanto a arte,
quanto a ciência, para serem entendidas completamente, nos forçam a ir além do
seu estudo apenas como cultura. É claro que ambas podem ser vistas num enfoque
cultural, porém, suas essências só poderão ser capitadas se houver um
aprofundamento no estudo de suas funções e ações no cotidiano das sociedades
contemporâneas.
Como no texto, a
dita ciência ocidental européia, está, crescentemente presente em nossas formas
de pensar e agir. Esse poder, alguns filósofos apontam, deixam até a filosofia
como contemplação e reflexão em segundo plano. No decorrer de nosso trabalho,
perceberemos que isso se deve a diferenciação evidente entre a ciência como
contemplação (antiga) e a ciência como ação sobre o mundo (moderna). Seu poder
se expande com tal força que chega, mesmo enviesado, a culturas que não tiveram
seu ‘berço’ na Grécia. O desenvolvimento de tecnologias presentes no cotidiano,
e, a necessidade de outros povos de adequação aos avanços materiais para que
não fiquem isolados e empobrecidos, decorrentes deste atraso, nos obrigam a
deixar as representações habituais do que é a ciência e procurar a resposta do
que ela realmente é nos dias atuais.
Nesta relação entre
o ocidente e oriente, talvez, esteja aí a verdadeira imposição de um estilo de
vida e pensamento a outra civilização.
A CIÊNCIA É A
TEORIA DO REAL
A explicação para
essa afirmação nos remete ao entendimento de que a ciência como teoria do real
é sempre uma expressão da modernidade, visto que a ciência antiga não se
preocupa com o processo produtivo e a ciência medieval, caracteriza-se como
européia, e por sua vez, não planetária como a moderna.
Apesar de
considerarmos a forma moderna de conhecer como revolucionária, Heidegger
destaca sua origem na essência do pensamento grego; um diálogo com pensadores
gregos e sua linguagem, que, segundo ele, ainda está para começar. É a idéia de
saber o porquê do pensamento grego em sua essência, está tão presente nos dias
de hoje, e porquê, mesmo assim, a técnica moderna é tão estranha a antiguidade
grega.
Ainda segundo o
autor, o estudo da afirmação a ciência é a teoria do real apontaria
em suas palavras um entendimento interessante para esse problema. Na ciência
moderna, o real é o vigente, ou seja, aquilo que e
percebe como realidade, concebido, percebido. O real, percebemos, é
tanto operante como operado, pois é levado a vigência, aquilo que é
acordado pelos cientistas.
Enquanto
Aristóteles chama vigência de aquilo que está em pleno vigor
de sua propriedade ou que se mantém na plenitude, na modernidade o termo ganha
conotação de capacidade inata para agir. Pensamos, hoje, vigência,
como a duração daquilo que tendo chegado a descobrir-se, assim perdura e
permanece. Para o latim, os romanos já o traduziram como operatio,
ou seja, actio. Usamos cotidianamente o termo para as leis, ao
dizer que determinada lei está ou não em vigência, ou seja, se ela está ou não
atuando.
O real moderno,
têm em sua origem moderna a indicação de certo, ou seja, aquilo que
não consegue se consolidar em uma posição de certeza e, assim, não passa de uma
mera condição de aparência ou se reduz a algo apenas mental. Vemos, portanto,
que o real ganha aí uma estabilidade que se mostra como objeto.
E mais ainda, objetividade, no que diz respeito a vigência do real.
Este é uma das especificidades da ciência moderna.
O termo teoria têm
uma diferenciação clara no ocidente moderno na antiguidade grega. Enquanto os
gregos viam na teoria um modo de viver, ou seja, de ver o
brilhar puro do vigente, um tipo de vida que se dedica a contemplação,
a modernidade percebe a teoria como um tipo de vida que se
consagra à ação e a produção. Heidegger escreve ainda que em sentido antigo,
a teoria é a visão protetora da verdade. Neste
ponto, a essência da teoria grega é transplantada para a
modernidade, então temos uma elevação do termo em cada uma de suas dimensões. A
esta essência de que fala Heidegger, estão imbuídas todas as
‘ciências modernas’, como a biologia, a química, a física...
Vita contemplativa
X Vita ativa.
REAL É O QUE SE
PODE MEDIR
A tradução alemã
e contemplatio é observação. A pergunta que nos
fazemos é se a ciência moderna pode ser observação, no sentido de
que ela busca exprimir o real.
Tanto a observação num
sentido religioso: consideração religiosa, como, observação em um
sentido de perceber uma experiência de uma vivência, escapam à idéia de ação no
mundo, característica moderna. Logo, num mundo onde a ciência é essencialmente
intervencionista, a observação não atende a necessidade de
definição da ciência moderna.
CONCLUSÃO
A ciência moderna é
a objetivação de produções. Formula-se dentro de especificações e convenções
que permitam chegar a objetivos com fins produtivos. O real é o vigente que se
expõe e destaca em sua vigência. A ciência não é, portanto, nada espontâneo e
não é nada natural. Como apontou Max Planck: Real é aquilo que se pode
medir.
BIBLIOTECA
HEIDEGGER, M. Ciência
e Pensamento do sentido. (1953) in Ensaios e. conferências, tradução de Emmanuel
Carneiro Leão, Petrópolis: Vozes, 2001.
HESSEN, J. Teoria
do conhecimento. Editor Sucessor. Coimbra, 1973.
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